O Globo
A indicação de Rodolfo Landim para comandar
o conselho da Petrobras tem sido tratada na cúpula do governo como solução de
emergência para um problema considerado grave pelo presidente da República.
Para Jair Bolsonaro, controlar o preço dos
combustíveis é questão de sobrevivência e pode fazer a diferença entre a
vitória e a derrota nas eleições deste ano.
Apesar de ter feito uma intervenção na
companhia no ano passado, trocando o presidente e quatro conselheiros,
Bolsonaro se queixa de que não conseguia conversar com a direção da empresa,
nem entender por que não é possível conter a alta nos preços dos combustíveis via
Petrobras.
Trocando em miúdos, o fuzuê não deu o resultado que Bolsonaro queria. Nem o general Silva e Luna, que se tornou presidente, nem o almirante Bacelar, que hoje preside o conselho, “resolveram o problema” dele.
A Petrobras continua seguindo a mesma
política de preços desde fevereiro de 2021. O valor médio do litro de gasolina
já subiu 33%, e o do diesel 44%.
Isso porque a principal razão do aumento é
a alta do dólar, componente central do cálculo dos preços da empresa. Apesar da
grande produção do pré-sal, a Petrobras ainda precisa importar insumos para
fabricar os combustíveis.
Se o governo quiser usar o caixa da empresa
para segurar a inflação, será preciso mexer nessa fórmula. E, para conseguir
isso, é preciso bem mais que dar uma ordem a um militar, por mais obediente que
ele seja.
Essa é a principal razão por que Bolsonaro
quer Landim no conselho. Ele acha que o executivo, que passou 26 anos na
Petrobras antes de ir para o setor privado, conhece os “atalhos” regulatórios e
de gestão que permitiriam ao governo segurar os preços e garantir a reeleição
em outubro.
A crença é compartilhada por líderes do
Centrão como Ciro Nogueira e Arthur Lira. Eles consideram que o executivo pode
abrir um “canal de interlocução livre de dogmas” com a direção da Petrobras,
como me disse um integrante do bloco que hoje manda no governo.
Bolsonaro não ignora que a nomeação é
carregada de riscos, e os mais graves nem são os processos movidos contra
Landim, como presidente do Flamengo, pelas famílias dos dez adolescentes que
morreram no incêndio do centro de treinamento do time em 2019.
O executivo está no centro de situações que
poderão criar novas crises na própria Petrobras. Uma delas é o rombo de R$ 92 milhões que um fundo gerido por duas
firmas de investimentos, incluindo a de Landim, a Mare, provocou no fundo de
pensão da petroleira.
Por causa de uma decisão tomada pelo
conselho da Petrobras em 2020, existe a possibilidade concreta de a gestora de
Landim vir a ser alvo de uma medida judicial da companhia pelo ressarcimento do
prejuízo.
Nesse caso, surgiria o constrangimento de o
conselho ter de deliberar sobre processar a empresa de seu presidente — ou até
ele próprio.
Trata-se de um clássico caso de conflito de
interesse, motivo suficiente para o veto a qualquer candidato a um cargo de
direção, segundo as regras de governança implementadas após o trauma do
petrolão.
O comitê da Petrobras que avalia o
histórico de Landim não poderá ignorar tais circunstâncias e poderá até se opor
à nomeação, desencadeando uma crise dentro da crise.
Mas há mais. Não é segredo para ninguém em
Brasília que Landim é amigo íntimo do empresário Carlos Suarez, mais conhecido
como o S da empreiteira OAS, hoje dono de companhias de distribuição de gás
natural que são clientes da Petrobras. Suarez chegou a sofrer o bloqueio de US$
15,1 milhões pelo Ministério Público suíço.
Segundo os procuradores locais, o bloqueio,
já suspenso, ocorreu porque a conta de Suarez recebeu dinheiro de uma conta
suíça de Landim, que por sua vez também já havia recebido depósitos de contas
de passagem usadas para mandar recursos a Renato Duque e Pedro Barusco,
célebres personagens do petrolão.
Aliados de Bolsonaro no Planalto dizem que
sabem da ligação com Suarez e afirmam que não permitirão que a amizade
interfira nos negócios da Petrobras. Mas, se o objetivo fosse mesmo evitar
ruídos e suspeitas, não seria mais fácil indicar outra pessoa?
Está cada vez mais nítido que, se pudesse,
o presidente da República simplesmente implodiria a governança da Petrobras —
para poder inclusive quebrá-la, se necessário fosse para se perpetuar no poder.
Isso já foi feito antes, e as consequências
não foram nada confortáveis para os políticos que estavam no comando.
Se Bolsonaro e seus aliados não colocarem
as barbas de molho, poderão até resolver o problema dos combustíveis, mas
arriscam plantar a semente de um novo petrolão.
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