Folha de S. Paulo
E quanto a terceiros países? Existe um dever de evitar guerras?
Guerras têm implicações morais. Nos dias de
hoje, é muito difícil encontrar uma situação que justifique deflagrar
um conflito e sacrificar inocentes para alcançar um objetivo político,
mesmo que este seja legítimo. Ser arrastado para uma guerra é moralmente mais
tranquilo. A parte atacada pode alegar que só repele a agressão, o que é
totalmente aceitável.
No caso da Ucrânia, o vilão é Putin. Ainda que, pela lógica do realismo geopolítico, seu pleito de manter Kiev longe da Otan não fosse absurdo, ao ordenar a invasão, o autocrata russo perdeu qualquer filamento de razão que pudesse ter. Ninguém tem o direito de pisar no seu jardim, mas isso não lhe dá o direito de disparar um tiro contra o sujeito que pisa no seu jardim. Reações, inclusive as defensivas, precisam obedecer a um senso de proporcionalidade.
E quanto
a terceiros países? Existe um dever de evitar guerras? Penso que sim.
E isso legitima em princípio as duras sanções econômicas adotadas pela
comunidade internacional contra a Rússia. Mas também aí é preciso senso de
proporcionalidade. Se é errado expor a vida de inocentes a bombas, também é
errado sujeitá-los a privações econômicas tão extremas que possam revelar-se
fatais.
Uma coisa é sequestrar os bens de Putin e
de outros membros do governo no Ocidente, outra é privar artistas e atletas
russos (em tese inocentes) de participar de eventos artísticos e esportivos, e
uma terceira é empurrar toda a Rússia para o colapso econômico. Não estou
afirmando necessariamente que o Ocidente exagerou. Esse juízo depende de
expectativas. Se acreditamos que a enorme pressão econômica pode levar os
russos a destituir Putin ou fazê-lo retroceder, então a lógica
consequencialista autoriza essa ação. Mas, se julgamos que o regime não corre
riscos, aí fica difícil justificar que se inflija tanta miséria a tantos russos
inocentes.
Existe uma avaliação da situação de Putin?
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