Blog do Noblat /Metrópoles – 23/06/2021
É lugar comum dizer que CPI sabemos como
começa, mas não como termina. Pois a da Covid, ou da Pandemia, para quem
preferir, está diante do maior e mais grave escândalo de corrupção da nossa
história. Pelo valor expressivo – ao menos R$ 500 milhões – e pelo resultado
direto: a morte de milhares de brasileiros sem vacina.
Jair Bolsonaro, o líder do governo na
Câmara, Ricardo Barros, o deputado Luís Miranda (DEM-DF) e seu irmão, que
coordenava a área de importação do Ministério da Saúde, precisam explicar
rapidinho por que uma empresa atravessadora, a Precisa, receberia tal valor
para intermediar um negócio de R$ 1,6 bilhão no qual o próprio presidente se
envolveu.
Por que Jair Bolsonaro pagou R$ 80,70 por uma vacina que custava R$ 7,20? Por que Jair Bolsonaro pagou mais de 1.000% a mais do que o real valor de uma vacina que sequer havia sido testada? Por que Jair Bolsonaro interferiu junto ao primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, por uma vacina que não estava disponível e era mais cara do que outras ofertadas ao Brasil?
Por que uma empresa ligada ao líder do
governo Bolsonaro, segundo informações da imprensa, vai receber R$ 500 milhões
sem produzir uma única dose de imunizante? Por que o processo de aquisição
dessa vacina, a Covaxin, foi tão mais célere do que as demais?
Não há explicação técnica ou lícita para
vacinas como Pfizer, Janssen, AstraZeneca e Coronavac, todas mais baratas,
testadas no Brasil e comprovadamente eficazes, terem sido preteridas em favor
de um imunizante que não estava em produção, não havia sido testado e não
tinha, como ainda não tem, aprovação da Anvisa.
Se o deputado aliado do bolsonarismo Luís
Miranda alertou o presidente, como diz ter feito, e não aos órgãos de controle
e investigação, ele prevaricou. Se seu irmão não denunciou tempestivamente a
pressão para aprovar a compra da Covaxin, ele prevaricou.
O líder Ricardo Barros pressionou a Anvisa
publicamente e foi por uma emenda sua que a importação da vacina indiana teve a
importação autorizada. É preciso esclarecer essa ação entre amigos envolvendo
todas as pontas do processo de aquisição. Para quem operava rachadinhas e
outros negócios com milicianos, a vida dos outros só tem valor pecuniário.
A CPI tem de ir atrás dessa história. E
investigar se marginais agiram na pandemia para ganhar milhões enquanto
brasileiros morriam porque o governo não quis comprar vacinas sem
intermediação. Mas não apenas a CPI. A Procuradoria-Geral da República tem o
dever constitucional de agir.
O presidente da Câmara dos Deputados,
Arthur Lira (PP-AL), também. Se faltavam circunstâncias para um impeachment,
estão aí 500 milhões delas. Um conterrâneo seu Fernando Collor de Mello caiu
graças às denúncias do próprio irmão. Agora, são dois irmãos a denunciar que
Bolsonaro foi alertado sobre as suspeitas de corrupção e que as pressões vinham
de Élcio Franco, número 2 da gestão Eduardo Pazuello na Saúde.
Os serviços prestados por Pazuello a
Bolsonaro – quais? – levaram o presidente a humilhar o comando do Exército, ao
impedir que o general fosse punido pela presença num palanque político. Também
garantiu a ele um emprego na antessala de Bolsonaro.
Se assim tudo aconteceu, é, no mínimo, caso
de afastar de uma vez por todas Bolsonaro da Presidência, responsabilizar e
punir exemplarmente os demais envolvidos.
*Roberto
Freire, presidente do Cidadania
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