segunda-feira, 13 de setembro de 2021

Mirtes Cordeiro* - Meia volta, volver!

 

Falou & Disse

Muitos apoiadores acham que o STF deve ser fechado porque querem prender os filhos do presidente; outros pensam que devem combater o comunismo, mas sequer sabem o significado da palavra.

“Insulto não é argumento. Ofensa não é Coragem. A incivilidade é uma derrota do espírito. A falta de compostura nos envergonha perante o mundo”, ressaltou Luís Roberto  Barroso, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

“É crime de responsabilidade”, bradou o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, contra o que poderia parecer mais uma arruaça.

Deu errado! Amanheceu o dia seguinte (08 de setembro) e Bolsonaro pediu novamente socorro ao ex-presidente Temer, que lá chegando – em Brasília – ‘arrolhou’, como diria o matuto. Com sua retórica de jurista e constitucionalista, Temer enquadrou Bolsonaro, que acabou assinando uma carta por muitos vista como de rendição, de recuo, como forma de tentar afastar a ameaça de impeachment que ganhou ainda mais força com os acontecimentos de 7 de Setembro.

Conta a história que em 1999 Bolsonaro já havia se socorrido da ajuda de Temer, então presidente da Câmara, para evitar sua cassação quando defendeu publicamente o fuzilamento do presidente Fernando Henrique Cardoso, o que revela a existência de um documento com retratação anterior a este, também escrito pelo próprio Temer.

“Nunca tive nenhuma intenção de agredir quaisquer dos Poderes. A harmonia entre eles não é vontade minha, mas determinação constitucional que todos, sem exceção, devem respeitar”, assinou Bolsonaro em sua Declaração à Nação.

Ninguém acreditou. Nem seus apoiadores, nem a maioria da população já cansada dos insultos diários. Pareceu mais uma crise de pânico… medo do impeachment…

Estamos na semana da ressaca… uma coisa parecida com o que deveria ser o que restou do juízo final. Afinal de contas, vivenciamos um mês de ameaças e convocação, pelo presidente da República, para o que seria o ajuste de contas com o STF e com o comunismo, mas são várias as interpretações diferentes, expressadas pelos convocados.

Muitos apoiadores acham que o STF deve ser fechado porque querem prender os filhos do presidente; outros pensam que devem combater o comunismo, mas sequer sabem o significado da palavra.

Uns acham que estavam fazendo uma revolução; outros consideram que STF e Comunismo são a mesma coisa, porque há muita perseguição aos aliados e à família do presidente, sem considerar que se encontram engavetados na mesa do presidente da Câmara dos Deputados mais de 100 pedidos de impeachment contra o mandato do presidente Bolsonaro.

A Esplanada dos Ministérios, em Brasília, e a Avenida Paulista, em São Paulo, se encheram de pessoas que vieram em caravanas de vários lugares do país, sobretudo dos estados onde residem parte dos 25% que ainda apoiam o presidente e seu governo. E vivem em melhores patamares na escala social.

Dos que vieram, foi possível perceber setores do agronegócio, do empresariado, ruralistas, alguns comprometidos com os crimes de grilagem e desmatamento de terras que deveriam ser preservadas, outros embalados pelos sons das bravatas, dos insultos, músicas que embalam sobretudo os ouvidos dos que sonham em viver num país negacionista e supremacia racial.

Muitas faixas e cartazes exigindo o fechamento do STF e a cassação dos ministros, o estado de sítio, a intervenção militar, estavam escritos em inglês. Refletiam atitudes e ideias importadas de outro país.

Nenhuma menção aos nossos problemas como desemprego, fome, inflação crescente, situação em que se encontra a educação de crianças e jovens, violência, grilagem de terras, desmatamento, a morte de quase 600 mil pessoas por Covid-19, destruição das políticas públicas, crise energética, preços do gás de cozinha, gasolina e muitos outros.

Parece que o governo já acabou…

Ao final do Dia da Independência, tudo pareceu um teatro, com uma peça monumental ao ar livre em dois atos, Brasília e São Paulo, cujos atores, em caravanas, hospedados em hotéis, com cachês em gasolina (R$ 7,00 o litro para quem fosse de carro) ou notas de 100,00 para os figurantes que transitaram em ônibus, custeados com dinheiro público, ou seja, dinheiro pago por brasileiros, através do impostos.

Ao final, o protagonista arrependido…

Na Esplanada dos Ministérios, uma pequena multidão com sentimentos difusos… uns que já se imaginavam em um país em estado de sítio, outros que queriam permanecer no processo revolucionário, com os caminhões instalados no eixo monumental da esplanada, e, logo assustados com o áudio do presidente conclamando a todos a voltarem para suas casas porque a encenação da peça havia terminado.

Porém, a ‘meia volta volver’ do presidente causou um burburinho entre sua base de apoio, sobretudo naqueles que permaneciam nas ruas e nas estradas em estado ‘revolucionário’.

O mito havia sucumbido ao medo do impeachment… Segundo alguns pensadores, “o impeachment seria a saída mais razoável e mais econômica. Mais razoável por razões óbvias. Mais econômica porque ficar ainda um ano e tanto sob o atual desgoverno aumenta o custo Brasil que é, hoje, sinônimo de custo Bolsonaro”.

Não podemos desprezar, sendo pertinente relembrar os mal feitos dos quais se alimenta o presidente na sua trajetória de vida pública, desde a sua passagem pelo Exército “quando estava na ativa como capitão do Exército brasileiro e foi implicado em vários itens do regulamento disciplinar, chegando a ser indicado como réu em processo que tramitou na justiça militar”. (Revista da Sociedade Militar)

No parlamento, fez muitas peripécia, sendo o único deputado a votar contra o Fundo de Combate à Pobreza, de onde viria o dinheiro para o Bolsa Família. Propôs o fechamento do Congresso Nacional, sendo alvo de repreensão por parte da mesa diretora Defendeu sempre as propostas carregadas de preconceitos, contrárias aos direitos humanos, em defesa dos torturadores da ditadura militar. Desrespeitou seus pares, sobretudo as mulheres, nunca negou suas posições homofóbicas face aos direitos humanos. (Anotações colhidas no Centro de documentação da FGV)

O registro final da Declaração à Nação pressupõe o apoio do povo, mais uma inverdade… “Finalmente, quero registrar e agradecer o extraordinário apoio do povo brasileiro, com quem alinho meus princípios e valores, e conduzo os destinos do nosso Brasil.”

Quem acredita? Vamos esperar a próxima ópera!

*Mirtes Cordeiro é pedagoga

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