Muitos
apoiadores acham que o STF deve ser fechado porque querem prender os filhos do
presidente; outros pensam que devem combater o comunismo, mas sequer sabem o
significado da palavra.
“Insulto não é argumento. Ofensa não é
Coragem. A incivilidade é uma derrota do espírito. A falta de compostura nos
envergonha perante o mundo”, ressaltou Luís Roberto Barroso, presidente
do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
“É crime de responsabilidade”, bradou o
presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, contra o que poderia
parecer mais uma arruaça.
Deu errado! Amanheceu o dia seguinte (08 de
setembro) e Bolsonaro pediu novamente socorro ao ex-presidente Temer, que lá
chegando – em Brasília – ‘arrolhou’, como diria o matuto. Com sua retórica de
jurista e constitucionalista, Temer enquadrou Bolsonaro, que acabou assinando
uma carta por muitos vista como de rendição, de recuo, como forma de tentar
afastar a ameaça de impeachment que ganhou ainda mais força com os
acontecimentos de 7 de Setembro.
Conta a história que em 1999 Bolsonaro já
havia se socorrido da ajuda de Temer, então presidente da Câmara, para evitar
sua cassação quando defendeu publicamente o fuzilamento do presidente Fernando
Henrique Cardoso, o que revela a existência de um documento com retratação
anterior a este, também escrito pelo próprio Temer.
“Nunca tive nenhuma intenção de agredir
quaisquer dos Poderes. A harmonia entre eles não é vontade minha, mas
determinação constitucional que todos, sem exceção, devem respeitar”, assinou
Bolsonaro em sua Declaração à Nação.
Ninguém
acreditou. Nem seus apoiadores, nem a maioria da população já cansada dos
insultos diários. Pareceu mais uma crise de pânico… medo do impeachment…
Estamos na semana da ressaca… uma coisa
parecida com o que deveria ser o que restou do juízo final. Afinal de contas,
vivenciamos um mês de ameaças e convocação, pelo presidente da República, para
o que seria o ajuste de contas com o STF e com o comunismo, mas são várias as
interpretações diferentes, expressadas pelos convocados.
Muitos apoiadores acham que o STF deve ser fechado porque querem prender os filhos do presidente; outros pensam que devem combater o comunismo, mas sequer sabem o significado da palavra.
Uns acham que estavam fazendo uma
revolução; outros consideram que STF e Comunismo são a mesma coisa, porque há
muita perseguição aos aliados e à família do presidente, sem considerar que se
encontram engavetados na mesa do presidente da Câmara dos Deputados mais de 100
pedidos de impeachment contra o mandato do presidente Bolsonaro.
A Esplanada dos Ministérios, em Brasília, e
a Avenida Paulista, em São Paulo, se encheram de pessoas que vieram em
caravanas de vários lugares do país, sobretudo dos estados onde residem parte
dos 25% que ainda apoiam o presidente e seu governo. E vivem em melhores
patamares na escala social.
Dos que vieram, foi possível perceber
setores do agronegócio, do empresariado, ruralistas, alguns comprometidos com
os crimes de grilagem e desmatamento de terras que deveriam ser preservadas,
outros embalados pelos sons das bravatas, dos insultos, músicas que embalam
sobretudo os ouvidos dos que sonham em viver num país negacionista e supremacia
racial.
Muitas faixas e cartazes exigindo o
fechamento do STF e a cassação dos ministros, o estado de sítio, a intervenção
militar, estavam escritos em inglês. Refletiam atitudes e ideias importadas de
outro país.
Nenhuma
menção aos nossos problemas como desemprego, fome, inflação crescente, situação
em que se encontra a educação de crianças e jovens, violência, grilagem de
terras, desmatamento, a morte de quase 600 mil pessoas por Covid-19, destruição
das políticas públicas, crise energética, preços do gás de cozinha, gasolina e
muitos outros.
Parece que o governo já acabou…
Ao final do Dia da Independência, tudo
pareceu um teatro, com uma peça monumental ao ar livre em dois atos, Brasília e
São Paulo, cujos atores, em caravanas, hospedados em hotéis, com cachês em
gasolina (R$ 7,00 o litro para quem fosse de carro) ou notas de 100,00 para os
figurantes que transitaram em ônibus, custeados com dinheiro público, ou seja,
dinheiro pago por brasileiros, através do impostos.
Ao final, o protagonista arrependido…
Na Esplanada dos Ministérios, uma pequena
multidão com sentimentos difusos… uns que já se imaginavam em um país em estado
de sítio, outros que queriam permanecer no processo revolucionário, com os
caminhões instalados no eixo monumental da esplanada, e, logo assustados com o
áudio do presidente conclamando a todos a voltarem para suas casas porque a encenação
da peça havia terminado.
Porém, a ‘meia volta volver’ do presidente
causou um burburinho entre sua base de apoio, sobretudo naqueles que
permaneciam nas ruas e nas estradas em estado ‘revolucionário’.
O mito havia sucumbido ao medo do
impeachment… Segundo alguns pensadores, “o impeachment seria a saída mais
razoável e mais econômica. Mais razoável por razões óbvias. Mais econômica
porque ficar ainda um ano e tanto sob o atual desgoverno aumenta o custo Brasil
que é, hoje, sinônimo de custo Bolsonaro”.
Não podemos desprezar, sendo pertinente
relembrar os mal feitos dos quais se alimenta o presidente na sua trajetória de
vida pública, desde a sua passagem pelo Exército “quando estava na ativa como
capitão do Exército brasileiro e foi implicado em vários itens do regulamento
disciplinar, chegando a ser indicado como réu em processo que tramitou na
justiça militar”. (Revista da Sociedade Militar)
No parlamento, fez muitas peripécia, sendo
o único deputado a votar contra o Fundo de Combate à Pobreza, de onde viria o
dinheiro para o Bolsa Família. Propôs o fechamento do Congresso Nacional, sendo
alvo de repreensão por parte da mesa diretora Defendeu sempre as propostas
carregadas de preconceitos, contrárias aos direitos humanos, em defesa dos
torturadores da ditadura militar. Desrespeitou seus pares, sobretudo as
mulheres, nunca negou suas posições homofóbicas face aos direitos humanos.
(Anotações colhidas no Centro de documentação da FGV)
O registro final da Declaração à Nação
pressupõe o apoio do povo, mais uma inverdade… “Finalmente, quero registrar e agradecer o
extraordinário apoio do povo brasileiro, com quem alinho meus princípios e
valores, e conduzo os destinos do nosso Brasil.”
Quem acredita? Vamos esperar a próxima
ópera!
*Mirtes Cordeiro é pedagoga
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