Folha de S. Paulo
Bolsonaro insiste em Mendonça porque seu
futuro depende dos evangélicos
Duas semanas antes de formalizar a
indicação de seu segundo ministro para o STF, Jair Bolsonaro recebeu o
diagnóstico de que aquela era
uma escolha arriscada. A relação do governo com o Senado andava
estremecida, e havia resistências ao nome de André Mendonça até dentro da base
aliada. Mesmo assim, o presidente decidiu seguir adiante.
O que se passou depois foram quase 80 dias de humilhação. Articuladores trabalharam por semanas para destravar a votação, Mendonça fez e refez o beija-mão atrás de apoio dos senadores, e aliados chegaram a sugerir que Bolsonaro desistisse de ter um ministro terrivelmente evangélico no tribunal. Mas o presidente viu que é tarde para recuar.
O futuro político de Bolsonaro depende em larga medida do eleitor evangélico. O segmento representa 9 dos 24 pontos percentuais que o presidente marca nas pesquisas, neste que é seu pior momento. Sem resultados significativos no governo, ele insiste nessa vitória simbólica para manter o grupo a seu lado.
O caso se aproxima de uma encruzilhada. Na
terça (14), o senador Davi Alcolumbre avisou novamente ao governo que não marcaria
a sabatina de Mendonça e recomendou que a indicação dele fosse
retirada. No dia seguinte, líderes evangélicos disseram a Bolsonaro que não
abrem mão do nome. O presidente manteve seu compromisso com o grupo.
Todos os jogadores sabem que Bolsonaro não
tem força política para desistir da indicação. Alguns deles, porém, apostam que
Mendonça poderia desistir da vaga para conter o vexame. O próprio indicado tem
dito a aliados que não cogita esse caminho, ainda que pudesse poupar o
presidente de uma quebra de acordo com uma fatia crucial do eleitorado.
Líderes políticos e religiosos insistem em
exercer influência na escolha do ministro porque sabem que, sem
apoio em massa de evangélicos, Bolsonaro corre perigo de ficar fora do segundo
turno em 2022. Se Mendonça fracassar, esses grupos vão batalhar para que o nome
alternativo seja tão terrível quanto o original.
Nenhum comentário:
Postar um comentário