Folha de S. Paulo
Ministro insinua que reação autoritária ao
STF é uma carta que está sempre na mesa Bolsonaro
No escurinho do Planalto, o golpismo
continua em alta. Conselheiro presidencial e crítico contumaz do STF, o general
Augusto Heleno reeditou a
avaliação de que a corte tenta "esticar a corda até
arrebentar" e insinuou que uma reação autoritária ao tribunal é uma carta
que está sempre na mesa de Jair Bolsonaro.
"Eu tenho que tomar dois Lexotan na
veia por dia para não levar o presidente a tomar uma atitude mais drástica em
relação às atitudes que são tomadas por esse STF", disse o ministro na
formatura de um curso para agentes da Abin, na última terça-feira (14). A fala
do general foi divulgada pelo site Metrópoles.
Heleno é um personagem recorrente nos sonhos antidemocráticos dos bolsonaristas. Em 2020, ele publicou uma nota em que ameaçava o STF com "consequências imprevisíveis" caso o tribunal determinasse a apreensão do celular do presidente. General da reserva, ele empresta uma coloração militar aos planos autoritários do chefe.
Na conversa com os agentes da Abin, o
ministro jogou lenha no radicalismo político de Bolsonaro e seus aliados.
"Um atentado ao presidente da República bem-sucedido modifica totalmente a
história do Brasil", afirmou. "Tenho uma preocupação muito grande com
esse 2022."
Não se deve ignorar perigos nem baixar a
guarda na segurança de um presidente, mas o risco à vida do governante é a
desculpa favorita de autocratas interessados em tomar medidas fora dos limites
da lei.
O próprio Bolsonaro voltou a explorar, nos
últimos dias, a expectativa de conflitos políticos e institucionais. Nesta
quarta (15), ele criticou ministros do STF que, segundo ele, "agem contra
sua pátria" e disse que vai "tomar uma decisão" se o tribunal
rejeitar a tese que limita a
demarcação de terras indígenas.
Em outras palavras, Bolsonaro ameaçou
novamente descumprir
uma decisão judicial –ou, no mínimo, retomar o confronto direto
com o Supremo. A ruptura ainda é a principal ferramenta do presidente para
agitar sua base radical.
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