Folha de S. Paulo
O desafio é demonstrar que há lugar para
outra rota, capaz de seduzir eleitores
A 13 meses das eleições presidenciais,
prognósticos sobre seus resultados não passam de palpites, menos ou mais
consistentes. Nem as pesquisas servem de guia: os eleitores não estão pensando
na sucessão, nem está pronta a lista de candidatos à sua escolha. Até outubro
de 2022 muita coisa ainda deverá acontecer.
Mas vamos lá. Hoje, as sondagens mostram
que são firmes as bases de sustentação de Lula —entre
37% e 40% da população adulta, segundo a mais recente pesquisa XP-Ipesp—, bem
acima da votação de Fernando Haddad no primeiro turno de 2018. Inoxidável
também parece ser o apoio de 1/4 dos cidadãos a Bolsonaro.
Pela pura aritmética até que há lugar para uma terceira via centrista. Mas são significativos os obstáculos no meio do caminho. Aqui e agora, o espeto é a falta de um candidato pronto para ser o proverbial tertius. Não se vê quem possa convencer os que disputam o mesmo espaço a cedê-lo e, assim, definir o partido líder da coalizão das muitas e pequenas agremiações da centro-esquerda não petista ao centrão.
O desafio mais sério, porém, é o de
demonstrar que há lugar efetivo para uma terceira rota, apta a apresentar
compromissos programáticos que façam sentido para o país e seduzam os
eleitores. No Brasil, estiolado por uma quadra de estagnação, pandemia e
desgoverno, não há lugar —muito menos votos— para uma agenda pura de reformas
liberais, ainda que moderadas, como tendem a crer defensores intelectuais
daquela alternativa.
Até para que a democracia deite raiz junto
à maioria da população, a reforma social precisa estar no centro das
prioridades do governo. Não pode ser mera continuidade da generosa agenda de
inclusão dos governos petistas, bloqueada, ainda no governo Dilma, por graves
limitações fiscais que a presidente teimou em desconhecer.
Mas tampouco pode ignorar esse legado ou
desmerecê-lo como reles assistencialismo supostamente a serviço de um populismo
de esquerda. Os ganhos foram efetivos, superando em muito a melhoria na renda:
o sistema SUS foi expandido; o acesso à educação, ampliado; o alcance da rede
de energia elétrica, universalizado; ações afirmativas tornaram as elites menos
branquelas.
Difícil imaginar que uma força política
centrista, hostil à esquerda e com uma base eleitoral de centro-direita, dê
conta de atualizar a agenda social, adaptando-a às restrições fiscais, assim
como aos velhos dilemas da inclusão e aos novos desafios ambientais e do
mercado de trabalho.
Pode ser que
haja uma terceira força, mas, sem diálogo com a esquerda, não
aplainará o caminho do progresso social.
*Professora titular aposentada de ciência
política da USP e pesquisadora do Cebrap.
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