Bolsonarismo
e PT, tudo a ver na Lava-Jato, Moro, MP, mídia, Petrobrás, reformas e
mercados
Em
nome de um “nacionalismo” anacrônico e de uma “visão social” puramente
populista, vale tudo, até o PT apoiar
a clara intervenção que derrubou as ações da Petrobrás e a
credibilidade do Brasil mundo afora. O resultado é uma curiosa situação: o
presidente Jair
Bolsonaro corre para jurar que é o que não é, liberal,
privatizante e respeitador das estatais, enquanto petistas defendem o que
Bolsonaro realmente é, corporativista, estatizante e intervencionista. Coisas
do Brasil. Coisas da polarização.
O
“novo” Congresso aproveita o ensejo. Primeiro, a Câmara pagou pedágio,
confirmando a prisão do deputado Daniel
Silveira (PSL-RJ) determinada pelo Supremo. Depois, escancarou
as porteiras, não para as boiadas do ministro Ricardo Salles,
mas para as suas próprias boiadas. Com o enterro da
Lava Jato, sem choro da esquerda nem vela da direita, o ambiente é
bem favorável. A hora é agora!
A tal PEC da imunidade parlamentar, carimbada como PEC da impunidade, surgiu do nada, sem aviso prévio e sem passar por comissões e ritos antes de desabar direto no plenário. Seu efeito mais estridente é que deputados e senadores dificilmente poderão ser presos. Num resumo caricato, se Sua Excelência for pego, fotografado e filmado com a mão na botija, roubando dinheiro público, vai ter tempo para articular e se livrar.
Um
ministro do Supremo, digamos, Alexandre de
Moraes, não vai poder mais mandar prender em flagrante um deputado,
digamos, o bolsonarista Silveira, quando ele atacar a democracia e as
instituições e, de quebra, cometer um crime comum: ameaçar dar uma surra num
ministro da alta Corte. Qualquer decisão terá de esperar o plenário do STF e
depois a Câmara.
A
intenção, como admite o novo presidente da Câmara, Arthur Lira, é evitar que
a coisa chegue até onde chegou com Daniel Silveira – que está na cadeia – e
estabelecer que só o próprio Congresso possa autorizar cassação ou punição a
parlamentares. Deixa para o Conselho de
Ética da Câmara, aquele que devidamente cassou o mandato da
deputada Flordelis,
ré pelo assassinato do próprio marido. E para o Conselho do Senado, que
diligentemente puniu o “senador da cueca”. O quê? Não foi bem
assim?!
Na
admissibilidade da PEC da impunidade, como na defesa da intervenção na
Petrobrás, lá estavam juntos bolsonaristas e todos os outros “istas”:
emedebistas, peessedebistas, pepistas, trabalhistas e... a presidente do
PT, Gleisi
Hoffmann. Todos abraçados ao Centrão para se autoblindarem e se
tornarem mais cidadãos do que o “resto” dos cidadãos. No dia em que o Brasil
chorava a marca de 250 mil mortos na pandemia, o Congresso fazia a festa da
impunidade e o Planalto, a da aglomeração sem máscara para duas posses desimportantes.
A
polarização de 2018 parece sólida como uma rocha para 2022, mas os dois
extremos já não parecem tão opostos como pareciam em questões centrais: Lava
Jato, Sérgio Moro, Ministério Público, mídia, independência da Petrobrás,
estatização, reforma da Previdência, reforma administrativa, populismo e até os
arranjos “de bastidores” no Congresso. Ou alguém esqueceu que o PT estava com o
pé na campanha do candidato de Bolsonaro para a presidência da Câmara? E que
apoiou o candidato dele no Senado?
A
rejeição ao mercado está neste contexto. Da boca para fora, bolsonaristas e
petistas atacam; entre quatro paredes, a história é outra. Tanto nos dois
governos Lula quanto no governo Bolsonaro as relações com o grande capital, os
maiores grupos empresariais e as eternas “elites dominantes” são bem
confortáveis. Até os ataques e estranhamentos estão devidamente “precificados”,
para usar um termo do próprio mercado.
Bom 2022!
Nenhum comentário:
Postar um comentário