Folha de S. Paulo
Generosidade do presidente com aumento para
programa é proporcional ao desespero do governo
Antes da virada do ano, Jair Bolsonaro
ameaçava demitir qualquer auxiliar que falasse em aumentar o valor do Bolsa
Família. O presidente surfava na popularidade do auxílio emergencial e
considerava bobagem procurar dinheiro para reforçar o programa de socorro aos
mais pobres.
Não demorou para que ele mudasse de ideia. O fracasso continuado do governo fez com que Bolsonaro admitisse, em abril, elevar o benefício médio de R$ 192 para R$ 250. Mais tarde, o presidente já falava em R$ 270, depois em R$ 300 e, agora, anuncia que trabalha por um salto do pagamento para R$ 400 por mês.
A generosidade é proporcional ao desespero
do Planalto. A aprovação a Bolsonaro despencou na população de baixa renda: de
37% no fim do ano passado para 21%, segundo o Datafolha. Para piorar, o
presidente já enfrenta a sombra de Lula nessa fatia do eleitorado e teme os
efeitos de um cenário econômico adverso.
Bolsonaro sentiu o bafo da inflação. Na
posse de seu novo ministro da Casa Civil, o presidente destacou que a alta
do preço dos alimentos e da energia criou uma "dificuldade enorme"
para os mais pobres, citando a reformulação do Bolsa Família como prioridade.
Sem muita intimidade com o tema, ele precisou que um auxiliar soprasse o nome
que o governo quer usar para rebatizar o programa, Auxílio Brasil.
A disparada do gás de cozinha também entrou
no radar político. Na semana passada, Bolsonaro deu entrevista a um programa de
auditório e avisou que a Petrobras gastaria R$ 3 bilhões para ajudar famílias
na compra de botijões, que acumulam um aumento de 20% no ano. A estatal, no
entanto, disse que não
tomou nenhuma decisão sobre o assunto.
Com foco na reeleição, Bolsonaro não dá
bola para as resistências que pode encontrar dentro do governo. Quando sugeriu
o aumento do Bolsa Família, ele disse contar “com o coração grande de Paulo
Guedes”. O ministro é o mesmo que já reclamou da ida de empregadas domésticas à
Disney e do financiamento de filhos de porteiros na universidade.
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