Em
meados de dezembro, Jair Bolsonaro disse que o Brasil vivia “um finalzinho de
pandemia”. Os números indicavam outra coisa, mas o presidente insistia em
subestimar a Covid. Dois meses e meio depois, a crise sanitária atinge seu pior
momento. Ontem o país registrou 1.582 mortes em 24 horas, um recorde desde a
chegada do vírus.
Em
um ano, já morreram mais de 250 mil brasileiros. Agora a nova explosão de casos
se soma à escassez de vacinas. O país amarga uma tragédia dentro da tragédia: o
desgoverno do Capitão Corona aumenta o poder de destruição da doença.
Bolsonaro conspirou abertamente contra a saúde pública. Estimulou aglomerações, fez campanha contra o uso de máscaras, travou a negociação de vacinas e ejetou dois médicos do ministério. Entregou a pasta a um paraquedista trapalhão, escolhido por não contestar as ordens do chefe.
Em
janeiro, o general Eduardo Pazuello deixou faltar oxigênio em Manaus. Ele havia
sido avisado com dias de antecedência, mas não se mexeu para evitar o colapso
nos hospitais. Nesta quarta, o ministério militarizado admitiu outro erro
grotesco: enviou para o Amapá vacinas destinadas ao Amazonas.
A
pane na imunização é mais um reflexo do desgoverno. O Brasil registra 10% das
mortes pela Covid em todo o mundo, mas aplicou apenas 3% das vacinas. Ontem o
Rio retomou a vacinação de idosos, que havia sido suspensa por falta de doses.
No sábado, terá que interromper a campanha pela segunda vez.
“Não
sei onde vamos parar. Se o Brasil mantiver a vacinação a conta-gotas, o número
de mortos pode ultrapassar os dois mil por dia. O país corre o risco de virar
uma grande Manaus”, alerta o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta.
Demitido
por Bolsonaro no início da pandemia, ele projeta um cenário de “desastre
anunciado” nas próximas semanas. “O sistema de saúde está se despedaçando. Quem
está no comando sabe o que é coturno, mas não sabe o que é seringa ou agulha. E
os técnicos que restaram no ministério estão morrendo de medo”, conta.
“No meio da crise, o Paulo Guedes ainda quer aprovar o fim da vinculação de recursos para a saúde. Se isso passar, será o tiro de misericórdia no SUS”, afirma Mandetta.
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