sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Candidato de esquerda no Chile promete levar Piñera à Justiça por repressão nos protestos de 2019

Liderando corrida eleitoral, o ex-líder estudantil Gabriel Boric deu a declaração no primeiro debate entre os candidatos à Presidência, cuja votação ocorrerá em novembro

Da AFP / O Globo

SANTIAGO — O candidato presidencial de esquerda Gabriel Boric, que lidera as pesquisas a dois meses das eleições presidenciais chilenas de 21 de novembro, prometeu nesta quarta-feira que, se eleito, levará o presidente Sebastián Piñera à Justiça pela repressão aos protestos de 2019, no que foram as maiores manifestações da História do país.

— O senhor Piñera está avisado, será  processado pelas graves violações dos direitos humanos — disse o deputado e ex-líder estudantil de 35 anos no primeiro debate entre os candidatos à Presidência, organizado pelos canais Chilevisión e CNN Chile.

Os responsáveis pela repressão “não devem apenas pedir desculpas, devem responder [à Justiça]”, acrescentou Boric, afirmando que “é possível construir um novo Chile”.

Boric referiu-se aos 34 mortos nos protestos entre 2019 e 2020, além dos 445 manifestantes que sofreram ferimentos nos olhos devido a projéteis supostamente disparados pela polícia (35 perderam um olho e dois ficaram cegos), segundo o Instituto Nacional de Direitos Humanos do Chile (INDH). À época, os atos foram inicialmente motivados por um aumento da passagem do metrô de Santiago, mas foram engrossados por demandas mais amplas, incluindo reformas nos sistemas de aposentadoria, educação e saúde.

Cinco dos sete candidatos participaram do debate, realizado no primeiro dia de campanha, entre eles Sebastián Sichel, segundo colocado nas pesquisas, representando a coalizão de direita de Piñera.

— Quero ser o presidente das pequenas e médias empresas — disse Sichel, um advogado de 44 anos e ex-ministro do Desenvolvimento Social de Piñera.

A única mulher na disputa é a senadora democrata cristã Yasna Provoste, de 51 anos, candidata pela centro-esquerda, que dominou a política chilena após o retorno à democracia em 1990. Provoste e Boric se manifestaram a favor da legalização do aborto, ao qual Sichel se opõe. Atualmente, o aborto no Chile está restrito a três casos: estupro, risco materno e inviabilidade fetal.

No debate, todos os candidatos prometeram reformas — embora com ênfases e receitas diferentes — em saúde, educação e Previdência, as questões que mais preocupam os chilenos. Eles também debateram a conveniência ou não de uma quarta retirada antecipada dos fundos de pensão privados, fórmula que o Congresso aprovou em 2020 para ajudar as famílias na pandemia.

Os protestos de 2019 culminaram na convocação de uma Convenção Constitucional que elaborará uma nova Constituição em substituição à herdada da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), apontada pelos manifestantes como uma das causas da desigualdade.

O candidato da extrema direita José Antonio Kast e o radical esquerdista Eduardo Artés também participaram do debate.

Nas eleições de 21 de novembro, para as quais são convocados 15 milhões de chilenos, também serão renovados o Congresso e os 16 conselhos regionais.

Boric, que concorre por uma coalizão entre a Frente Ampla e o Partido Comunista, lidera as preferências na corrida com 13%, seguido por Sichel (11%) e Provoste (6%), de acordo com uma pesquisa do Centro de Estudios Publicos. A eleição presidencial no Chile prevê dois turnos, caso nenhum candidato tenha ao menos 50% dos votos no primeiro.

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