Folha de S. Paulo
Bolsonaro elimina Salles para abafar cheiro
de corrupção no governo
Ricardo Salles sobreviveu a
recordes de desmatamento, ao avanço do garimpo, às pressões do novo
governo americano e à crise das queimadas na Amazônia. Colheu elogios do chefe
e continuou tocando a boiada do desmonte da política ambiental. Ele só começou
a perder espaço quando apareceu no centro de suspeitas de corrupção.
O ministro era um queridinho de Jair Bolsonaro porque cumpria uma dupla função: animava as bases radicais do governo com um discurso antiesquerda e atendia aos interesses de ruralistas, garimpeiros e madeireiros. Ainda que fosse uma peça política importante, Salles se tornava um problema cada vez maior, num momento delicado.
Bolsonaro sabia há pelo menos 15 dias que
precisaria demitir o ministro. O Palácio do Planalto recebeu informações sobre
o avanço das investigações contra Salles no inquérito que apura um esquema de
exportação ilegal de madeira. O presidente percebeu que seria
impossível mantê-lo no cargo sem que o caso respingasse no centro do governo.
A corrupção é um ponto vulnerável do tecido
político bolsonarista. O presidente usa o discurso contra a roubalheira para
atacar adversários e defender um governo que não tem grandes resultados para
mostrar. Se Salles caísse de vez nas mãos da Polícia Federal enquanto estivesse
no cargo, com o apoio efusivo do chefe, a costura poderia se desmanchar.
O presidente acertou a
demissão do auxiliar e tentou se livrar desse risco no mesmo
dia em que se avolumaram suspeitas sobre a negociação para a compra de vacinas
contra a Covid-19. Um deputado governista disse ter avisado a Bolsonaro que
havia um “esquema de corrupção pesado” nos contratos
da Covaxin.
A reação do governo reflete o desespero
diante dessa história: o Planalto ameaçou o denunciante e mandou investigar o
servidor que havia alertado para os problemas do negócio. Proteger Bolsonaro
das suspeitas de corrupção desse caso passou a ser prioridade. Salles teria que
ser um problema a menos.
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