O Estado de S. Paulo
A
manifestação marca o descontentamento de boa parte da população, mas ficou
aquém do potencial do antibolsonarismo. Sem ser gigante, não se configurou num
marco na direção do impeachment. Vetos múltiplos, e a incompreensão de que se
luta uma luta por vez, normalmente, somam zero.
A ausência de lideranças capazes de fechar feridas comprometeu o potencial do protesto e gerou desconfortos com o resultado. O grito retumbante do antibolsonarismo, hoje maior força política do País, ainda não foi dado.
Fragmentado
em interesses eleitorais e por tais ressentimentos, o antibolsonarismo perde
oportunidade de exercer pressão sobre o Congresso Nacional e sinalizar para as
Forças Armadas. Ao dividir-se em manifestações dispersas, fica menor. A
oposição passa a se resumir em esperar a próxima manifestação.
O
processo de impeachment – do qual brasileiros são especialistas – é gradativo,
mas requer saltos. Sempre carecerá do estrondoso rugido das ruas. Não foi desta
vez; Bolsonaro se acalma e o Centrão sorri.
Se é
certo crer que um golpe no Brasil não teria dia seguinte, é conveniente
considerar que desatinos não se prendem a cálculos racionais. No Brasil, a
esperança ainda é equilibrista e sabe que a democracia anda “na corda bamba de
sombrinha”.
*Cientista político e professor do Insper
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