EDITORIAIS
Inflação impõe desafio a BCs do mundo todo
O Globo
Além da comoção provocada pelas mortes e
explosões, os brasileiros estão sofrendo no bolso a guerra na Ucrânia. A
inflação subiu 1,62% em março, maior variação mensal do Índice Nacional de
Preços ao Consumidor Final (IPCA) desde janeiro de 2003 e maior alta em março
desde 1994, antes do Plano Real. O maior responsável é o setor de transportes,
que sofre com a alta dos combustíveis e do gás. O barril de petróleo já vinha
subindo com a retomada da economia mundial depois do arrefecimento da pandemia
e foi para as alturas com o conflito. No acumulado dos últimos 12 meses, o IPCA
está em 11,30%, com três meses consecutivos de alta depois da leve queda em
dezembro.
Uma taxa dessas costuma despertar o debate
previsível sobre os juros e nossa incúria fiscal crônica, agravada pelo ímpeto
gastador do governo Bolsonaro no ano eleitoral. É fato que a política de juros
adotada pelo Banco Central (BC) tem sido insuficiente para deter a escalada dos
preços. Mas a realidade é que bancos centrais no mundo todo estão sendo desafiados
pela resiliência dos índices inflacionários.
Ficou maior o desafio de tentar prever o que é transitório e o que pode ser tendência duradoura. A economia global passa por uma fase crítica de ajuste depois do final da pandemia, combinando pressão inflacionária e um risco crescente de recessão. A retomada de lockdowns na China, a crise de energia na Europa e a disparada no preço do petróleo contribuem para uma sensação de paralisia mundial. Economistas temem a repetição do cenário nefasto de estagflação dos anos 1970.
É consensual a percepção de que os
banqueiros centrais — no Brasil inclusive — erraram ao evitar subir os juros
antes. Acreditaram que o choque nas cadeias globais de suprimentos se
corrigiria naturalmente com o tempo e preferiram evitar frear o reaquecimento
das atividades abaladas pela pandemia, insufladas por programas de estímulo. O
resultado foi o oposto do esperado. Cadeias logísticas refeitas de modo a
evitar choques custam mais. Adicione-se a isso petróleo, energia e matérias-primas
mais caros — e está ligado o motor inflacionário.
De acordo com um levantamento do Banco
Internacional de Compensações (BIS), a inflação está acima de 5% em 58% das
economias avançadas e de 7% em 55% das emergentes. Entre os países do G20, o
Brasil só perde para Turquia, Argentina e Rússia no último dado de inflação
anual. Pelo modelo adotado pelo BC, os fatores externos foram responsáveis por
70% do estouro da meta inflacionária brasileira no ano passado. Mas, por aqui,
eles se combinam à memória do passado. A indexação continua gravada nos
contratos, e a gastança inerente ao ano eleitoral só piora a situação.
Para alguns economistas, a pandemia
transformou o ambiente inflacionário. A questão crucial diante de todas as
autoridades monetárias agora é se deixamos o mundo da inflação baixa — em que
os preços mantêm capacidade de autocorreção ao longo do tempo — para entrar
noutro de expectativas elevadas, com a nefasta retroalimentação da espiral de
salários e preços. Se estivermos no segundo cenário, pelo menos, a receita
dolorosa para derrubar as expectativas é conhecida desde o final dos anos 1970:
alta de juros combinada a austeridade fiscal. Para nossa infelicidade, o
desempenho do Brasil tem sido sempre melhor no primeiro que no segundo item.
Combate à desinformação no Facebook ainda é
incipiente
O Globo
Traz ao mesmo tempo alento e preocupação o
primeiro relatório de ameaças divulgado nesta semana pela Meta, dona das
maiores redes sociais do planeta, Facebook, Instagram e WhatsApp. Alento por
demonstrar que a empresa não está parada diante da omissão contumaz dos
reguladores para disciplinar a desinformação no ambiente digital. Preocupação
porque o Brasil aparece com destaque entre os grupos desbaratados no primeiro
trimestre, ao lado de Filipinas, Azerbaijão, Irã e das esperadas salvas de
tiros digitais entre Rússia e Ucrânia.
De acordo com o relatório, detalhado por
uma análise da consultoria independente Graphika, foram removidos 14 perfis e
nove páginas do Facebook, além de 39 contas no Instagram, envolvidas na
desinformação sobre Amazônia e meio ambiente. “Embora os usuários tenham
tentado esconder suas identidades e coordenação, nossa investigação descobriu
vínculos a indivíduos associados ao Exército Brasileiro”, afirmou a Meta em
comunicado. A conexão com os militares foi confirmada pela Graphika.
Não se sabe o nível na cadeia de comando
ocupado pelos indivíduos identificados como mentores da campanha de
desinformação. Nem é possível afirmar que estivessem motivados pelas teses
bolsonaristas a respeito da preservação ambiental. O conteúdo fraudulento que
produziam tentava isentar o governo de responsabilidade pela devastação da
Amazônia e incriminar ONGs ambientalistas como defensoras de interesses
escusos.
Mas a mesma rede e os mesmos perfis haviam
sido usados anteriormente para disseminar conteúdos críticos às políticas do
governo Bolsonaro no combate à pandemia. O caso mostra que as redes de mentiras
podem prestar serviços a qualquer causa política. O mais inquietante é que se
trata de apenas um entre tantos focos de desinformação que têm florescido neste
ano eleitoral.
Embora louvável, é evidente que a
iniciativa da Meta é insuficiente para conter os riscos da desinformação à
democracia. Não é papel de uma empresa, por mais poderosa e tecnicamente
equipada, zelar por um bem público como o ambiente democrático — nem que pelo
evidente conflito de interesse. O engajamento gerado pela desinformação fez
parte da estratégia de crescimento das redes sociais, e elas resistem como
podem a tentativas de impor um nível maior de moderação e vigilância.
Cabe às instituições e às autoridades
desenvolver um arcabouço jurídico equilibrado que garanta, ao mesmo tempo, a
liberdade de expressão intrínseca à democracia e o poder de coerção necessário
para coibir abusos. É o que faz o texto do Projeto de Liberdade, Responsabilidade
e Transparência na Internet, apelidado de PL das Fake News, cuja votação em
regime de urgência foi infelizmente negada pelos deputados brasileiros. Diante
da omissão da lei, são previsíveis os embates no Judiciário gerados pela
enxurrada de desinformação que se anuncia na campanha eleitoral. A Meta
precisará estar preparada para produzir ações e relatórios bem mais robustos.
Inflação sem trégua
Folha de S. Paulo
IPCA de março reduz confiança em melhora no
ano; mundo teme medidas recessivas
A inflação continua a desafiar qualquer
prognóstico otimista. Nem mesmo a elevação de 2% para 11,75% anuais da taxa de
juros do Banco Central em pouco mais de ano tem sido capaz de estancar o
processo até o momento.
Soube-se nesta sexta-feira (8) que a variação
do IPCA em março foi de 1,62%, o maior percentual para o mês em 28 anos e
0,3 ponto percentual acima das expectativas de analistas para o período. Em 12
meses, o índice acumula aumento de 11,3%, o que ainda configura uma aceleração
em comparação ao fechamento de 2021 (10,06%).
No mês passado verificou-se um acúmulo de
influências negativas, como a disparada dos preços dos combustíveis, resultante
da guerra na Ucrânia, e o encarecimento da alimentação em casa, que teve alta
de 3%. Neste grupo, os produtos in natura subiram 10,45% por causa de chuvas em
alguns estados.
As pressões continuam a ser generalizadas,
abarcando comida, bens duráveis, preços administrados, combustíveis e, em menor
medida, a prestação de serviços.
A medida de núcleo da inflação, que retira
itens mais voláteis e visa refletir a dinâmica mais permanente, ficou em 9,01%
nos últimos 12 meses, também uma aceleração ante o final do ano passado.
Na prática, embora se mantenha a
expectativa de que a variação do IPCA neste ano acabará por ser menor que a de
2021, a confiança nesse cenário diminuiu.
Continuam a surgir novos fatores de
elevação. O mais óbvio é a guerra, que impulsiona o preço do petróleo e ameaça
a produção agrícola pela escassez de fertilizantes. O agravamento da pandemia
na China, além disso, traz o risco de novas interrupções no fluxo de comércio
mundial, com impacto em várias cadeias de produção.
A esta altura, notícias com potencial
positivo, como o corte das tarifas de energia em razão da melhora da situação
hídrica, diluem-se como meros paliativos. Ainda não se detecta, por fim, efeito
favorável da valorização do real nos preços de artigos importados.
Para o Banco Central, fica menos claro
quando poderá ter fim a sequência de aumentos da taxa Selic. A indicação da
autoridade monetária era a de mais um incremento de 1 ponto percentual,
encerrando o ciclo com juros de 12,75% ao ano. Agora, já se coloca o risco de
um aperto ainda maior.
Não há solução fácil. Se a escalada do IPCA
no ano passado decorreu em grande medida de erros de gestão do governo Jair
Bolsonaro, hoje o fenômeno tem amplitude global, evidente com a inflação acima
dos 7% anuais nos Estados Unidos e na zona do euro.
Teme-se que os principais
bancos centrais não consigam estancar o problema sem provocar recessão —uma
tragédia para o mundo que se recupera da pandemia.
Percalços de Lula
Folha de S. Paulo
Exposição é arriscada para quem tem mais
votos a perder e se vale de ambiguidade
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
(PT) terminou o ano passado no que parecia uma posição das mais confortáveis
para a disputa pelo Planalto. Liderava com folga as pesquisas, enquanto Jair
Bolsonaro (PL) amargava a reprovação de 53% do eleitorado, a mais alta desde o
início de seu governo.
O cacique petista também já havia
encaminhado a aliança com o ex-tucano e rival Geraldo Alckmin, agora no PSB, o
que indicava um passo rumo à moderação e criava um obstáculo estratégico para
os postulantes de uma terceira via entre os dois polos da campanha.
Hoje, o cenário não se mostra mais tão
cômodo. Bolsonaro recuperou algo de sua popularidade —os que consideram sua
gestão ruim ou péssima caíram para 46%, segundo o Datafolha— e reduziu
sua distância para Lula. Ao dar sinal de vida, o mandatário mantém a seu
lado o centrão fortalecido em um novo quadro partidário.
No dia a dia, os atos e declarações do
oposicionista ganham atenção crescente à medida que se aproxima o pleito. A
exposição é mais arriscada para quem tem mais intenções de voto a perder —e
também para quem se ampara em ambiguidades no discurso e na prática.
Na semana que se encerra, o PT buscou
contatos com meios empresariais e fez saber que um ex-banqueiro, Gabriel
Galípolo, passou a integrar a equipe da pré-candidatura. Já Lula manteve a
cantilena demagógica em favor do controle dos preços dos combustíveis, além de
distribuir impropérios contra a elite e até a classe média.
O ex-presidente defendeu de forma corajosa
que o aborto seja tratado como questão de saúde pública, posição há muito
advogada por esta Folha.
Mas também deu munição aos adversários com uma bravata tola, ao exortar
militantes do sindicalismo a pressionar
parlamentares em suas casas.
Tratando-se do líder petista, seria ingênuo
imaginar que as falas não tenham sido calculadas, assim como o tom mais ameno
ao retomar
os assuntos na quinta (7). Mais uma vez, Lula vai se equilibrando entre
excitar os fiéis e acalmar os possíveis aliados de ocasião. Ora descontenta
uns, ora outros.
A velha fórmula ainda está por ser testada em um ambiente político mais tóxico e uma situação econômica mais precária que a da década retrasada —e tendo o PT um passado de feitos mas também de desmandos a explicar.
Inflação recorde e o custo da incerteza
O Estado de S. Paulo
Contra a disparada dos preços, que em março atingiu o maior índice desde 1994, resta subir os juros, o que tornará muito ruim a herança deixada para o próximo governo
A alta de preços ao consumidor chegou a
11,30% em 12 meses, mantendo o Brasil como um dos países com maior desajuste no
custo de vida. Aumentos anuais superiores a 7% têm ocorrido em poucas economias
capitalistas, embora todo o mundo tenha sido afetado, recentemente, por uma
grande onda inflacionária. Os dados de março mostram o forte impacto do custo
dos combustíveis nos preços do transporte e de alimentos, fenômeno observável
também no mercado internacional. Mas seria um erro menosprezar dois fatos: a inflação
brasileira é amplamente difusa e fora dos padrões globais há muito tempo.
Em março, houve alta de preços em oito dos
nove grupos de bens e serviços cobertos pela pesquisa mensal do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além disso, em cinco grupos a
elevação foi maior que no mês anterior. Segundo avaliação recente do Banco
Central (BC), a inflação deve continuar em alta pelo menos até abril e em
seguida arrefecer. Por enquanto, a primeira parte da previsão está sendo
confirmada. Em outras condições talvez se pudesse apostar com razoável
segurança na confirmação da segunda. Mas seria uma aposta arriscada, tanto pela
instabilidade internacional quanto pela insegurança gerada em Brasília,
principalmente no Palácio do Planalto.
Uma rara novidade positiva, na área dos
preços, tem ocorrido no mercado cambial. Com juros muito altos e ativos
baratos, o Brasil tem atraído um bom volume de investimentos financeiros.
Graças a isso, o dólar está mais barato do que na virada do ano. A cotação tem oscilado,
naturalmente, mas sem retornar aos níveis observados até há poucos meses. Ficou
para trás, pelo menos por algum tempo, o forte efeito inflacionário do câmbio.
Mas dois fatores poderão mudar esse quadro.
O câmbio poderá ser afetado pela evolução
dos juros no mundo rico, especialmente no mercado americano. Forçado a cuidar
de uma inflação muito alta, com taxa anual de 7,9% em fevereiro, o Federal
Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) poderá elevar a taxa básica
mais velozmente nos próximos meses. Se isso ocorrer, haverá sensíveis efeitos
nos fluxos internacionais de dinheiro, e o dólar poderá valorizar-se, de novo,
em relação ao real. Nesse caso, o câmbio voltará a alimentar a inflação
brasileira, encarecendo os produtos importados e, em seguida, contaminando os
demais preços.
O segundo fator é político. Dedicado à
disputa eleitoral, o presidente Jair Bolsonaro ficará ainda mais concentrado
nos objetivos pessoais e menos atento, se isso for possível, aos efeitos
econômicos de suas atitudes e de suas decisões. Quanto maior a agitação
política e quanto menor a segurança quanto aos seus desdobramentos, maior será
a incerteza nos mercados. Mais provável, portanto, será a busca de segurança
financeira no exterior, com aplicações fora do Brasil e consequentes
movimentações na cotação do dólar. O cenário é bem conhecido.
Pelo menos um fator de atração de dólares
deve permanecer nos próximos meses e, quase certamente, no próximo ano. Os
juros permanecerão, no País, bem acima dos níveis observados comumente na maior
parte do mundo capitalista. A taxa deve passar de 11,75% para 12,75% em maio,
na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), principal órgão
político do BC. O mercado tem previsto taxas menores a partir de 2023, mas
qualquer estimativa é muito insegura, diante das incertezas internacionais e,
principalmente, das condições brasileiras.
Juros altos podem ser inevitáveis, neste
ano, e benéficos no médio e no longo prazos, mas têm sido e serão um forte
entrave à atividade econômica e um custo adicional para o Tesouro. A dívida
pública brasileira já é bem maior que a de outros países de renda média, e será
parte, também, da péssima herança prevista para a próxima administração.
O novo Alckmin, o velho Lula
O Estado de S. Paulo
Líder petista e seus engodos eleitoreiros são bem conhecidos; a novidade é a adesão de Alckmin, que pautou sua bem-sucedida vida como governante em SP sendo antítese perfeita do petismo
Anunciada pela sua nova legenda, o Partido
Socialista Brasileiro (PSB), a indicação de Geraldo Alckmin para ser vice na
chapa presidencial do petista Lula da Silva oficializa um equívoco singular,
que vem causando, desde suas primeiras movimentações, imensa perplexidade entre
o eleitorado do ex-governador paulista. Com o ato, Alckmin renega toda a sua
biografia política para participar do engodo petista de que a volta de Lula ao
poder seria nada menos que a salvação da democracia.
Na vida política, é normal que haja
mudanças. Mas não é nada normal que um político abandone, de forma tão
espetacular, seu eleitorado construído ao longo de décadas. Por mais
explicações que agora queiram dar, o fato é que Alckmin sempre se colocou em
campo político-ideológico diametralmente oposto ao do PT. E verdade seja dita:
atuando dessa forma, conquistou e manteve a confiança do eleitor paulista.
Prova disso é sua longa permanência no Palácio dos Bandeirantes, sempre pelo
PSDB.
Sendo tão contraditório com sua trajetória
política, o passo que Geraldo Alckmin agora dá contribui para a desconfiança da
população na política. As dúvidas brotam abundantes. Então era esse o candidato
a presidente que, em 2006, prometia governar de forma diferente do PT, sem
corromper o Congresso com o mensalão, revelado no ano anterior? Então era esse
o candidato que, em 2018, se colocava como representante do centro democrático,
distante tanto do lulopetismo quanto do bolsonarismo? A política, a genuína
política, requer um pouco mais de constância nos princípios.
Para piorar, as novas vestes políticas de
Alckmin reforçam o embuste contra a democracia que o PT pretende impor ao
eleitor brasileiro. Depois dos anos de desgoverno e negacionismo de Jair
Bolsonaro, é preciso reconduzir o governo aos trilhos da responsabilidade e do
interesse público, mas Lula obviamente não é a solução e, menos ainda, a única
solução, como os petistas querem fazer acreditar.
Lula da Silva e Jair Bolsonaro são parte do
problema, como tão bem mostram suas propostas de intervencionismo na economia,
de irresponsabilidade fiscal, de demagogia nos preços administrados e de
enfraquecimento da autonomia das agências reguladoras. Os dois propõem o atraso
e querem que o eleitor acredite que não há alternativa a eles.
Se a preocupação de Alckmin é com a
democracia no País e com os rumos tomados pelo governo Bolsonaro, não é se
juntando a Lula da Silva que vai realizar seus propósitos. De novo, a política,
a genuína política, é mais do que simplesmente aderir a quem aparece na frente
nas pesquisas. Sucumbir ao canto do populismo é reproduzir precisamente o
percurso que tanto mal tem feito ao País – e do qual, até há pouco, se pensava
que Alckmin fosse um combativo opositor.
De forma muito concreta, o caminho da
democracia passa pela união de forças em torno de uma candidatura de centro,
responsável e comprometida com o interesse público. Certamente, não é se
aliando ao partido que produziu os maiores escândalos de corrupção da história
nacional e uma profunda crise econômica resultante de irresponsabilidade fiscal
que Alckmin contribuirá com a reconstrução do País.
“O que estará em questão nas eleições de
2022 é o confronto decisivo entre democracia e autoritarismo”, disse o
presidente do PSB, Carlos Siqueira, ao oficializar a disposição do partido de
unir-se à chapa petista. É realmente esquisito como alguns partidos se submetem
à pretensão de hegemonia petista, reforçando um discurso que nada tem de
democrático. A democracia é plural.
O PT finge que não sabe, mas quem é
democrático respeita as leis do País, não trata quem pensa diferente como
inimigo, não chama de “golpe” decisões constitucionais do Congresso e do
Judiciário, não faz aparelhamento político-ideológico do Estado, não destrói as
estatais. Tudo isso já era conhecido. A novidade é contar agora com o aplauso
de Alckmin, que pautou sua bem-sucedida vida como governante em São Paulo sendo
a antítese perfeita do petismo.
A segurança vem do campo
O Estado de S. Paulo
Safra de grãos deve crescer, apesar da estiagem, e garantir a receita de dólares necessária à segurança do setor externo
Enquanto a indústria derrapa, a agricultura
avança na produção, permanecendo como suporte mais firme da economia nacional e
principal garantia contra crises cambiais. Com exportações de US$ 10,51 bilhões
em fevereiro, o agronegócio bateu um recorde para o mês e proporcionou 45,9% da
receita comercial do País. Um ano antes havia contribuído com 38,7%. O valor
faturado com as vendas externas, 65,8% maior que o de fevereiro de 2021,
resultou tanto do aumento do preço médio dos produtos vendidos (+24,0%) quanto
do crescimento do volume embarcado (+33,7%). Como grande produtor agropecuário, o Brasil se beneficia,
comercialmente, da alta das cotações no mercado internacional. Essa alta
resultou inicialmente da recuperação das grandes economias, depois do pior
momento da pandemia, e vem sendo sustentada, recentemente, por desdobramentos
da guerra na Ucrânia.
No campo, os agricultores tentam obter
novos ganhos de produção, apesar das condições climáticas desfavoráveis em
algumas áreas muito importantes. Mesmo com perdas em lavouras de soja e milho nos Estados do Sul
e em Mato Grosso do Sul, a colheita de grãos poderá atingir, incluídas as
safras de verão e de inverno, o total de 269,3 milhões de toneladas, 5,4% mais
que na temporada 2020/2021, segundo a sétima estimativa da Companhia Nacional
de Abastecimento (Conab), vinculada ao Ministério da Agricultura. Essa
colheita, no entanto, é 6,7% inferior ao volume de 288,6 milhões de toneladas
indicado na primeira estimativa. A volta das chuvas permitiu a recuperação
parcial de algumas lavouras, sem reverter, no entanto, a perda de
produtividade.
Nova estimativa aponta produção de 122,4
milhões de toneladas de soja, com redução de 11,4% em relação à safra
precedente. No caso do milho, a produção total está prevista em 115,6 milhões
de toneladas, com ganho de 32,7% sobre a temporada anterior. Os novos cálculos
apontam aumento de 7,6% na produção de feijão, considerados todos os plantios,
com colheita esperada de 3,1 milhões de toneladas. No caso do arroz é esperado
um total de 10,5 milhões de toneladas, volume inferior ao do ano passado. O
plantio das lavouras de inverno apenas começou e as previsões incluem 7,9
milhões de toneladas de trigo, volume recorde.
Não basta, no entanto, cuidar da produção.
É preciso apoiar os agricultores prejudicados pela estiagem nos Estados de Mato
Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O Ministério da
Agricultura anunciou facilidades para os devedores do Programa Nacional de
Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). A iniciativa é relevante, mas
é preciso acompanhar a execução das medidas e garantir o acesso dos produtores
a essa ajuda.
Pode-se discutir detalhes e criticar certas
decisões, mas o Ministério da Agricultura se distingue, desde 2019, pela
continuação de uma política de desenvolvimento setorial. Mantido por décadas,
esse esforço ajudou a modernizar e a fortalecer o agronegócio, enquanto a
indústria foi abandonada.
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