Um
dos debates mais importantes para o futuro do país parece irremediavelmente
capturado pela polarização. Boa parte dos críticos e dos defensores da abertura
das escolas não consegue enxergar nuances.
Um
lado acredita que aqueles que defendem a abertura são anjos da morte que querem
colocar professores em risco para beneficiar empresas de ensino ou governos
genocidas; o outro lado acredita que os que são contra a abertura não passam de
sindicalistas acomodados que querem receber salário integral sem trabalhar.
Surpreende, entre muitos professores, a pouca consideração pelos efeitos danosos da suspensão das aulas presenciais. Não há controvérsia de que a migração para o ensino remoto na educação básica foi, de forma geral, malsucedida. Para além do déficit de aprendizagem que será muito difícil de reparar, pesquisa do C6 Bank/Datafolha mostrou que 11% dos estudantes do ensino médio e 5% dos estudantes do fundamental abandonaram a escola em 2020. Esse abandono pode se ampliar e se consolidar e terá impacto estrutural sobre a produtividade do trabalho, a desigualdade de renda e o desemprego nas próximas décadas.
Não
é razoável a posição do Sindicato dos Professores do Estado de São Paulo, que
não considera suficiente a vacinação de professores com mais de 47 anos e quer
retomar o trabalho presencial apenas quando todos estiverem vacinados. Reconhecendo
a carência de vacinas, por que professores mais jovens deveriam passar na
frente de pessoas com comorbidades ou de motoristas e cobradores de ônibus que
também desempenham ocupações essenciais, estão expostos à contaminação e estão
no Plano Nacional de Imunização?
Do
outro lado, o governo do estado de São Paulo, que não tem garantido todas as
condições sanitárias nas escolas, tem atuado agressivamente pela abertura.
Semana passada, foi flagrado manipulando as estatísticas sobre contaminação por
Covid-19 para empurrar uma abertura acelerada.
Segundo
um boletim epidemiológico da Secretaria de Educação, “a taxa de
incidência [de casos de Covid-19] notificada pelas escolas públicas e privadas
foi 33 vezes menor do que a do [resto do] Estado”. Estudo de uma rede
de pesquisadores mostrou, porém, que, na construção do índice, o
governo usou o número total de estudantes matriculados, e não aqueles que foram
efetivamente à escola, subestimando enormemente a taxa de incidência. Além
disso, o boletim deliberadamente misturou dados de estudantes e de servidores,
dissolvendo a alta taxa dos servidores nas baixas taxas dos estudantes.
O
movimento de pais “Escolas Abertas” tem incitado o desrespeito às medidas de
controle da pandemia, alegando que a prefeitura de São Paulo não tem competência
para decidir o fechamento temporário das escolas, mesmo no pico da
contaminação.
Deveríamos estar trabalhando para construir as condições de abertura assim que a taxa de contaminação arrefecesse, com salas de aula ventiladas, rodízio de turmas reduzidas e distribuição de máscaras PFF2, mas as partes do debate ficam se atacando com posições intransigentes, tornando cada vez mais difícil uma abertura segura das escolas.
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