O Globo
O maior banco central do mundo alterou a
avaliação que fazia da inflação. O Fed suprimiu a palavra “temporária” com que
definia a inflação e avisou que no ano que vem vai acelerar a retirada dos
estímulos e começar a subir os juros. Haverá pelo menos três altas nas taxas.
Isso piora muito o cenário para a economia brasileira, que já está enfrentando
dificuldades com um governo que tem perdido apoio político, após três anos de
desastrada condução do país. Ontem o Banco Central brasileiro anunciou que
pelos seus cálculos a economia encolheu 0,4% em outubro, na véspera o IBGE
avisou que o setor de serviços caiu 1,2%.
A economia será um dos grandes temas da eleição do ano que vem, e ela não vai nada bem. Os indicadores mostram que o país continua estagnado, sem capacidade de voltar a crescer. Há uma sequência de números negativos até outubro: a indústria cai há seis meses seguidos, o comércio, há três, e os serviços, há dois. A renda teve uma queda histórica. Após dois trimestres com o PIB no vermelho, o que é uma recessão técnica, o país pode novamente ter uma contração no último trimestre deste ano. O efeito da mudança da política monetária americana sobre um país com problemas fiscais como o Brasil é o enfraquecimento da sua moeda. Por isso, o dólar ontem rompeu novamente a casa de R$ 5,70.
A popularidade de Bolsonaro caiu fortemente
pela última pesquisa Ipec. Os riscos fiscais devem aumentar, diante disso,
porque ele tomará decisões cada vez mais populistas para tentar reverter o
quadro adverso. Só nessa trapalhada da PEC dos precatórios o governo abalou a
credibilidade de três âncoras fiscais de uma vez: mudou a regra do teto de
gastos, institucionalizou o calote no pagamento de dívidas judiciais e abriu
uma brecha na Lei de Responsabilidade Fiscal ao criar despesa permanente sem
compensação de receita. E tudo isso para acabar com o Bolsa Família, criado
pelo ex-presidente Lula, que está isolado na dianteira em todas as pesquisas. O
governo criou no lugar o Auxílio Brasil, que é confuso e improvisado. Mas dado
que o Congresso deu a Bolsonaro o que ele queria, agora o presidente quer
aumentar os salários dos policiais federais. E, claro, o Ministério da Economia
já pediu uma reserva de dinheiro no Orçamento para atender ao presidente.
O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, lembra que até houve uma
agenda positiva no ano, com mudanças como a independência do Banco Central e a
aprovação do marco do saneamento. Mas os efeitos positivos dessas reformas
foram anulados pela queda dos pilares fiscais, na macroeconomia.
— O avanço micro se perde no meio da
instabilidade macroeconômica que o próprio governo construiu. A política fiscal
foi o pior do ano. A quebra da regra do teto matou qualquer coisa positiva para
2021 — explicou Vale.
O ano legislativo termina com mais uma
demonstração de fraqueza de Bolsonaro, que foi a vitória do senador Antonio
Anastasia para o TCU. A derrota do governo foi dupla. O então líder, Fernando
Bezerra, teve sete votos, porque o filho 01, senador Flávio Bolsonaro,
articulou para a senadora Katia Abreu, levando-a até para falar com o
presidente. Mas, com tudo isso, Katia teve 19 votos. Bezerra, o que ficava
vermelho e alterado na CPI para defender o indefensável Bolsonaro, entregou o cargo
de líder. Já o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, articulou o tempo todo
por Anastasia e foi dormir vitorioso. O que essas cenas de plenário mostram é
como o governo está fraco.
A pesquisa do Ipec é extraordinariamente
favorável ao ex-presidente Lula. Se a eleição fosse hoje ele ganharia no
primeiro turno. Mas há um longo caminho até outubro de 2022. O que impressiona
os pesquisadores é o fato de que mesmo com listas de candidatos diferentes o
quadro permanece o mesmo.
A economia não tem apenas números
negativos, ou sinais que o mercado financeiro considera ruins. Para a população
também ela é concretamente desfavorável. O desconforto econômico provocado pela
inflação em dois dígitos, estagnação do crescimento e alto desemprego vai
continuar se refletindo na péssima avaliação do desempenho do presidente.
E é fato. Tudo o que houve de negativo foi
piorado por causa do governo. A pandemia, a recessão e a pressão inflacionária
externa poderiam ter sido atenuadas se a administração Bolsonaro não fosse o pior
dos complicadores que os brasileiros enfrentam nestes três longos anos.
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