O Globo
A foto mais impressionante do 7 de Setembro
golpista não foi a da mirrada multidão na Paulista — os 125 mil tiozinhos são
um dízimo perto dos 3 milhões da Parada Gay de 2019. Longe dali, na Praia de
Copacabana, o mais chocante registro trazia o inefável Fabrício Queiroz tirando
selfies com fãs.
Selfies com Queiroz!
A degradação dos militantes forjados nas
redes sociais aos poucos constitui seu panteão agônico, numa galeria com Sara
Giromini, Roberto Jefferson e Daniel Silveira. E, agora, o acovardado Zé
Trovão.
Em comum entre eles, as grades e as
tornozeleiras. Com exceção do Queiroz, todos covardemente abandonados pelo Bozo
no campo de batalha. Um general não deixa seus soldados ao léu. Para a turma
alimentada via Pix (até Alexandre de Moraes interromper o fluxo), não ocorreu
que acendem vela para um prosaico capitão reformado — antes um tenente que
planejou ato terrorista.
Obnubilados pelos tuítes, assombrados pela sintaxe bozofrênica, mesmo sendo abatidos como moscas, ainda não se deram conta de ter amarrado seus burros a um tremendo pé-frio. Soubesse distinguir o dedo mindinho do polegar, ou mesmo altura de comprimento, uma dedicada militante como a zureta da Carla Zambelli logo identificaria o Capitão Urucubaca.
Aqui não se trata de fake news ou de
destruição de reputação. Primeiro, porque existem fatos (serão enumerados a
seguir); depois, no caso em tela, nunca houve reputação, mas tão somente uma
folha corrida.
Para ajudar na compreensão, e não sermos
acusados de má-fé, vale um passeio na História até outro ser igualmente
flambado pela má sorte e falta de compostura. Também dono de uma aparência
ridícula.
O governo do marechal Hermes da Fonseca foi
marcado pelo despotismo e pela incrível conjunção de fatos adversos. Chamado de
Dudu pelos cariocas, suas desventuras alimentavam as conversas dos botequins e
alegravam os cartunistas. Como ministro da Guerra de Afonso Pena, teve uma
altercação violenta com o presidente, que morreria mês mais tarde.
Basta dizer que começou sua gestão sob a
Revolução Mexicana e a terminou sob a Primeira Guerra Mundial. Pouco depois de
sua posse, foi recepcionado em Lisboa pelo rei Dom Manuel II. Naquele noite,
entre um brinde e outro, o monarca português soube ter sido destronado. Dudu
ofereceu-lhe abrigo no encouraçado São Paulo. Mais esperto do que Zé Trovão, o
soberano preferiu exilar-se em Gibraltar.
De volta ao Brasil, enfrentaria uma
sucessão brutal de revoltas — da Chibata (liderada pelo Almirante Negro), de
Juazeiro (derrotado pelo Padre Cícero) e do Contestado (quando as tropas rebeldes,
lideradas por uma garota de 15 anos, humilharam o Exército). Também na economia
era um infeliz — durante seu governo, o Ciclo da Borracha experimentou declínio
com a oferta asiática de um produto mais barato.
Ficou ainda famoso por tomar um empréstimo
(dois milhões e quatrocentas mil libras) do Lloyds Bank e depositar a quantia
numa instituição russa. Banco e valores foram encampados pela Revolução
Bolchevique.
Viúvo, o marechal casou-se com a cartunista
Nair de Teffé. Foi a primeira vez que a caricatura juntava-se com a
caricaturista. ( Aconteceria de novo, no Brasil, quando Chico Anysio
apaixonou-se pela ministra Zélia Cardoso de Mello: no caso, um comediante
casava-se com a piada). Reza a lenda que a polícia proibiu os jornais de dar
qualquer palpite no burro no jogo do bicho (então liberado). Entendiam ser uma
referência ao presidente.
Já fora do governo, Hermes e Nair passeavam
de charrete quando caíram num buraco. Ela quebrou a bacia e o fêmur. Passou a
mancar.
E o Bozo? Quase não é um relato, mas um
prontuário.
Pulou de paraquedas e chocou-se contra um
prédio na Avenida das Américas. Caiu de uma altura de oito metros. Quebrou
braços e pernas.
Em campanha, tomou uma facada.
Logo ao assumir, ocorreu a tragédia de
Brumadinho. Centenas de pessoas morreram soterradas pela lama.
Passa a ser aconselhado por Mala(faia).
Tomou um tombo no banheiro do palácio,
necessitou de ajuda médica.
Wal do Açaí não é eleita.
Em março de 2020, o Brasil entrou na
pandemia de Covid-19. Até o momento, morreram quase 590 mil pessoas.
Com seu afamado histórico de atleta, no ano
passado teve de retirar um cálculo da bexiga. Logo depois, contraiu Covid-19.
O filho Zero Um compra mansão de R$ 6
milhões.
Em julho passado, ficou internado por
vários dias com soluço e prisão de ventre.
No dia 9 de setembro, amedrontado, assina
uma carta de desculpas. Não conhece metade das palavras ali escritas.
Ainda tem pesadelos com o surfista
dinamarquês.
Espera-se para breve o racionamento de
água. Ah, a inflação bateu em 10%.
Em resumo, o marechal Hermes era mais sortudo.
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