sábado, 17 de julho de 2021

Vera Magalhães - A dificuldade de Bolsonaro para vetar o fundão eleitoral

O Globo

Duas versões de Jair Bolsonaro devem ser colocadas em conflito quando o presidente deixar o hospital e se aproximar o momento de tomar uma decisão: vetar ou não o fundão eleitoral de R$ 5,7 bilhões colocado pelos deputados e senadores na Lei de Dietrizes Orçamentárias.

O velho Bolsonaro, aquele que fez campanha franciscana e fez disso um diferencial, que se elegeu presidente por um partido nanico e sem tempo de TV, vetaria o maná eleitoral na hora, fazendo discurso de que tinha colocado fim à mamata e que a velha política não tinha mais vez na nova era, representada por ele.

Já o novo Jair depende umbilicalmente do Centrão para sobreviver aos pedidos de impeachment que se avolumam na gaveta de Arthur Lira e que ameaçam seu sossego até o fim do mandato, no ano que vem. Essa dependência fez com que os partidos do bloco, os mesmos que trataram de engordar o caixa financiador das eleições, ocupassem cargos em todo o governo e passassem a controlar, via emendas do relator (o Orçamento secreto), gordas fatias do dinheiro público.

Bolsonaro está sendo instado a vetar o fundão pelos seus apoiadores-raiz, aqueles incautos e estridentes seguidores das redes que acreditaram que tudo com o capitão seria diferente de antes, e estão agora acumulando choques de realidade, mas, ainda assim, seguem fiéis a ele.

Esse contingente é cada vez menor, como atestam as pesquisas de todos os institutos. O baque mais recente nesse segmento fiel foram as revelações de corrupção na compra de vacinas.

O engordamento do fundo eleitoral coincide com um momento de descontrole fiscal. Mas nem isso deve fazer com que Paulo Guedes cerre fileiras com os que pedem #vetaBolsonaro. Isso porque o ministro da Fazenda já parece ter jogado a toalha na perspectiva de conter os gastos, e está sendo pressionado pelo presidente a fazer o contrário: abrir mão do pouco de liberalismo que lhe resta no discurso e abrir as torneiras para a transferência de renda via novo Bolsa Família.

Falei com dois ministros a respeito do clamor pelo veto. Ambos apelaram ao estado de saúde do presidente para jogar a decisão para a frente, mas reconhecem que não será uma equação simples para o presidente optar por agradar a base eleitoral antipolítica ou os políticos.

Um deles chegou a dizer que o mais provável é que o presidente sancione a LDO na íntegra e diga, se cobrado, que essa decisão é do Congresso, e não cabia a ele contrariá-la, mesmo porque numa democracia as eleições precisam ser realizadas.

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