Folha de S. Paulo
Primeiro deputado a perder mandato por
falta de decoro era pinto comparado aos Bolsonaros
Um dos fundadores do PTB, Barreto Pinto foi
o primeiro deputado federal cassado no Brasil por falta de decoro parlamentar,
em 1949. Baixinho, careca, com o tique nervoso de franzir os lábios ao falar,
como se estivesse segurando a dentadura, Pinto era autor de espetáculos de
teatro de revista e dono de cartório no Rio de Janeiro. Gostava de aparecer, e
isso foi sua desgraça.
Posou para a revista Diretrizes no chuveiro, para garantir que era getulista até debaixo d’água. Depois se deixou fotografar para O Cruzeiro como se fosse uma vedete: de calção na beira da praia com boia no pescoço, imerso na banheira falando ao telefone, deitado na cama encoberto por edredons de seda. Em página dupla surgiu bebendo champanhe vestido de casaca, mas sem calça. Usava cueca samba-canção. A exposição de suas canelas finas foi demais e ele perdeu o mandato.
Perto do clã Bolsonaro, Barreto Pinto é um
pinto de ingenuidade exibicionista e midiática. Quanto mais palhaço e abjeto
você se mostrar hoje nas redes sociais e dentro do Congresso —vale cusparada,
ameaça de morte com arma na mão, elogio
a torturadores e ditadores—, mais facilmente terá o caminho pavimentado
para o sucesso político. E pode esquecer a cueca: ser flagrado até com dinheiro
sujo escondido nela deixou de ser motivo para cassação.
Além dos casos de Fernando
Cury e Arthur
do Val, deputados em São Paulo, a Câmara de Vereadores do Rio determinou a
abertura de processo contra o bolsonarista Gabriel
Monteiro, ex-PM acusado de manipular vídeos e cometer abuso sexual contra
menores. A ver no que vai dar.
Ao causticar a tortura sofrida por Miriam Leitão, Eduardo Bolsonaro seguiu o figurino do pai. As redes passaram a discutir o ataque a Miriam, não o artigo dela que motivou o comentário cafajeste e apresentava o debate que de fato interessa ao país: a diferença entre os dois candidatos à Presidência que lideram as pesquisas.
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