O Estado de S. Paulo
Abraham Weintraub e Milton Ribeiro
embicaram nosso futuro na rota do iceberg
Em um trabalho primoroso de investigação
jornalística, Julia Affonso, André Shalders e Breno Pires, do Estadão, revelaram na
semana passada mais um escândalo no Ministério da Educação. Desta vez a
falcatrua envolvia ônibus escolares superfaturados. O mesmo trio de repórteres
já havia denunciado, dias atrás, o tráfico de influência de pastores ligados à
família Bolsonaro. A rede de propinas levou à queda do ministro da
Educação, Milton Ribeiro, e a licitação dos
ônibus foi cancelada. É o jornalismo cumprindo sua missão de fiscalizar o poder
público.
Dá muita tristeza, para não dizer revolta, que as principais notícias sobre o Ministério da Educação tenham a ver com corrupção. O Brasil tem várias experiências bem-sucedidas na área do ensino em Estados como Ceará, Pernambuco e São Paulo. “Algumas delas começam a ser reproduzidas nacionalmente”, diz Naércio Menezes, professor do Insper e entrevistado do minipodcast da semana. Tais experiências deveriam estar no centro do debate eleitoral, mas acabam obscurecidas pelos malfeitos no ministério.
A educação se beneficia, de maneira
especial, de uma área que cresce cada vez mais dentro da ciência da boa
governança: a avaliação de políticas públicas. A Editora Record acaba de lançar
um livro que mostra como isso funciona na prática: Como um governo deveria ser, do
especialista indiano Jaideep Prabhu. O título é sugestivo quando cotejado com a
realidade brasileira atual.
O livro mostra como governos fazem
diferença quando deixam a cegueira ideológica de lado, usam a melhor ciência
para desenhar as políticas públicas e escolhem nomes de peso para os cargos
estratégicos. Em meio a vários casos, a obra descreve, por exemplo, o salto que
os ingleses deram na educação ao redefinir políticas com base em avaliações
periódicas.
O Brasil tem nomes de peso na área da educação:
Priscila Cruz, Maria Alice Setúbal, Ricardo Henriques e Mozart Neves, entre
muitos outros. Suas ideias circulam em colunas e entrevistas na imprensa –
qualificar o debate público é outra das missões do jornalismo. Qualquer um
desses nomes daria um excelente ministro da Educação.
Trata-se de uma pasta nobre. Ministros da
Educação são como timoneiros do futuro, já que pelo menos dois de nossos
problemas crônicos – desigualdade alta e produtividade baixa – dependem,
fundamentalmente, da melhora de longo prazo na qualidade do ensino.
O governo preferiu confiar nossa educação a
timoneiros como Abraham Weintraub e o
recém-defenestrado Milton Ribeiro. Carentes de qualificações básicas, entre
outras coisas, eles embicaram nosso futuro na rota do iceberg.
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