O Estado de S. Paulo.
Nem sempre as pessoas estão dispostas a
ouvir verdades duras. Dario III, rei da Pérsia (século 4º antes de Cristo),
exasperado quando soube que seu exército fora derrotado por Alexandre, mandou
matar o mensageiro que lhe trouxe a notícia. Não deve ter sido o primeiro nem o
último a ter esse procedimento.
Mesmo sem serem maiorais do mundo, alguns
leitores dizem que não gostam de comentários sobre crises. Um deles chegou a
mandar mensagem em que dizia que chega de notícia ruim. Em vez de apontar os
males do Brasil e do mundo, por que não mostrar o lado cheio do copo ou, então,
em vez de criticar o governo, por que não cada qual fazer o que pode, como
proporcionar alguma ajuda aos necessitados e contribuições para a Legião da Boa
Vontade?
A função de um analista – além de
reconhecer acertos – é apontar os equívocos ou omissões das políticas públicas;
não é acender um fósforo em vez de reclamar da escuridão.
De mais a mais, não são apenas os críticos que mostram as feridas. O Banco Central, que é instituição de Estado, na sua última ata do Copom, apontou enormes distorções da economia brasileira.
A economia mundial não está mais ajudando.
Bancos centrais de economias importantes estão para tomar decisões que tornarão
“as condições financeiras mais desafiadoras para as economias emergentes”.
E nem se pode dizer que a covid-19 foi
derrotada, porque a variante Ômicron está se espalhando com rapidez, o que pode
exigir novas restrições que conterão a atividade econômica e aumentarão o
desemprego. E há “a questão imobiliária da China”, ou seja, há as consequências
da quebra da Evergrande.
No Brasil, o crescimento econômico está
decepcionando. E nesta quarta-feira, o Índice da Atividade Econômica do Banco
Central (IBC-BR), cuja função é antecipar a trajetória do PIB, mostrou que a
produção em outubro, primeiro mês do quarto trimestre, caiu 0,40% (veja
gráfico).
A inflação, aponta a ata, segue elevada e
disseminada. E tem a questão fiscal. Nessa matéria, prefere ser mais comedido,
supostamente para não provocar os responsáveis. Em vez de disparar que a
desorganização das contas públicas traz insegurança, prefere dizer que
“questionamentos em relação ao arcabouço fiscal elevam o risco de desancoragem
das expectativas de inflação”. E lamenta “o esmorecimento no esforço de
reformas estruturais”.
O Banco Central não conta com a ajuda do
governo e faz o que está a seu alcance: puxa pelos juros. Se fosse um carro de
corrida, controlaria apenas o aerofólio e não o motor; nem os freios nem os
pneus.
Não há como discordar desse mensageiro. Não
só passa a mensagem cabível, mas, também, cumpre a função de advertir que as
condições da economia não são nada boas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário