Blog do Noblat / Metrópoles
A tragédia do aquecimento global é
planetária, mas a política é nacional
A Europa está debaixo d’água e a América do
Norte queimando. A comunidade científica afirma que estas tragédias eram
anunciadas e resultado das mudanças climáticas, provocando aquecimentos e frios
extremos. Os prejuízos aparecem de imediato, com mortes, destruição de
propriedades, desarticulação da vida social e econômica. As consequências serão
ainda mais dramáticas nos anos que virão, com elevação do nível do mar, desagregação
da agricultura, migrações em massa. Alguns projetam inclusive uma
desorganização de toda a civilização. Mesmo assim, nada indica que a humanidade
vai conseguir evitar o desastre ecológico, apesar de visível. O problema é que
a tragédia é planetária, mas a política é nacional. Tudo indica que a
democracia nacional não será capaz de lidar com o problema ambiental. A
democracia elege seus dirigentes por eleitores individuais, prisioneiros de
interesses imediatos e locais, dificilmente os eleitores vão apoiar mudanças
nos padrões de consumo a que os ricos estão acostumados e os pobres desejosos,
nem aceitar aumentos de custos e preços.
Em uma reunião sobre mudanças climáticas, para mostrar as dificuldades políticas, o presidente Obama disse que não há presidente nem congresso do Mundo. Cada político tem de atender às necessidades imediatas de seu povo, e não as necessidades de longo prazo da humanidade inteira. Quando falou, parecia adivinhar que assinaria o acordo de Paris para enfrentar as mudanças climáticas e o seu sucessor se retiraria do acordo criado.
Depois disto, o EUA elegeu um presidente
sensível à crise ambiental, nas próximas semanas tudo indica que na Alemanha o
Partido Verde chega ao poder como partido majoritário, sobretudo depois das tempestades
destes últimos dias.
O mundo vai ter de esperar para saber se
Biden no EUA e o PV na Alemanha vão ter apoio para medidas de reorientação dos
modelos industriais em seus países.
Aqui, de maneira ainda mais dramática,
temos um governo que nega a ciência e é insensível à realidade visível da crise
ambiental, permitindo e até incentivando a queima da Amazônia.
Ainda não sabemos o que os governos
estrangeiros farão em seus países, mas o Brasil precisa saber que eles tomarão
medidas para nos impor responsabilidade ecológica. No mínimo, vão impor tarifas
para barrar produtos brasileiros, como madeira e soja, que sejam obtidos sem
respeito ao equilíbrio ecológico. Não sabemos como os governos agirão
internamente, mas eles forçarão intervenções internacionais em um mundo
interligado. Precisamos entender que a chuva na Alemanha e o fogo na Califórnia
vão nos atingir. E nada pior do que continuarmos com governo cego, que nega a
realidade.
*Cristovam Buarque foi governador, senador e ministro
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