O Globo
Como se já não tivesse muita coisa com que
lidar no seu dia a dia, o brasileiro se vê no meio de um turbilhão político.
No dia 7 de setembro, muita gente saiu às
ruas em apoio ao presidente Jair Bolsonaro e às suas pautas contra o STF e a esquerda.
De outro lado, foi organizada uma
manifestação pedindo o impeachment do nosso chefe de Estado. Mano Ferreira,
diretor de comunicação da associação Livres, afirma que Bolsonaro gabaritou a
lei de crime de responsabilidade e que precisa sair do cargo para o bem do
país.
É preciso deixar claro, neste primeiro momento, que os fundamentos sobre os quais foram construídos os dois movimentos estão cobertos pela liberdade de expressão. O próprio STF já se posicionou a esse respeito, quando do julgamento da Marcha da Maconha.
Ainda que eu não concorde com as pautas
defendidas no 7 de Setembro, não posso criminalizar as manifestações populares
ocorridas. Isso quer dizer que todo mundo pode dizer o que bem entender? Não
sem consequências. O presidente Bolsonaro cometeu, pelo menos, mais dois crimes
de responsabilidade: (i) a violação ao livre exercício do Poder Judiciário; e
(ii) o descumprimento de decisões judiciais.
Como falei na minha primeira coluna aqui,
para cargos de autoridades, a liberdade de expressão é limitada por sua própria
natureza.
Mas, como John Stuart Mill dizia, os
problemas gerados pela liberdade apenas são resolvidos com a presença de mais
liberdade ainda. Então não é cerceando o direito de manifestação alheio que
solucionaremos o problema do apoio ao presidente, mas sim ampliando o debate.
Nesse sentido, a pauta da organização da
oposição se mostra eficaz. A população pobre está sofrendo demais com a
inflação altíssima, principalmente sobre os preços dos alimentos da cesta
básica, levando as pessoas a pedir osso e gordura no açougue para não morrer de
fome. A crise hídrica já bate às nossas portas. Sem falar na forma como o
governo federal se omitiu durante a pandemia.
Ao contrário de 2013, quando não era apenas
por causa dos R$ 0,20, mas contra tudo que estava aí. A oposição quer um
impeachment em 2021, e a maioria das pessoas quer, para 2022, uma alternativa
fora dos extremos e da polarização, a fim de que haja um governo sério e
equilibrado, que tenha compromisso com seu povo.
Infelizmente, não sabemos exatamente o que
essas movimentações relevantes no cenário nacional poderão produzir nos
próximos meses. Mas precisamos de união para fazer o país voltar a caminhar, de
projetos concretos, democráticos e dentro dos parâmetros constitucionais.
O grande desafio é ver como construir
pontes dentro de um quadro aparentemente irreconciliável, em que os incentivos
da lógica das redes tendem a gerar mais extremismo e menos empatia com as
diversas realidades alheias.
Apesar de a foto parecer ruim, chego a ter
uma visão otimista do nosso futuro. Já fomos capazes de superar crises muito
maiores, e tenho o desejo e a certeza de que passaremos neste teste
institucional de nossa democracia também.
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