Correio Braziliense
O ministro Salles (Meio
Ambiente) foi exonerado num dia de grande tensão no Palácio do Planalto, por
causa das denúncias sobre a suposta compra irregular da vacina Covaxin
O presidente Jair Bolsonaro exonerou o
ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, ontem, e nomeou para o seu lugar o
líder ruralista Joaquim Álvaro Pereira Leite. O novo ministro ocupava o cargo
de secretário da Amazônia e Serviços Ambientais da pasta, o que significa que
não haverá mudança de rumo na política de desmonte da legislação ambiental e
dos seus órgãos de controle e fiscalização. Para os ambientalistas, é mais uma
raposa tomando conta do galinheiro. Na terça-feira, em solenidade no Palácio do
Planalto, Bolsonaro elogiou o ministro: “Prezado Ricardo Salles, você faz parte
da história. O casamento da Agricultura com o Meio Ambiente foi um casamento
quase que perfeito. Parabéns, Ricardo Salles. Não é fácil ocupar seu
ministério. Por vezes, a herança fica apenas uma penca de processos.”
A queda do ministro Salles já estava contratada, desde a posse do novo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que colocou em xeque a política negacionista das mudanças climáticas e contrária à preservação da Amazônia do governo brasileiro. Salles fazia dobradinha com o ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araujo, que foi defenestrado em razão da guinada política do governo norte-americano, após a derrota do ex-presidente Donald Trump, no qual Bolsonaro se espelhava. Ambos se tornaram figuras ridículas na política internacional. Salles escandalizou a opinião pública após a divulgação de reunião ministerial, em 22 de abril do ano passado, na qual anunciou que pretendia aproveitar a pandemia de covid-19 para “ir passando a boiada” na área ambiental. Desde então, a situação de Salles tornou-se insustentável, embora tenha sido mantido no cargo pelo presidente da República até ontem.
Entretanto, a queda de Salles tem mais a ver
com o avanço das investigações de seu envolvimento na exportação milionária de
madeira extraída ilegalmente da Amazônia para os Estados Unidos. Não por acaso,
o contrabando foi denunciado pelas autoridades alfandegárias norte- americanas.
Investigado pela Polícia Federal, em inquérito autorizado pelo Supremo Tribunal
Federal (STF) a pedido da Procuradoria Geral da República (PGR), por
supostamente ter atrapalhado investigações sobre a maior apreensão de madeira
da história, o ex-ministro teme ter sua prisão decretada pelo ministro do STF
Alexandre de Moraes, que aprecia o caso. Com sua saída da pasta, Salles perde o
foro privilegiado, e o inquérito deve ir para a Justiça Federal de primeira
instância.
A PF apontou “fortes indícios” de que
Ricardo Salles participa de um esquema de contrabando de madeira ilegal. Salles
nega ter cometido irregularidades, mas teve seu sigilo bancário quebrado e
tentou impedir o acesso aos dados do seu celular, que entregou bloqueado, após
19 dias do pedido de apreensão. Ontem, ao deixar o cargo, Salles procurou se
defender das suspeitas: “Experimentei, ao longo destes dois anos e meio, muitas
contestações, tentativas de dar a essas medidas caráter de desrespeito à
legislação, o que não é verdade”, disse. Essa foi a 26a mudança na equipe
ministerial desde a posse do presidente Jair Bolsonaro.
Covaxin
O ministro Salles foi exonerado num dia de grande tensão no Palácio do
Planalto, por causa das denúncias do ex-coordenador de Insumos Estratégicos do
Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda ao Ministério Público, sobre a suposta
compra irregular da vacina indiana Covaxin. A Comissão Parlamentar de Inquérito
(CPI) do Senado que investiga a atuação do Ministério da Saúde na pandemia de
Covid-19 convidou o servidor a prestar depoimento na próxima sexta-feira, com a
presença do irmão, o deputado Luis Miranda (DEM-DF).
Tanto o servidor como o parlamentar foram
alvo de duros ataques do secretário-geral da Presidência, Onix Lorenzoni, que
negou as irregularidades, acusou o servidor e o deputado de fraude, anunciou
que o governo pretende processá-los e ameaçou de retaliação o deputado Luis
Miranda, porque ambos disseram que o presidente da República fora informado do
que se passava.
Luis Ricardo, o servidor, disse ao
Ministério Público Federal (MPF) que recebeu uma “pressão atípica” por parte de
superiores de dentro da pasta para a compra da Covaxin. O presidente da CPI da
Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM), anunciou que solicitará informações ao
diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Maiurino, para saber se o presidente
Jair Bolsonaro solicitou que a denúncia fosse investigada. A comissão também
votará a quebra de sigilo da empresa Madison Biotech, que estaria envolvida no
contrato de aquisição como fornecedora da Covaxin.
Nenhum comentário:
Postar um comentário