O Globo
Com a CPI da Covid avançando e dominando o
debate nas redes sociais, começam a aparecer novos aspirantes para a vaga de
Bolsonaro
Basta que alguma luz seja jogada sobre
um político ou um homem público para ele logo ser considerado candidato a presidente
da República. Sempre foi assim no Brasil. Os exemplos mais recentes foram
Joaquim Barbosa e Sergio Moro. Os dois protagonizaram alguns dos momentos mais
turbulentos da História política nacional. Barbosa foi o ministro do Supremo
Tribunal Federal que relatou o mensalão e Moro, o juiz da Lava-Jato. O primeiro
não se deixou picar pela mosca azul, aposentou-se e virou pessoa privada. O
comportamento do segundo dispensa comentário.
Por um simples discurso, o
senador Rodrigo Pacheco chegou a ser apontado para o cargo. Ao tomar posse na
presidência do Senado, Pacheco falou como se fosse um homem livre,
independente, que não sofria influência de Bolsonaro. Não era bem assim, como
se viu logo depois, mas enganou até alguns analistas que viram no moço um nome
com potencial para 2022. Murchou em poucos meses. Alguns, como Moro e Pacheco,
entram na onda e estimulam a fofoca em torno de seus nomes. Outros, como
Barbosa, não caem na lorota histórica e seguem seu próprio roteiro. Estes
normalmente acabam sendo mais felizes.
Agora, com a Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid ocupando os principais horários de TVs e rádios, as primeiras páginas de jornais e o debate de redes sociais, começam a aparecer novos aspirantes para a vaga de Bolsonaro. Pelo menos dois já foram lançados: o presidente da CPI, Omar Aziz, e um de seus membros, o médico baiano Otto Alencar. Os dois exercem muito bem os seus papéis na CPI. Aziz foi uma boa novidade que pegou de surpresa todo o país. De repente, apareceu aos olhos da nação um homem aparentemente íntegro, falando com a linguagem popular que as pessoas das ruas entendem e apontando para o lado correto da história.
Alencar se destacou na comissão
pelos seus embates que constrangem negacionistas, tanto os que sentam na
cadeira de testemunhas ou investigados quanto os senadores governistas. Alguns
acham ele duro demais. A médica Nise Yamagushi chegou a processá-lo por se
sentir ofendida. Além destes dois, outros protagonistas da CPI também mostram
competência na condução das investigações e por isso, só por isso, já aparecem
como candidatos emergentes. É o caso dos suplentes Alessandro Vieira e Simone
Tebet. Alessandro é novato, mas opera bem por ter sido delegado. Foi chefe de polícia
em Sergipe, seu estado natal, mas acabou exonerado quando mandou prender
corruptos locais poderosos. E Simone vem dando show de competência na CPI.
Há outros que merecem
menção pelo desempenho na CPI. Randolfe Rodrigues é um excelente parlamentar,
mas não seria candidato tendo Lula na disputa, e não chega a ser cogitado. O
nome de Renan Calheiros, relator da comissão, não passa pela cabeça de ninguém,
nem na dele. Respondendo a oito inquéritos, Renan prefere ficar quieto no
Senado onde exerce seu quarto mandato, iniciado no ano passado. Do lado do
governo, Marcos Rogério e Eduardo Girão são os mais combativos. Fernando
Bezerra é o porta-voz, que lê os textos a ele encaminhados pela Casa Civil.
Jorginho Mello e o suplente Luis Carlos Heinze não contam, são piada. E Ciro
Nogueira nem aparece no plenário. Mas estes estão ali apenas para incensar
Bolsonaro e não são lembrados para nada.
A pandemia já havia lançado
outro candidato. O ex-ministro Luiz Henrique Mandetta virou sensação porque foi
demitido por fazer a coisa certa. Convenhamos, por mais elegante que ele seja,
fazer o certo é obrigação, mesmo em se tratando do governo Bolsonaro onde os
acertos são raros. Todos estes candidatos potenciais são fugazes. São estrelas
de vida curta. Muitos merecem todo o respeito dos brasileiros, outros não valem
mais do que um pequi roído. Mesmo os melhores correm o risco de se frustrar se
sentirem encantamento porque aqui e ali ouvem seus nomes soprados para a maior
função política nacional. De todo modo, nunca é demais lembrar o ensinamento de
Tancredo Neves, o brasileiro que foi presidente sem nunca ter exercido o cargo:
“Presidência é destino”. Vai que...
O país se lixa
Os mais velhos certamente se lembram do
susto, da angústia e da tristeza que a hospitalização de Tancredo Neves causou
no Brasil na véspera da sua posse na Presidência da República. O país
praticamente parou nas cinco semanas seguintes em razão das inúmeras cirurgias
que o presidente sofreu até não resistir e morrer sem tomar posse. Hoje,
com outro presidente
hospitalizado e mesmo diante de uma possível cirurgia, a
nação está se lixando para Bolsonaro.
Sem TV
Aquela facada de fato ajudou a eleger
Bolsonaro em 2018. O próprio candidato disse, ainda no hospital, que o ataque o
elegeria, talvez até no primeiro turno, exagerou. Evidentemente não foi a
facada propriamente, mas o seu uso político e a superexposição na mídia que
consolidou sua candidatura. Todas as TVs, abertas ou no cabo, passaram a transmitir ao vivo da porta do hospital até
a alta de Bolsonaro. Nenhum outro candidato teve tanta mídia no mês que
antecedeu a eleição. Foi um erro. Claro que a notícia da facada era importante,
mas a intensa cobertura seguiu mesmo com o candidato já fora de perigo. Não se
comete o mesmo erro duas vezes, mesmo que isso signifique sacrificar a
audiência.
Narcisista patológico
A imagem de Bolsonaro estendido num leito
de hospital, o torso nu, uma sonda nasogástrica enfiada no nariz, não é apenas
ridícula e politicamente abusiva, é narcisista e doentia. Retrata toda a
insegurança do presidente e reflete o medo que ele sente quando olha para o
futuro. O transtorno
de personalidade narcisista é ressaltado pela sensação
grandiosa da própria importância, da necessidade de admiração e da falta de
empatia. Trata-se de um homem invejoso, que faz qualquer coisa para evitar uma
derrota, até se expor da maneira esdrúxula que se viu. Mas, lamento, capitão,
desta vez não vai funcionar.
Pesquisa?
A última série de pesquisas do Datafolha
apresentou uma
enquete para lá de heterodoxa. O instituto perguntou aos
brasileiros se militares da ativa devem ou não participar de atos políticos. O
resultado pouco importa, o que interessa é a questão, já que todos sabem que a
participação de militares da ativa em manifestações políticas é uma
transgressão ao regulamento disciplinar. É ilegal. Seria mais ou menos como
perguntar se assassinos devem ou não ser punidos pelos crimes que cometeram.
Lulômetro invertido
O mercado reage mal a Bolsonaro. Todos os
seus gestos antidemocráticos ou escatológicos empurram o dólar para cima e a
Bolsa para baixo. Daqui a pouco, com o crescimento de Lula nas pesquisas,
poderemos ver um efeito inverso nos mercados. Seria o lulômetro de ponta-cabeça.
Para quem não se lembra, o lulômetro original foi criado pelo analista de
mercado Daniel Tenengauzer, da Goldman Sachs. Era um modelo matemático que
amarrava os índices das pesquisas ao valor do dólar. Se Lula subisse nas
pesquisas das eleições de 2002, a cotação do dólar também deveria subir.
Tenengauzer acabou desautorizado pelo seu banco, Lula ganhou a eleição e o
dólar não explodiu.
Rachadistas
Os senhores que fazem rachadinha,
embolsando parte substancial dos salários de funcionários de seus gabinetes,
como Jair e Flávio, consideram que o
dinheiro que subtraem dos contracheques dos servidores lhes
pertence. Foi o que deu para entender na declaração da ex-cunhada de Jair,
quando ela explicou como o então deputado resolveu demitir o parente que não
lhe repassava a quantia exigida: “Chega, pode tirar ele porque ele nunca me
devolve o dinheiro certo”. Estes larápios acham que “dinheiro certo” é deles,
não do contribuinte que remunera assessores para os parlamentares exercerem com
eficiência o seu mandato.
Lá também
O mau cheiro produzido por Donald Trump
durante seus quatro anos no poder ainda é bem perceptível em alguns estados de
maioria republicana nos Estados Unidos. Desde janeiro deste ano, nada menos do
que 22 projetos que tornam o voto
mais difícil foram aprovados e viraram lei em 14 estados
americanos.
Redes
Estudo da Signal Fire, uma empresa
especializada em start-ups e investimentos de risco, mostra que 50 milhões de
pessoas se consideram produtoras de conteúdo em todo o mundo. São aquelas que
conseguem monetizar, mesmo que minimamente, suas publicações nas redes sociais.
No Brasil, depois da disseminação de redes como Facebook, Instagram e Tik
Tok, todo dono de um smartphone se
julga um jornalista. Mas aí, como se sabe, não dá
dinheiro.
Da internet
Conteúdo produzido para o Facebook pelo vascaíno que se diz pecador Flávio Gomes Toledo: “Desculpe a burrice, mas a gasolina não devia estar mais barata já que não estão mais roubando a Petrobras?”.
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