O Globo
Duas versões de Jair Bolsonaro devem ser
colocadas em conflito quando o presidente deixar o hospital e se aproximar o
momento de tomar uma decisão: vetar ou não o fundão eleitoral de R$ 5,7 bilhões
colocado pelos deputados e senadores na Lei de Dietrizes Orçamentárias.
O velho Bolsonaro, aquele que fez campanha
franciscana e fez disso um diferencial, que se elegeu presidente por um partido
nanico e sem tempo de TV, vetaria o maná eleitoral na hora, fazendo discurso de
que tinha colocado fim à mamata e que a velha política não tinha mais vez na
nova era, representada por ele.
Já o novo Jair depende umbilicalmente do Centrão para sobreviver aos pedidos de impeachment que se avolumam na gaveta de Arthur Lira e que ameaçam seu sossego até o fim do mandato, no ano que vem. Essa dependência fez com que os partidos do bloco, os mesmos que trataram de engordar o caixa financiador das eleições, ocupassem cargos em todo o governo e passassem a controlar, via emendas do relator (o Orçamento secreto), gordas fatias do dinheiro público.
Bolsonaro está sendo instado a vetar o
fundão pelos seus apoiadores-raiz, aqueles incautos e estridentes seguidores
das redes que acreditaram que tudo com o capitão seria diferente de antes, e
estão agora acumulando choques de realidade, mas, ainda assim, seguem fiéis a
ele.
Esse contingente é cada vez menor, como
atestam as pesquisas de todos os institutos. O baque mais recente nesse
segmento fiel foram as revelações de corrupção na compra de vacinas.
O engordamento do fundo eleitoral coincide
com um momento de descontrole fiscal. Mas nem isso deve fazer com que Paulo
Guedes cerre fileiras com os que pedem #vetaBolsonaro. Isso porque o ministro
da Fazenda já parece ter jogado a toalha na perspectiva de conter os gastos, e
está sendo pressionado pelo presidente a fazer o contrário: abrir mão do pouco
de liberalismo que lhe resta no discurso e abrir as torneiras para a
transferência de renda via novo Bolsa Família.
Falei com dois ministros a respeito do
clamor pelo veto. Ambos apelaram ao estado de saúde do presidente para jogar a
decisão para a frente, mas reconhecem que não será uma equação simples para o
presidente optar por agradar a base eleitoral antipolítica ou os políticos.
Um deles chegou a dizer que o mais provável é que o presidente sancione a LDO na íntegra e diga, se cobrado, que essa decisão é do Congresso, e não cabia a ele contrariá-la, mesmo porque numa democracia as eleições precisam ser realizadas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário