Blog do Noblat / Metrópoles
A fogueira queima em homenagem a São João e
pode esturricar o governo que se apresenta como o mais honesto da história do
país
Como os séculos, os governos nem sempre
começam ou terminam nas datas previstas no calendário gregoriano.
O século passado começou quando explodiu a
primeira guerra mundial em julho de 1914, e terminou em 26 de dezembro de 1991
com a dissolução da União Soviética.
Este século começou com o ataque terrorista
de 11 de setembro de 2001 que derrubou as torres gêmeas de Nova Iorque.
Não havia governo Bolsonaro antes da
pandemia, só um projeto de destruir o “sistema” para, mais tarde, construir
outro. Não há governo depois de mais de 500 mil mortos pelo vírus.
De certo o que há é um desgoverno que tinha
data marcada para chegar ao fim (31/12/2022), e que agora nem isso tem mais.
O senador Omar Aziz (PSD-AM), presidente da
CPI da Covid-19, comentou com amigos que o governo está desmoronando. A
conclusão parece precipitada.
Seria mais razoável dizer que o dia de ontem para o presidente acidental não terminou, e tudo indica que não terminará tão cedo.
O dia começou com Bolsonaro chamando de “pobres coitados” os que foram às ruas pedir o seu impeachment. Anoiteceu com Bolsonaro atingido por grave denúncia de corrupção.
O que se esperava de um presidente que diz
comandar o governo mais honesto da história do Brasil?
Que agisse de pronto e com rigor para
apurar uma tentativa de desvio de recursos públicos, tanto mais quando, além
dos mortos, há quase 15 milhões de desempregados e a miséria aumenta.
E o que fez Bolsonaro? Primeiro, ignorou a
denúncia. Uma vez que ela se tornou pública, mandou investigar os denunciantes.
Tinha razões de sobra para levá-los a
sério. Os irmãos Miranda são bolsonaristas de quatro costados – um, deputado
federal do DEM que apoia o governo, e o outro servidor do Ministério da Saúde.
Os dois contaram-lhe em primeira mão o que
acontecia com a compra superfaturada da vacina indiana.
Por que Bolsonaro não acionou a Polícia
Federal para que descobrisse a verdade? Por que nunca mais quis conversar com
os irmãos Miranda? Medo do quê? Raiva por que?
Miranda, o servidor, foi demitido e depois
readmitido só para calar a boca do seu irmão deputado.
À época, o general Eduardo Pazuello era o
ministro da Saúde, e disse a Miranda, o deputado, que não poderia fazer mais
nada. Estava de saída do ministério.
De fato, saiu do governo por uma porta e
entrou por outra. Pazuello e a trinca de coronéis que o auxiliavam sabiam e
sabem demais para que Bolsonaro os deixe ao desalento.
O dia que não terminou promete novas
revelações com o depoimento, hoje, à CPI, do ex-governador do Rio Wilson
Witzel.
E com os depoimentos, amanhã, dos irmãos
Miranda. O Centrão saliva com tudo isso e com o mais que vier. Bolsonaro
dependia dele para manter-se onde está.
Deixou de depender, virou refém.
Ricardo Salles foi atropelado pela boiada
que deixou passar
Elogiado num dia pelo presidente da
República, no outro o ex-ministro do Meio Ambiente foi forçado por ele a
demitir-se
O ministro mais querido do presidente Jair
Bolsonaro por cumprir seus desejos ao pé da letra, finalmente deu lugar a outro
que pensa como ele, ou melhor, como Bolsonaro quer que pense.
Na véspera, Bolsonaro havia feito uma
declaração de amor a Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente. No dia que não
terminou, Bolsonaro simplesmente o mandou embora.
Nada de original. No dia em que Fabrício
Queiroz foi preso na casa do advogado da família Bolsonaro, o presidente
demitiu o desgastado ministro Abraham Weintraub, da Educação.
Duas perdas que Bolsonaro sentirá muito.
Weintraub foi recompensado com um cargo de diretor do Banco Mundial, em
Washington. Ganha em dólar. Salles ficará ao Deus dará.
Bolsonaro antecipou-se a novas descobertas
sobre o envolvimento de Salles com contrabando de madeira nobre da Amazônia. O
inquérito foi aberto nos Estados Unidos, e só depois aqui.
O Supremo Tribunal Federal estava pronto
para ordenar que Salles se afastasse do cargo. A lama que começou a encobrir
Salles poderá respingar no próprio Bolsonaro.
Foi melhor para o ex-ministro. Assim, não
correrá mais o perigo de ser julgado pelo Supremo. Seu caso irá para a justiça
comum onde tudo é mais lento e sujeito a pressões.
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