Deputado diz que o PSDB deve lutar pela ‘sobrevivência’ e negociar em prol da terceira via
Lauriberto Pompeu, Felipe Frazão / O Estado de S. Paulo
Principal opositor do governador de São Paulo, João Doria, no PSDB, o deputado Aécio Neves (MG) avalia que seu partido deve buscar a sobrevivência política e focar na eleição de uma boa bancada no Congresso Nacional em 2022, em vez de apostar em uma candidatura presidencial que não decole. “Mesmo que o PSDB não vença essas eleições, nós temos de sobreviver enquanto um partido sólido no Congresso”, disse Aécio ao Estadão, após a vitória do rival nas prévias para ser candidato ao Palácio do Planalto. Na entrevista, Aécio afirmou que a “bola” agora está com Doria. “Cabe agora demonstrar que nós estávamos errados e construir em torno de si uma grande aliança”, afirmou Aécio, para quem o partido deve também estudar alianças com outros nomes, como Rodrigo Pacheco (PSD), Ciro Gomes (PDT) e Sergio Moro (Podemos).
Abaixo, os principais trechos da entrevista.
Qual será seu papel na campanha presidencial
de 2022 no PSDB?
Não sei ainda como vai ficar o quadro, tem
muita água para rolar debaixo dessa ponte. Se Doria vai ou não se viabilizar, o
tempo é que vai dizer. Eu acho que esse quadro ainda está muito incerto.
Alardearam durante a campanha: “o Aécio quer bolsonarizar o PSDB”. Nada disso,
eu não apoiei o Bolsonaro na campanha presidencial quando ele era o “mito”, ao
contrário de muitos tucanos.
O sr. vai sair do partido?
De forma alguma, estou construindo o PSDB há mais de 30 anos. Essa é uma etapa da vida do PSDB, já passei por várias outras. Eu vou sempre atuar no sentido de que o PSDB possa liderar um projeto de País.
Desde 2018, o PSDB vem perdendo tamanho e
protagonismo eleitoral. Vê chances de isso mudar em 2022?
Se nós formos para o isolamento, e eu
espero que esse não seja nosso caminho, isso reflete inclusive na nossa
presença nas assembleias, na nossa presença congressual. Mesmo que o PSDB não
vença essas eleições, nós temos de sobreviver enquanto um partido sólido no
Congresso. Se prevalecer essa polarização, ela vai chegar a um exaurimento,
fadiga, cansaço. Eu espero que o PSDB possa, a partir dessas eleições, retomar
um papel mais central no Congresso Nacional, e isso passa por uma candidatura
razoavelmente competitiva. Como eu disse, a bola está com o governador de São
Paulo.
O que acha da saída de Geraldo Alckmin do
PSDB e sobre ele ter admitido considerar ser vice de Lula?
A trincheira tem de ser dentro do PSDB,
lamento inclusive que o governador Geraldo Alckmin não tenha escolhido o campo
do PSDB para fazer o seu projeto. Acho contraditória uma aliança com o PT, nós
combatemos o PT a vida inteira, tanto ele quanto eu e muitos outros. Não porque
não gostamos do Lula, o Lula é uma grande figura, um cara bacana para sentar e
tomar uma cachaça. Eu tive uma ótima relação com ele durante oito anos, mas o
PT faz muito mal ao Brasil.
Moro pode ser o candidato da terceira via?
Eu acho que ele poderia prestar uma
contribuição à transparência, que ele prega com muita força na sua campanha. Eu
acho que ele é um candidato que o PSDB tem de estar dialogando também, até para
que nós possamos conhecer um pouco melhor. Podia fazer um gesto, que seria,
acho, muito bem visto: pedir para que se tornem públicas todas aquelas
gravações que foram feitas com os delegados, com os procuradores da República,
muitas delas estão ainda em segredo, não foram divulgadas. São aquelas que o
presidente Lula conseguiu com o ministro Lewandowski autorização para acessar.
Moro está se mostrando, em algumas
sondagens, um candidato com solidez, mas pela atuação na Lava Jato, isso não
dificulta alianças políticas?
No meu caso pessoal, estou muito tranquilo
porque todos os inquéritos que foram abertos de forma irresponsável, em uma
ação política, foram arquivados por iniciativa do próprio Ministério Público.
Porque a Lava Jato teve acertos, eu reconheço, mas teve exageros, equívocos
muito grandes, e sou vítima de alguns desses equívocos. O dano da imagem
política fica, mas a gente tem de conviver com isso.
Existe uma terceira via sem o PSDB?
Eu acho muito difícil. Como eu disse, o PSDB tem um projeto de País. Por mais que tenha problemas, o PSDB inspira nas pessoas sentimentos de que inclusive existe um rumo, um programa claro na questão econômica, de responsabilidade, liberal na condução da economia, nas relações internacionais, as questões sociais. Acho que o PSDB ajuda na identidade da terceira via, por isso sempre torci para que o PSDB liderasse a terceira via. A candidatura do Eduardo (Leite) era isso, era a possibilidade real dessa liderança. Agora, o governador Doria tem todo tempo para provar que nós estamos errados e ele vai ter de dizer o que quer do PSDB, se ele quer o PSDB mobilizado, unido. Nós não vamos criar dificuldade.
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