Ressurge
uma frase usada no passado pelos avós dos que hoje tramam um autoassalto ao
poder
Outro
dia, num debate sobre política na TV, escutei alguém dizer: “Aqueles que não se
lembram do passado estão condenados a repeti-lo”. Fiquei encantado —havia anos
não ouvia essa frase do filósofo George Santayana.
Não que ela tivesse deixado de valer. É que, pela quantidade de vezes em que
foi citada no século 20, era como se entrasse e saísse por conta própria dos
textos. Quando isso acontece, não há frase que aguente —o conteúdo se esgota e
fica a frase pela frase. E ela já fora abandonada.
Várias outras frases clássicas da política correm o risco de ter de pedir aposentadoria: “A história se repete primeiro como tragédia, depois como farsa” (Karl Marx). “O patriotismo é o último refúgio dos canalhas” (Samuel Johnson). “Não existe almoço grátis” (popularizada por Milton Friedman). “Tudo deve mudar para que tudo fique na mesma” (Giuseppe Tomasi di Lampedusa).
E
o que dizer dos achados dos nossos frasistas? “Política é como nuvem. Você olha
e está de um jeito. Olha de novo e já mudou” (Magalhães Pinto). “O que vale não
é o fato, mas a versão” (José Maria Alckmin). “Política é a arte de engolir
sapos” (Nereu Ramos). “Política é a arte de namorar homem” (Rubem Braga).
Seja
como for, essas citações ficaram sofisticadas demais para o que está
acontecendo hoje no Brasil. Nossa realidade se brutalizou de forma a não comportar
mais análises, só constatações —e alertas. Nunca se viu, por exemplo, uma
interferência política tão nociva e ofensiva em todos os setores da
administração. Os canais da Justiça estão sendo meticulosamente obstruídos para
dar um verniz de legalidade à fratura institucional em preparo. E há fanáticos
e sicários se armando e juntando munição para o caso de resistência. Está na
cara.
Diante disso ressurge, quem diria, uma frase muito popular no passado entre os avós dos que hoje tramam um autoassalto ao poder: “O preço da liberdade é a eterna vigilância”.
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