Folha de S. Paulo
Adriano da Nóbrega era peça chave para
esclarecer crimes próximos ao clã Bolsonaro
Como uma assombração renitente, o miliciano
Adriano da Nóbrega, assassinado em fevereiro de 2020, na Bahia, com todas as
características de queima de arquivo, reaparece agora na voz de uma de suas
irmãs.
Reportagem de Italo
Nogueira, nesta Folha, revela grampos telefônicos feitos pela polícia do
Rio em que Daniela da Nóbrega afirma que o irmão, chefe do Escritório do Crime,
se considerava um "arquivo morto". E, completa ela, "já tinham
dado cargos comissionados no Planalto pela vida dele" e "fizeram uma
reunião com o nome do Adriano no Planalto".
Na distopia tropical em que assassinatos, corrupção, poder e política se misturam com espantosa naturalidade, Fabrício Queiroz, operador da rachadinha, tentou desmentir a irmã de Adriano, dizendo que ela quis se referir ao Palácio Guanabara, sede do governo do Rio de Janeiro, não ao Planalto.
Foi a mesma versão adotada em seguida por
seu amigo do peito, Bolsonaro. "Em vez de falar Palácio Laranjeiras
[também do governo do Rio], falou Palácio do Planalto", especulou. Ambos
tentam empurrar a execução de Adriano para o ex-governador Wilson Witzel.
O mais grave, porém, é que em ato falho,
Bolsonaro relacionou ele mesmo e Adriano da Nóbrega ao assassinato da vereadora
Marielle Franco, em março de 2018, sem que esse vínculo tenha sido apontado
pelos novos grampos. "Alguém me aponta um motivo que eu poderia ter pra matar
Marielle Franco?" Quatro anos depois do crime, essa é uma das muitas
perguntas ainda sem resposta.
Um ano atrás, o espectro de Adriano já
havia aparecido num documento do MP-RJ, revelado pelo The Intercept,
que o relacionava ao "cara da casa de vidro". Segundo a reportagem,
seria uma referência à fachada do Palácio da Alvorada.
O miliciano assassinado era peça chave para o esclarecimento de crimes que insistem em se aproximar do clã Bolsonaro. Não surpreende que se considerasse um homem marcado para morrer, que não tardaria a ser um "CPF cancelado".
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