Ex-presidente acredita que PSDB deve participar de atos contra o governo convocados por oposição
Gustavo Schmitt / O Globo
SÃO PAULO — O ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso entende que o PSDB deve participar das manifestações dos
partidos de oposição contra o governo do presidente Jair Bolsonaro. A
declaração difere da postura de líderes tucanos que têm sinalizado que existe
resistência interna a adesão aos atos junto com o PT, entre outras siglas.
Embora o PSDB nacional tenha decidido
recentemente que será oposição ao governo, há contrariedade nas bancadas de
deputados e senadores do partido, já que muitos parlamentares são de estados
ruralistas e sofrem pressão de eleitorado conservador e evangélico.
— Não importa quem convoque. Havendo uma
convocação que seja possível de participar, dizer o que pensa é bom — afirma o
ex-presidente em entrevista ao GLOBO.
A participação nos protestos contra Bolsonaro foi definida em reunião de partidos de esquerda como PT, PSOL, PCdoB, PDT e PV, além de outros de centro, como Cidadania, Rede e Solidariedade. A Central Única dos Trabalhadores (CUT) também deve marcar presença.
Frente ampla
Para o líder tucano, ainda que haja
discordâncias entre as siglas, é possível criar uma frente ampla de partidos
contra Bolsonaro. Mesmo que haja a participação do PT não é impeditivo na visão
de Fernando Henrique.
— É bom que se crie uma frente ampla. Que
haja diversidade de opiniões, mas que sejam todas a favor da democracia. Eu não
discrimino (o PT). O PT não é intrinsicamente contra a democracia. Nunca foi. O
governo do PT muitas vezes dava a sensação de (ser). Mas não há um sentimento
genuíno do PT de ser contra a diversidade de opiniões — disse Fernando
Henrique.
Embora o ex-presidente avalie que o governo
Bolsonaro ameace a democracia em atos de raiz golpista, como no dia 7 de
setembro, ele não vê risco de ruptura institucional.
— Mesmo que ele (Bolsonaro) queira é
difícil dar golpe no Brasil. Não conheço Bolsonaro, nunca o vi na vida, nem
desejo. Mas acho que tem uma mentalidade simplista. Mesmo que tenha essa ideia
não vai conseguir. Se não tiver um programa que contemple a maioria da
população é difícil que a coisa avance — concluiu.
Alcance nacional
Sobre as prévias presidenciais do PSDB para
as eleições de 2022, o ex-presidente afirma que o candidato indicado pela
legenda para a corrida pelo Palácio do Planalto terá condições de vencer as
eleições se tiver capacidade de unir o país e nacionalizar seu nome. Até agora,
a disputa interna está afunilada entre os governadores João Doria (SP) e
Eduardo Leite (RS). Os demais candidatos como o senador Tasso Jereissati e o
ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio não têm feito campanha.
— Para ser presidente da República tem que
ter alcance nacional. Se tiver capacidade de somar, esse que tem a capacidade
de ganhar — complementou.
O ex-presidente admite sua proximidade com
Doria, mas avalia que Leite também está credenciado. Recentemente, o paulista
divulgou um vídeo em que o ex-presidente lhe declara apoio.
— Eu vou apoiar quem tiver maior capacidade
de agregar opinião nacional. Se o Leite tiver mais que o Doria, vai o Leite. Se
o Doria tiver mais que o Leite, vai o Doria. E pode ter um terceiro ainda —
disse Fernando Henrique. — O Leite é bom. Mas eu conheço mais o Doria. Tenho
uma relação pessoal com o Doria. E ele tem demonstrado. Ele é democrático. E o
Leite também parece ter capacidade de governar. Eu fui presidente. Sei como é
isso. Quem quiser impor uma particularidade não vai conseguir. Não vai ter apoio.
Precisa transitar melhor na diversidade brasileira. Se for capaz disso, vai ter
o meu voto — concluiu.
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