Por
Mônica Scaramuzzo e André Guilherme Vieira / Valor Econômico
Kassab
considera Luiza Trajano, dona do Magazine Luiza, e o presidente do Senado,
Rodrigo Pacheco (DEM-MG), “bons nomes” como potenciais candidatos da terceira
via à Presidência. “São hoje os dois nomes que são as grandes novidades que
estão sendo levados em consideração”, afirma. “Dos que estão sendo ventilados
como novidades do centro, eles devem ser observados”, diz.
“Quando
surgiu o nome da Luiza Trajano, ela rapidamente ocupou esse espaço [como
possível candidata de centro] e ela é qualificada mesmo, embora negue essa
intenção [de concorrer]”, afirma o ex-prefeito. “O presidente do Senado, mais
recentemente, com a visibilidade que está tendo, também ocupou espaço e é visto
como bom nome”.
Kassab
diz que “faz tempo” que não fala com Luiza Trajano e que não conversou de forma
assertiva com Pacheco sobre eventual candidatura dele - apesar de deixar nas
entrelinhas que o tema está sendo debatido nos bastidores.
“Não, até porque ele tem dito que não é candidato. Mas quando uma pessoa tem um cargo público de relevância, chefe de Poder, e se surge uma convicção generalizada de que é o melhor nome, uma pessoa como ele não tem o direito de falar não mediante um chamamento. Mas, nesse momento, eu respeito a sua vontade”.
Indagado
se o PSD pode ter um projeto político comum com Pacheco, Kassab despista. “Isso
não está em discussão, o partido já tem seis nomes [de pré-candidatos]
colocados e a nossa postura é um pouco diferente dos outros partidos, porque
nós vamos ter um candidato a presidente”.
Para
Kassab, o quadro atual sugere que, sendo Luiz Inácio Lula da Silva o candidato
do PT a presidente, a tendência é que o petista dispute a segunda etapa do
pleito com um adversário do centro. “O governo federal vai ter de se esforçar
para mudar essa visão majoritária do país em relação ao seu desempenho, que
será, inquestionavelmente, junto com a perspectiva de novos empregos, o
principal fator de observação do eleitor”, afirma o político. “O eleitor vai
observar o que foi feito na pandemia e vai perguntar: ‘será que vou conseguir o
meu emprego de volta?’”, complementa.
“E
aí poderemos ter um segundo turno que tenha um candidato que não seja ele
[Bolsonaro] contra o Lula. Acho mais fácil ter um candidato de centro contra o
Lula do que ter um candidato de centro contra o Bolsonaro”, diz Kassab.
“Acho
muito difícil, [Bolsonaro] vai ter de trabalhar muito para reverter sua imagem.
O legado vai ser muito ruim, com [projeção de] 500 mil mortos [pelo
coronavírus]”, prevê o ex-prefeito, que foi ministro nos governos Dilma
Rousseff e Michel Temer.
“Temos
15 milhões de desempregados, cujo número indireto de pessoas atinge 60 milhões
em um universo de 140 milhões da população [ativa]”, afirma Kassab.
“Não
vou ser leviano de dizer que esse governo não se recupera, mas vai ser difícil
e é uma reversão a médio e longo prazos”, pondera o ex-prefeito paulistano.
Para
o presidente do PSD, o antipetismo que marcou a eleição presidencial de 2018
“está suavizado” e é mais provável que o eleitor manifeste uma postura
antigoverno em 2022. “O antipetismo é menor em relação a 2018 e acho que haverá
um antibolsonarismo, uma disposição antigoverno que não existiu na eleição
passada, porque o Bolsonaro ainda não era presidente”.
Sobre
João Doria (PSDB), provável pré-candidato à Presidência que se cristalizou como
antagonista de Bolsonaro com embates sobre as vacinas, Kassab considera que o
governador de São Paulo errou na comunicação e provocou um efeito indesejado na
percepção do público com o modo como explorou o sucesso do imunizante Coronavac
- que foi desenvolvido em parceria da farmacêutica chinesa Sinovac com o
Instituto Butantan, ligado ao governo paulista.
“Ele
teve muitos acertos, mas, do ponto de vista de performance, errou na
comunicação”, afirma Kassab. Houve um exagero de exposição. Se tivesse
aparecido mais o Butantan e menos a sua figura, talvez a sociedade brasileira,
exceto quem mora fora de São Paulo, tivesse uma percepção mais correta do
trabalho que ele fez na pandemia”.
O
ex-prefeito destaca que a rejeição a Doria é captada em todas as pesquisas de
intenção de voto. “É uma realidade, realmente as pesquisas mostram, e não é uma
pesquisa, são todas, que a avaliação da sociedade brasileira sobre o seu
desempenho não é boa”.
Para
ele, o apresentador Luciano Huck não decola porque ele não se definiu e Luiz
Henrique Mandetta (DEM) é muito bem preparado e focado na pandemia, mas Kassab
não sabe se o eleitor o vê como candidato. Já Ciro Gomes (PDT) tem seu nome
ligado à esquerda, embora diga que é de centro.
Kassab
considera que Sergio Moro, ex-ministro de Bolsonaro, pode ser um elemento de
influência na eleição presidencial de 2022, seja candidato ou não. O
ex-prefeito ressalta não haver movimentação do ex-juiz da Lava-Jato de se
candidatar.
“O
que eu não vejo é ele se preparar para ser candidato, ele não está em tribuna
nenhuma. A Luiza Trajano diz que não quer ser candidata, mas está posicionada,
está no movimento pelas vacinas, no movimento de mulheres empresárias. Ela está
em ação. Para se tornar candidata, é um pulo”, compara.
“O
ex-ministro Moro não está posicionado, está fora do país. Está sem motor de
arranque do ponto de vista eleitoral”, diz. “A iniciativa dele de se afastar
gera quase que uma convicção de que ele não vai participar do processo
[eleitoral]”.
Kassab
também destaca o fato de Moro não ter filiação partidária e de estar distante
do partido com o qual flertou enquanto ainda era juiz, o Podemos.
“Veja
como ele não está sendo levado em consideração: o Podemos fala abertamente que
está insistindo muito para filiar [o governador gaúcho] Eduardo Leite [PSDB]
como candidato. Então o Moro não está no radar, nem do próprio Podemos”
conclui.
Kassab considera desnecessário que a CPI da covid-19 tenha definido em seu objeto de apuração gastos dos governadores durante a pandemia da covid-19. “Acho que foi mais um jogo político, porque qualquer CPI sempre tem liberdade. Há o famoso jargão que diz que uma CPI se sabe como começa, mas não se sabe como termina, porque uma coisa vai puxando outra”.
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