Liderando corrida eleitoral, o ex-líder estudantil Gabriel Boric deu a declaração no primeiro debate entre os candidatos à Presidência, cuja votação ocorrerá em novembro
Da AFP / O Globo
SANTIAGO — O candidato presidencial de
esquerda Gabriel Boric, que lidera as pesquisas a dois meses das eleições
presidenciais chilenas de 21 de novembro, prometeu nesta quarta-feira que, se
eleito, levará o presidente Sebastián Piñera à Justiça pela repressão aos
protestos de 2019, no que foram as maiores manifestações da História do país.
— O senhor Piñera está avisado, será
processado pelas graves violações dos direitos humanos — disse o deputado e
ex-líder estudantil de 35 anos no primeiro debate entre os candidatos à
Presidência, organizado pelos canais Chilevisión e CNN Chile.
Os responsáveis pela repressão “não devem
apenas pedir desculpas, devem responder [à Justiça]”, acrescentou Boric,
afirmando que “é possível construir um novo Chile”.
Boric referiu-se aos 34 mortos nos
protestos entre 2019 e 2020, além dos 445 manifestantes que sofreram ferimentos
nos olhos devido a projéteis supostamente disparados pela polícia (35 perderam
um olho e dois ficaram cegos), segundo o Instituto Nacional de Direitos Humanos
do Chile (INDH). À época, os atos foram inicialmente motivados por um aumento
da passagem do metrô de Santiago, mas foram engrossados por demandas mais
amplas, incluindo reformas nos sistemas de aposentadoria, educação e saúde.
Cinco dos sete candidatos participaram do debate, realizado no primeiro dia de campanha, entre eles Sebastián Sichel, segundo colocado nas pesquisas, representando a coalizão de direita de Piñera.
— Quero ser o presidente das pequenas e
médias empresas — disse Sichel, um advogado de 44 anos e ex-ministro do
Desenvolvimento Social de Piñera.
A única mulher na disputa é a senadora
democrata cristã Yasna Provoste, de 51 anos, candidata pela centro-esquerda,
que dominou a política chilena após o retorno à democracia em 1990. Provoste e
Boric se manifestaram a favor da legalização do aborto, ao qual Sichel se opõe.
Atualmente, o aborto no Chile está restrito a três casos: estupro, risco
materno e inviabilidade fetal.
No debate, todos os candidatos prometeram
reformas — embora com ênfases e receitas diferentes — em saúde, educação e
Previdência, as questões que mais preocupam os chilenos. Eles também debateram
a conveniência ou não de uma quarta retirada antecipada dos fundos de pensão
privados, fórmula que o Congresso aprovou em 2020 para ajudar as famílias na
pandemia.
Os protestos de 2019 culminaram na convocação
de uma Convenção Constitucional que elaborará uma nova Constituição em
substituição à herdada da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), apontada
pelos manifestantes como uma das causas da desigualdade.
O candidato da extrema direita José Antonio
Kast e o radical esquerdista Eduardo Artés também participaram do debate.
Nas eleições de 21 de novembro, para as
quais são convocados 15 milhões de chilenos, também serão renovados o Congresso
e os 16 conselhos regionais.
Boric, que concorre por uma coalizão entre
a Frente Ampla e o Partido Comunista, lidera as preferências na corrida com
13%, seguido por Sichel (11%) e Provoste (6%), de acordo com uma pesquisa do
Centro de Estudios Publicos. A eleição presidencial no Chile prevê dois turnos,
caso nenhum candidato tenha ao menos 50% dos votos no primeiro.
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