Ex-presidentes Fernando Henrique, Temer e Sarney pediram harmonia entre poderes e diálogo
Ivan Martínez-Vargas / O Globo
SÃO PAULO - O ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso afirmou nesta quinta-feira que o presidente Jair Bolsonaro tem
comportamentos "que não são condizentes com o futuro democrático". Em
evento virtual com a participação dos também ex-presidentes José Sarney e
Michel Temer, FH defendeu o diálogo entre os partidos e a defesa da democracia.
Os ex-mandatários evitaram, contudo, fazer
críticas nominais a Bolsonaro e não falaram sobre um eventual impeachment do
presidente.
— É chegada a hora de um toque de alerta. O
significado do nosso encontro aqui transcende o fato da reafirmação da
democracia neste momento, em que estamos vendo, não dá pra negar o fato, de que
o presidente tem arroubos que não são condizentes com o futuro democrático. Ele
não vai conseguir, nem creio que ele tenha o objetivo de consegui-lo, mas cabe
a nós (...) reavivar na memória dos brasileiros a necessidade de estarmos
juntos em defesa da liberdade e da democracia — disse Fernando Henrique
Cardoso, sem citar nominalmente Bolsonaro.
Para o ex-presidente tucano, o clima é de "relativa tranquilidade, apesar de tudo". Cardoso reafirmou declarações anteriores de que não acredita que o regime democrático esteja em perigo, apesar da retórica de Bolsonaro contra as instituições.
— Devemos reafirmar nossa crença
democrática, mas creio que isso (a democracia) não está em perigo neste
momento. (..) O povo gosta de votar. Dia de eleição no Brasil é dia de festa.
(...) Mesmo que um presidente não queira, ele vai passar, todos nós passamos —
ressaltou FH.
Em suas falas, o ex-presidente Michel Temer
não mencionou a recente carta que escreveu e Bolsonaro assinou, escrita para
distensionar a relação do presidente com o Supremo Tribunal Federal. O
documento foi divulgado dois dias após declarações golpistas de Bolsionaro
feitas no 7 de setembro.
— Temos de estabelecer uma harmonia, um
diálogo entre os poderes. (...) Se todos somos frutos da soberania popular,
prevista na Constituição, quando há desarmonia (entre os poderes), há
inconstitucionalidade — disse.
Temer criticou ainda a ideia de que
ministros do STF, por exemplo, não possam conversar com o presidente da
República.
— Eu me recordo (...) que muitas vezes
ministros do STF iam falar comigo no sábado ou domingo e a imprensa noticiava
(como se fosse) um gesto criminoso (...). É uma cultura que enseja essa
divergência entre os próprios poderes.
Já José Sarney, que governou o país entre
1985 e 1990, fez críticas ao que chamou de judicialização da política, em
referência à profusão de ações de inconstitucionalidade propostas por
parlamentares derrotados em votações no Congresso.
— Passou a ser a Justiça uma terceira via,
isso decorre de que no Brasil não temos tradição de partidos políticos — disse.
Sarney defendeu a adoção do parlamentarismo
e o fim do voto proporcional uninominal (em que o eleitor vota diretamente no
candidato a parlamentar que deseja eleger), que segundo ele provocam
instabilidade política.
O evento foi organizado por fundações e
institutos ligados aos partidos MDB, PSDB, DEM e Cidadania, e teve a
participação também dos presidentes das siglas e do ex-ministro da Defesa
Nelson Jobim.
Também discursaram o deputado federal
Baleia Rossi, presidente do MDB; Bruno Araújo, presidente do PSDB; ACM Neto,
presidente do DEM; e Roberto Freire, presidente do Cidadania. Desses, apenas
Freire disse considerar o apoio ao pedido de impeachment do presidente.
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