Presidente
é visto com desconfiança porque se orgulha de sua agenda antiambiental
Numa
tarde de quarta-feira, Jair Bolsonaro enviou ao
americano Joe Biden uma carta em que o Brasil se comprometia a
acabar com o desmatamento ilegal até 2030. À noite, a Polícia Federal acusou o
ministro do Meio Ambiente de dificultar uma operação contra a extração ilegal
de madeira na Amazônia. No dia seguinte, o delegado que fez aquela investigação
foi demitido.
Bolsonaro tenta convencer o mundo de que tem algum apreço pela preservação ambiental. Enquanto isso, ele mantém dentro de casa seu projeto para facilitar a devastação. O presidente pode até levar à Cúpula de Líderes sobre o Clima um discurso para tentar amenizar sua imagem de vilão internacional, mas o que se pode esperar é uma conversa para uma boiada inteira dormir.
O
governo brasileiro é visto com desconfiança porque sempre se orgulhou de sua
agenda antiambiental. Na campanha de 2018, Bolsonaro estudava subordinar o
Ministério do Meio Ambiente ao Ministério da Agricultura, dizia a empresários
que era preciso "vencer
os problemas ambientais" e prometia afrouxar fiscalizações
para acabar com uma tal "indústria da multa".
O
Bolsonaro que agora deve apresentar compromissos genéricos para conter a
devastação é o mesmo que já disse ser impossível acabar com o desmatamento
ilegal. "É cultural", teorizou, quando a Amazônia queimava. Em seu
discurso na ONU no ano passado, o presidente mentiu ao fazer propaganda de uma
suposta "política de tolerância zero com o crime ambiental" em seu
governo.
Às
vésperas do encontro do clima, o governo faz questão de manter a reputação. Nas
últimas semanas, o ministro Ricardo Salles defendeu madeireiros e dificultou a
aplicação de multas ambientais em ações de fiscalização. Nesta
quarta (21), ele tirou a tarde para bater boca com a cantora Anitta nas redes
sociais.
Bolsonaro se sentiu protegido enquanto Donald Trump esteve no poder e aceitou cultivar a fama de pária global. O jogo mudou, mas o presidente continuará a ser esse pária.
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