O Globo
Os preços dos combustíveis continuarão
subindo, e tudo o que Bolsonaro tem feito serve apenas para enganar. A liminar
no Supremo contra os estados pode ser um tiro pela culatra. As cotações podem
subir em vez de cair. Usar o Cade para combater os preços altos é não entender
a função do órgão. Ameaçar mais uma vez intervir na Petrobras resulta em nada.
Afinal, já foram degolados dois presidentes da empresa e o ministro das Minas e
Energia.
A elevação dos combustíveis é um nervo exposto para Bolsonaro. E está no conjunto de notícias que mais incômodo está causando ao presidente, a inflação. Ele se debate, ataca, tenta jogar a culpa sobre terceiros, porque sabe que isso tira a popularidade e não sabe o que fazer. Ontem foi um dia em que ele esteve particularmente desnorteado. Distorceu fatos históricos e presentes, disse que não disse o que sempre disse, e no fim ameaçou com uma “eleição conturbada”. Claro que Bolsonaro busca aquilo com o qual sonhou, dar um golpe que elimine os limites aos seus poderes. Em alguns países, governantes assim tiveram sucesso. Portanto, o mais arriscado que se pode fazer agora é não ver os sinais gritantes de um ser grotescamente autoritário investindo contra a democracia.
Na economia, seus rugidos até agora nada
resolveram. Os combustíveis sobem conforme os preços do petróleo e a cotação do
dólar. O petróleo está muito volátil e ontem bateu em US$ 114. O dólar está
instável também, mas pelo menos o resultado desde o começo do ano continua
negativo.
Os estados já congelaram o valor do ICMS.
Desde novembro. De lá para cá, o preço de revenda do diesel disparou 27% nas
bombas. O número mostra que o imposto estadual é apenas o bode expiatório de
Bolsonaro. No período, o dólar caiu 11% — já esteve em queda de quase 20%. O
petróleo saltou 34%, com a guerra da Ucrânia.
Os secretários de Fazenda estaduais acham
que o ministro André Mendonça, do STF, deu um tiro no pé ao atender pedido da
AGU que derrubou a regulamentação da alíquota única. Eles dizem que, ao
contrário do que o governo deseja, os impostos vão subir no Distrito Federal e
em 25 dos 26 estados da federação, a partir de julho, com reflexo no preço dos
produtos. É que eles estabeleceram um valor único para todo o país, mas
permitiram descontos. Se tiverem que seguir a liminar do ministro André
Mendonça vão eliminar os descontos. Os preços subirão. É o que explica o
diretor-institucional do Comitê Nacional dos Secretários de Fazenda (Comsefaz),
André Horta.
—O ICMS está congelado desde novembro e
continuará assim até o final de junho. A partir de julho entraria em vigor a
determinação do Comsefaz, com a cobrança de R$ 1,006 por litro, mas com
descontos em cada estado, para não haver aumento de carga. Se os descontos caírem,
a tributação vai subir. Avalio que o governo não se deu conta do que fez —
disse.
No Conselho Administrativo de Defesa
Econômica (Cade), a entrevista do diretor-superintendente, Alexandre Barreto, à
“Folha”, dissolveu a ilusão que o governo tentou criar, de que o Cade poderia
enquadrar a Petrobras. O órgão não controla preços. A defesa da concorrência
muito provavelmente seria invocada se a Petrobras mantivesse preços
artificialmente baixos, porque isso eliminaria os competidores.
Bolsonaro colhe o que plantou na economia.
O mundo inteiro está em crise, é verdade. Mas aqui tudo foi muito mais penoso.
Na pandemia, ele poderia até crescer como governante, se fizesse esforço para
unificar o país contra o inimigo comum. Mas ele abriu guerra contra os governos
estaduais, as prefeituras, o Judiciário, a imprensa, a Saúde, as vacinas. A
ideia que ele perseguiu de forma obsessiva, de que era preciso abrir a economia
a qualquer preço em vidas humanas, não teve apoio no país. Não usou máscaras, e
os brasileiros usaram. Bombardeou as vacinas, e as pessoas se vacinaram. Ataca
a democracia, e a maioria dos brasileiros a defende. Esse tumulto que é o
governo Bolsonaro espalhou incertezas na economia. Essa incerteza atingiu a
inflação, o emprego, os investimentos, o crescimento, as expectativas. O Brasil
vai crescer menos que os emergentes, que os países desenvolvidos, que o mundo.
A inflação é uma das mais altas do mundo. É contra isso que ele esbraveja cada
vez mais alto. Ele grita e roda em torno de si mesmo. É um presidente em
parafuso.
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