sábado, 9 de abril de 2022

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

EDITORIAIS

Inflação impõe desafio a BCs do mundo todo

O Globo

Além da comoção provocada pelas mortes e explosões, os brasileiros estão sofrendo no bolso a guerra na Ucrânia. A inflação subiu 1,62% em março, maior variação mensal do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Final (IPCA) desde janeiro de 2003 e maior alta em março desde 1994, antes do Plano Real. O maior responsável é o setor de transportes, que sofre com a alta dos combustíveis e do gás. O barril de petróleo já vinha subindo com a retomada da economia mundial depois do arrefecimento da pandemia e foi para as alturas com o conflito. No acumulado dos últimos 12 meses, o IPCA está em 11,30%, com três meses consecutivos de alta depois da leve queda em dezembro.

Uma taxa dessas costuma despertar o debate previsível sobre os juros e nossa incúria fiscal crônica, agravada pelo ímpeto gastador do governo Bolsonaro no ano eleitoral. É fato que a política de juros adotada pelo Banco Central (BC) tem sido insuficiente para deter a escalada dos preços. Mas a realidade é que bancos centrais no mundo todo estão sendo desafiados pela resiliência dos índices inflacionários.

Ficou maior o desafio de tentar prever o que é transitório e o que pode ser tendência duradoura. A economia global passa por uma fase crítica de ajuste depois do final da pandemia, combinando pressão inflacionária e um risco crescente de recessão. A retomada de lockdowns na China, a crise de energia na Europa e a disparada no preço do petróleo contribuem para uma sensação de paralisia mundial. Economistas temem a repetição do cenário nefasto de estagflação dos anos 1970.

É consensual a percepção de que os banqueiros centrais — no Brasil inclusive — erraram ao evitar subir os juros antes. Acreditaram que o choque nas cadeias globais de suprimentos se corrigiria naturalmente com o tempo e preferiram evitar frear o reaquecimento das atividades abaladas pela pandemia, insufladas por programas de estímulo. O resultado foi o oposto do esperado. Cadeias logísticas refeitas de modo a evitar choques custam mais. Adicione-se a isso petróleo, energia e matérias-primas mais caros — e está ligado o motor inflacionário.

De acordo com um levantamento do Banco Internacional de Compensações (BIS), a inflação está acima de 5% em 58% das economias avançadas e de 7% em 55% das emergentes. Entre os países do G20, o Brasil só perde para Turquia, Argentina e Rússia no último dado de inflação anual. Pelo modelo adotado pelo BC, os fatores externos foram responsáveis por 70% do estouro da meta inflacionária brasileira no ano passado. Mas, por aqui, eles se combinam à memória do passado. A indexação continua gravada nos contratos, e a gastança inerente ao ano eleitoral só piora a situação.

Para alguns economistas, a pandemia transformou o ambiente inflacionário. A questão crucial diante de todas as autoridades monetárias agora é se deixamos o mundo da inflação baixa — em que os preços mantêm capacidade de autocorreção ao longo do tempo — para entrar noutro de expectativas elevadas, com a nefasta retroalimentação da espiral de salários e preços. Se estivermos no segundo cenário, pelo menos, a receita dolorosa para derrubar as expectativas é conhecida desde o final dos anos 1970: alta de juros combinada a austeridade fiscal. Para nossa infelicidade, o desempenho do Brasil tem sido sempre melhor no primeiro que no segundo item.

Combate à desinformação no Facebook ainda é incipiente

O Globo

Traz ao mesmo tempo alento e preocupação o primeiro relatório de ameaças divulgado nesta semana pela Meta, dona das maiores redes sociais do planeta, Facebook, Instagram e WhatsApp. Alento por demonstrar que a empresa não está parada diante da omissão contumaz dos reguladores para disciplinar a desinformação no ambiente digital. Preocupação porque o Brasil aparece com destaque entre os grupos desbaratados no primeiro trimestre, ao lado de Filipinas, Azerbaijão, Irã e das esperadas salvas de tiros digitais entre Rússia e Ucrânia.

De acordo com o relatório, detalhado por uma análise da consultoria independente Graphika, foram removidos 14 perfis e nove páginas do Facebook, além de 39 contas no Instagram, envolvidas na desinformação sobre Amazônia e meio ambiente. “Embora os usuários tenham tentado esconder suas identidades e coordenação, nossa investigação descobriu vínculos a indivíduos associados ao Exército Brasileiro”, afirmou a Meta em comunicado. A conexão com os militares foi confirmada pela Graphika.

Não se sabe o nível na cadeia de comando ocupado pelos indivíduos identificados como mentores da campanha de desinformação. Nem é possível afirmar que estivessem motivados pelas teses bolsonaristas a respeito da preservação ambiental. O conteúdo fraudulento que produziam tentava isentar o governo de responsabilidade pela devastação da Amazônia e incriminar ONGs ambientalistas como defensoras de interesses escusos.

Mas a mesma rede e os mesmos perfis haviam sido usados anteriormente para disseminar conteúdos críticos às políticas do governo Bolsonaro no combate à pandemia. O caso mostra que as redes de mentiras podem prestar serviços a qualquer causa política. O mais inquietante é que se trata de apenas um entre tantos focos de desinformação que têm florescido neste ano eleitoral.

Embora louvável, é evidente que a iniciativa da Meta é insuficiente para conter os riscos da desinformação à democracia. Não é papel de uma empresa, por mais poderosa e tecnicamente equipada, zelar por um bem público como o ambiente democrático — nem que pelo evidente conflito de interesse. O engajamento gerado pela desinformação fez parte da estratégia de crescimento das redes sociais, e elas resistem como podem a tentativas de impor um nível maior de moderação e vigilância.

Cabe às instituições e às autoridades desenvolver um arcabouço jurídico equilibrado que garanta, ao mesmo tempo, a liberdade de expressão intrínseca à democracia e o poder de coerção necessário para coibir abusos. É o que faz o texto do Projeto de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet, apelidado de PL das Fake News, cuja votação em regime de urgência foi infelizmente negada pelos deputados brasileiros. Diante da omissão da lei, são previsíveis os embates no Judiciário gerados pela enxurrada de desinformação que se anuncia na campanha eleitoral. A Meta precisará estar preparada para produzir ações e relatórios bem mais robustos.

Inflação sem trégua

Folha de S. Paulo

IPCA de março reduz confiança em melhora no ano; mundo teme medidas recessivas

A inflação continua a desafiar qualquer prognóstico otimista. Nem mesmo a elevação de 2% para 11,75% anuais da taxa de juros do Banco Central em pouco mais de ano tem sido capaz de estancar o processo até o momento.

Soube-se nesta sexta-feira (8) que a variação do IPCA em março foi de 1,62%, o maior percentual para o mês em 28 anos e 0,3 ponto percentual acima das expectativas de analistas para o período. Em 12 meses, o índice acumula aumento de 11,3%, o que ainda configura uma aceleração em comparação ao fechamento de 2021 (10,06%).

No mês passado verificou-se um acúmulo de influências negativas, como a disparada dos preços dos combustíveis, resultante da guerra na Ucrânia, e o encarecimento da alimentação em casa, que teve alta de 3%. Neste grupo, os produtos in natura subiram 10,45% por causa de chuvas em alguns estados.

As pressões continuam a ser generalizadas, abarcando comida, bens duráveis, preços administrados, combustíveis e, em menor medida, a prestação de serviços.

A medida de núcleo da inflação, que retira itens mais voláteis e visa refletir a dinâmica mais permanente, ficou em 9,01% nos últimos 12 meses, também uma aceleração ante o final do ano passado.

Na prática, embora se mantenha a expectativa de que a variação do IPCA neste ano acabará por ser menor que a de 2021, a confiança nesse cenário diminuiu.

Continuam a surgir novos fatores de elevação. O mais óbvio é a guerra, que impulsiona o preço do petróleo e ameaça a produção agrícola pela escassez de fertilizantes. O agravamento da pandemia na China, além disso, traz o risco de novas interrupções no fluxo de comércio mundial, com impacto em várias cadeias de produção.

A esta altura, notícias com potencial positivo, como o corte das tarifas de energia em razão da melhora da situação hídrica, diluem-se como meros paliativos. Ainda não se detecta, por fim, efeito favorável da valorização do real nos preços de artigos importados.

Para o Banco Central, fica menos claro quando poderá ter fim a sequência de aumentos da taxa Selic. A indicação da autoridade monetária era a de mais um incremento de 1 ponto percentual, encerrando o ciclo com juros de 12,75% ao ano. Agora, já se coloca o risco de um aperto ainda maior.

Não há solução fácil. Se a escalada do IPCA no ano passado decorreu em grande medida de erros de gestão do governo Jair Bolsonaro, hoje o fenômeno tem amplitude global, evidente com a inflação acima dos 7% anuais nos Estados Unidos e na zona do euro.

Teme-se que os principais bancos centrais não consigam estancar o problema sem provocar recessão —uma tragédia para o mundo que se recupera da pandemia.

Percalços de Lula

Folha de S. Paulo

Exposição é arriscada para quem tem mais votos a perder e se vale de ambiguidade

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) terminou o ano passado no que parecia uma posição das mais confortáveis para a disputa pelo Planalto. Liderava com folga as pesquisas, enquanto Jair Bolsonaro (PL) amargava a reprovação de 53% do eleitorado, a mais alta desde o início de seu governo.

O cacique petista também já havia encaminhado a aliança com o ex-tucano e rival Geraldo Alckmin, agora no PSB, o que indicava um passo rumo à moderação e criava um obstáculo estratégico para os postulantes de uma terceira via entre os dois polos da campanha.

Hoje, o cenário não se mostra mais tão cômodo. Bolsonaro recuperou algo de sua popularidade —os que consideram sua gestão ruim ou péssima caíram para 46%, segundo o Datafolha— e reduziu sua distância para Lula. Ao dar sinal de vida, o mandatário mantém a seu lado o centrão fortalecido em um novo quadro partidário.

No dia a dia, os atos e declarações do oposicionista ganham atenção crescente à medida que se aproxima o pleito. A exposição é mais arriscada para quem tem mais intenções de voto a perder —e também para quem se ampara em ambiguidades no discurso e na prática.

Na semana que se encerra, o PT buscou contatos com meios empresariais e fez saber que um ex-banqueiro, Gabriel Galípolo, passou a integrar a equipe da pré-candidatura. Já Lula manteve a cantilena demagógica em favor do controle dos preços dos combustíveis, além de distribuir impropérios contra a elite e até a classe média.

O ex-presidente defendeu de forma corajosa que o aborto seja tratado como questão de saúde pública, posição há muito advogada por esta Folha. Mas também deu munição aos adversários com uma bravata tola, ao exortar militantes do sindicalismo a pressionar parlamentares em suas casas.

Tratando-se do líder petista, seria ingênuo imaginar que as falas não tenham sido calculadas, assim como o tom mais ameno ao retomar os assuntos na quinta (7). Mais uma vez, Lula vai se equilibrando entre excitar os fiéis e acalmar os possíveis aliados de ocasião. Ora descontenta uns, ora outros.

A velha fórmula ainda está por ser testada em um ambiente político mais tóxico e uma situação econômica mais precária que a da década retrasada —e tendo o PT um passado de feitos mas também de desmandos a explicar.

Inflação recorde e o custo da incerteza

O Estado de S. Paulo

Contra a disparada dos preços, que em março atingiu o maior índice desde 1994, resta subir os juros, o que tornará muito ruim a herança deixada para o próximo governo

Mais um recorde sinistro foi batido na administração do presidente Jair Bolsonaro, com a inflação atingindo em março a taxa de 1,62%, a maior para o mês desde 1994, quando o governo cuidava da implantação do Plano Real.

A alta de preços ao consumidor chegou a 11,30% em 12 meses, mantendo o Brasil como um dos países com maior desajuste no custo de vida. Aumentos anuais superiores a 7% têm ocorrido em poucas economias capitalistas, embora todo o mundo tenha sido afetado, recentemente, por uma grande onda inflacionária. Os dados de março mostram o forte impacto do custo dos combustíveis nos preços do transporte e de alimentos, fenômeno observável também no mercado internacional. Mas seria um erro menosprezar dois fatos: a inflação brasileira é amplamente difusa e fora dos padrões globais há muito tempo.

Em março, houve alta de preços em oito dos nove grupos de bens e serviços cobertos pela pesquisa mensal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além disso, em cinco grupos a elevação foi maior que no mês anterior. Segundo avaliação recente do Banco Central (BC), a inflação deve continuar em alta pelo menos até abril e em seguida arrefecer. Por enquanto, a primeira parte da previsão está sendo confirmada. Em outras condições talvez se pudesse apostar com razoável segurança na confirmação da segunda. Mas seria uma aposta arriscada, tanto pela instabilidade internacional quanto pela insegurança gerada em Brasília, principalmente no Palácio do Planalto.

Uma rara novidade positiva, na área dos preços, tem ocorrido no mercado cambial. Com juros muito altos e ativos baratos, o Brasil tem atraído um bom volume de investimentos financeiros. Graças a isso, o dólar está mais barato do que na virada do ano. A cotação tem oscilado, naturalmente, mas sem retornar aos níveis observados até há poucos meses. Ficou para trás, pelo menos por algum tempo, o forte efeito inflacionário do câmbio. Mas dois fatores poderão mudar esse quadro.

O câmbio poderá ser afetado pela evolução dos juros no mundo rico, especialmente no mercado americano. Forçado a cuidar de uma inflação muito alta, com taxa anual de 7,9% em fevereiro, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) poderá elevar a taxa básica mais velozmente nos próximos meses. Se isso ocorrer, haverá sensíveis efeitos nos fluxos internacionais de dinheiro, e o dólar poderá valorizar-se, de novo, em relação ao real. Nesse caso, o câmbio voltará a alimentar a inflação brasileira, encarecendo os produtos importados e, em seguida, contaminando os demais preços.

O segundo fator é político. Dedicado à disputa eleitoral, o presidente Jair Bolsonaro ficará ainda mais concentrado nos objetivos pessoais e menos atento, se isso for possível, aos efeitos econômicos de suas atitudes e de suas decisões. Quanto maior a agitação política e quanto menor a segurança quanto aos seus desdobramentos, maior será a incerteza nos mercados. Mais provável, portanto, será a busca de segurança financeira no exterior, com aplicações fora do Brasil e consequentes movimentações na cotação do dólar. O cenário é bem conhecido.

Pelo menos um fator de atração de dólares deve permanecer nos próximos meses e, quase certamente, no próximo ano. Os juros permanecerão, no País, bem acima dos níveis observados comumente na maior parte do mundo capitalista. A taxa deve passar de 11,75% para 12,75% em maio, na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), principal órgão político do BC. O mercado tem previsto taxas menores a partir de 2023, mas qualquer estimativa é muito insegura, diante das incertezas internacionais e, principalmente, das condições brasileiras.

Juros altos podem ser inevitáveis, neste ano, e benéficos no médio e no longo prazos, mas têm sido e serão um forte entrave à atividade econômica e um custo adicional para o Tesouro. A dívida pública brasileira já é bem maior que a de outros países de renda média, e será parte, também, da péssima herança prevista para a próxima administração.

O novo Alckmin, o velho Lula

O Estado de S. Paulo

Líder petista e seus engodos eleitoreiros são bem conhecidos; a novidade é a adesão de Alckmin, que pautou sua bem-sucedida vida como governante em SP sendo antítese perfeita do petismo

Anunciada pela sua nova legenda, o Partido Socialista Brasileiro (PSB), a indicação de Geraldo Alckmin para ser vice na chapa presidencial do petista Lula da Silva oficializa um equívoco singular, que vem causando, desde suas primeiras movimentações, imensa perplexidade entre o eleitorado do ex-governador paulista. Com o ato, Alckmin renega toda a sua biografia política para participar do engodo petista de que a volta de Lula ao poder seria nada menos que a salvação da democracia.

Na vida política, é normal que haja mudanças. Mas não é nada normal que um político abandone, de forma tão espetacular, seu eleitorado construído ao longo de décadas. Por mais explicações que agora queiram dar, o fato é que Alckmin sempre se colocou em campo político-ideológico diametralmente oposto ao do PT. E verdade seja dita: atuando dessa forma, conquistou e manteve a confiança do eleitor paulista. Prova disso é sua longa permanência no Palácio dos Bandeirantes, sempre pelo PSDB.

Sendo tão contraditório com sua trajetória política, o passo que Geraldo Alckmin agora dá contribui para a desconfiança da população na política. As dúvidas brotam abundantes. Então era esse o candidato a presidente que, em 2006, prometia governar de forma diferente do PT, sem corromper o Congresso com o mensalão, revelado no ano anterior? Então era esse o candidato que, em 2018, se colocava como representante do centro democrático, distante tanto do lulopetismo quanto do bolsonarismo? A política, a genuína política, requer um pouco mais de constância nos princípios.

Para piorar, as novas vestes políticas de Alckmin reforçam o embuste contra a democracia que o PT pretende impor ao eleitor brasileiro. Depois dos anos de desgoverno e negacionismo de Jair Bolsonaro, é preciso reconduzir o governo aos trilhos da responsabilidade e do interesse público, mas Lula obviamente não é a solução e, menos ainda, a única solução, como os petistas querem fazer acreditar.

Lula da Silva e Jair Bolsonaro são parte do problema, como tão bem mostram suas propostas de intervencionismo na economia, de irresponsabilidade fiscal, de demagogia nos preços administrados e de enfraquecimento da autonomia das agências reguladoras. Os dois propõem o atraso e querem que o eleitor acredite que não há alternativa a eles. 

Se a preocupação de Alckmin é com a democracia no País e com os rumos tomados pelo governo Bolsonaro, não é se juntando a Lula da Silva que vai realizar seus propósitos. De novo, a política, a genuína política, é mais do que simplesmente aderir a quem aparece na frente nas pesquisas. Sucumbir ao canto do populismo é reproduzir precisamente o percurso que tanto mal tem feito ao País – e do qual, até há pouco, se pensava que Alckmin fosse um combativo opositor.

De forma muito concreta, o caminho da democracia passa pela união de forças em torno de uma candidatura de centro, responsável e comprometida com o interesse público. Certamente, não é se aliando ao partido que produziu os maiores escândalos de corrupção da história nacional e uma profunda crise econômica resultante de irresponsabilidade fiscal que Alckmin contribuirá com a reconstrução do País.

“O que estará em questão nas eleições de 2022 é o confronto decisivo entre democracia e autoritarismo”, disse o presidente do PSB, Carlos Siqueira, ao oficializar a disposição do partido de unir-se à chapa petista. É realmente esquisito como alguns partidos se submetem à pretensão de hegemonia petista, reforçando um discurso que nada tem de democrático. A democracia é plural. 

O PT finge que não sabe, mas quem é democrático respeita as leis do País, não trata quem pensa diferente como inimigo, não chama de “golpe” decisões constitucionais do Congresso e do Judiciário, não faz aparelhamento político-ideológico do Estado, não destrói as estatais. Tudo isso já era conhecido. A novidade é contar agora com o aplauso de Alckmin, que pautou sua bem-sucedida vida como governante em São Paulo sendo a antítese perfeita do petismo.

A segurança vem do campo

O Estado de S. Paulo

Safra de grãos deve crescer, apesar da estiagem, e garantir a receita de dólares necessária à segurança do setor externo

Enquanto a indústria derrapa, a agricultura avança na produção, permanecendo como suporte mais firme da economia nacional e principal garantia contra crises cambiais. Com exportações de US$ 10,51 bilhões em fevereiro, o agronegócio bateu um recorde para o mês e proporcionou 45,9% da receita comercial do País. Um ano antes havia contribuído com 38,7%. O valor faturado com as vendas externas, 65,8% maior que o de fevereiro de 2021, resultou tanto do aumento do preço médio dos produtos vendidos (+24,0%) quanto do crescimento do volume embarcado (+33,7%). Como grande produtor agropecuário, o Brasil se beneficia, comercialmente, da alta das cotações no mercado internacional. Essa alta resultou inicialmente da recuperação das grandes economias, depois do pior momento da pandemia, e vem sendo sustentada, recentemente, por desdobramentos da guerra na Ucrânia.

No campo, os agricultores tentam obter novos ganhos de produção, apesar das condições climáticas desfavoráveis em algumas áreas muito importantes. Mesmo com perdas em lavouras de soja e milho nos Estados do Sul e em Mato Grosso do Sul, a colheita de grãos poderá atingir, incluídas as safras de verão e de inverno, o total de 269,3 milhões de toneladas, 5,4% mais que na temporada 2020/2021, segundo a sétima estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), vinculada ao Ministério da Agricultura. Essa colheita, no entanto, é 6,7% inferior ao volume de 288,6 milhões de toneladas indicado na primeira estimativa. A volta das chuvas permitiu a recuperação parcial de algumas lavouras, sem reverter, no entanto, a perda de produtividade.

Nova estimativa aponta produção de 122,4 milhões de toneladas de soja, com redução de 11,4% em relação à safra precedente. No caso do milho, a produção total está prevista em 115,6 milhões de toneladas, com ganho de 32,7% sobre a temporada anterior. Os novos cálculos apontam aumento de 7,6% na produção de feijão, considerados todos os plantios, com colheita esperada de 3,1 milhões de toneladas. No caso do arroz é esperado um total de 10,5 milhões de toneladas, volume inferior ao do ano passado. O plantio das lavouras de inverno apenas começou e as previsões incluem 7,9 milhões de toneladas de trigo, volume recorde.

Não basta, no entanto, cuidar da produção. É preciso apoiar os agricultores prejudicados pela estiagem nos Estados de Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O Ministério da Agricultura anunciou facilidades para os devedores do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). A iniciativa é relevante, mas é preciso acompanhar a execução das medidas e garantir o acesso dos produtores a essa ajuda.

Pode-se discutir detalhes e criticar certas decisões, mas o Ministério da Agricultura se distingue, desde 2019, pela continuação de uma política de desenvolvimento setorial. Mantido por décadas, esse esforço ajudou a modernizar e a fortalecer o agronegócio, enquanto a indústria foi abandonada.

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