Não
será fácil ocultar realidade no preço da comida, no ambiente e do Orçamento
As
mentiras de Jair Bolsonaro sobre a epidemia de Covid-19 até aqui foram de algum
modo toleradas por cerca de 30% do eleitorado, que considera o desempenho do
presidente “ótimo” ou “bom”. A inflação
anual da comida passou de 20%, a maior desde 2003, mas a
carestia também parece não ter abalado o ânimo daqueles 30%. Mesmo em assuntos
de vida e morte, a realidade dura não afeta o prestígio de Bolsonaro para 3 de
cada 10 brasileiros adultos ou algo assim.
Haverá em breve mais testes, o que em outro ambiente mental ou político seriam choques de realidade: inflação persistente, desastre ambiental, penúria e rolos derivados da gambiarra do Orçamento, a CPI e o meio milhão de mortos. Bolsonaro ainda vai passar com nota 30%?
A Cúpula do
Clima será o começo do teste do programa de destruição
ambiental do governo e mentiras associadas. Bolsonaro não vai conseguir enganar
o governo americano, que de resto não está sozinho nisso. Clima é um raro
assunto em que EUA e China estão em acordo razoável. Caso não tome atitude
alguma, Bolsonaro terá problemas na política mundial, com repercussões
econômicas crescentes, o que vai incomodar boa parte dos donos do dinheiro
grosso daqui.
A
alternativa é demitir Ricardo Salles, vulgo “Boiada”, e mudar a política.
Bolsonaro entraria assim em conflito com seus amigos grileiros, desmatadores,
mineradores ilegais etc. Teria também de inventar desculpa para suas falanges
fanáticas por ter cedido ao globalismo ambiental.
O
governo e o Congresso-centrão acertaram uma gambiarra no
Orçamento de 2021 (aliás, o que vale um Orçamento aprovado
depois de transcorrido 30% do ano?). Essa mumunha evita o risco de conflito
político maior e de processo imediato contra Bolsonaro. Mas mumunhas não cobrem
buracos. O governo vai cortar no osso. Já corta: ora dizima as bolsas de
pesquisa. Vai ser pior. Se não fizer a mutreta de transferir o pagamento de
certas despesas para 2022, vai paralisar alguns serviços. Talvez a maior parte
da população nem note, dado o estado de miséria ou obnubilação em que já vive.
Mas a gambiarra e seus efeitos vão ficar evidentes para quem tem o luxo de
poder prestar atenção no buraco em que o país vai se enfiando cada vez mais.
A
inflação da comida anda em torno de 19% por ano desde o trimestre final de
2020. Ou seja, quem receber o auxílio emergencial, já reduzido, ainda por cima
perdeu um quinto do poder de compra em alimentos, em um ano. Além do mais,
milhões não receberão ajuda alguma e a recuperação do emprego (muito bico) vai
ser retardada pelo afundamento da economia pelo menos em março e abril.
Bolsonaro
não é responsável por boa parte dessa carestia, mas ajudou a piorar a coisa,
pois a baderna de seu governo mantém o dólar nas alturas. O atraso do pagamento
do auxílio emergencial e o fato de que ainda não foram renovados os auxílios de
emprego e para pequenas empresas, no entanto, são resultados da incompetência e
da negligência de Paulo Guedes e do presidente. Para os dois, a epidemia estava
“no finzinho”, em fins de 2020.
Há uma chance nada desprezível de a epidemia refluir bem a partir de julho, se a zona infecta que é o Brasil não produzir alguma nova variante assassina do vírus. Haverá dezenas de milhões de pessoas com sequelas da Covid, da educação arruinada e da miséria ampliada. Pode bem ser que os 30% não se importem com isso também. Até lá, pelo menos, a mentira perversa e lunática que é Bolsonaro vai passar por testes.
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