Folha de S. Paulo
Futuro presidente precisa anular as medidas
de facilitação do acesso às armas
É aterrador o relato do repórter Ivan Finotti sobre
sua visita a uma loja de armas, em São Paulo, para o lançamento de uma marca de
fuzil. O novo fetiche da turma da bala custa quase R$ 20 mil e pode ser
parcelado em até dez vezes no cartão.
A mesma loja oferece tacos de beisebol não
para praticar o esporte, mas como um item a mais para o cliente montar o seu
arsenal. Os bastões têm inscrições como "Direitos Humanos" e
"Diálogo". É o recado claro e debochado de como resolver conflitos:
no grito, na força bruta, à bala.
Este é apenas um exemplo de como a violência passou a ser um valor promovido pelo governo. Bolsonaro conseguiu afrouxar a legislação sobre armas por meio de decretos e portarias. São instrumentos meramente administrativos, que dispensam a apreciação do Congresso. Alguns deles contaram com a conivência do Exército, que perdeu atribuições de controle e rastreamento.
Quase quatro anos de estímulo às armas
produzem muitos efeitos. Tem gente ganhando rios de dinheiro com isso,
multiplicaram-se os clubes de tiro pelo país e devem estar abarrotados os
depósitos das milícias, facções e outras modalidades de crime.
Há ainda outra consequência, difícil de
mensurar, que é a naturalização da percepção de que uma sociedade armada até os
dentes seria uma garantia de proteção e segurança para o cidadão. O caso do
ex-ministro da Educação
Milton Ribeiro, no balcão do aeroporto de Brasília, é
autoexplicativo. Ele carregava uma pistola em vez de livros.
Com a convicção de que Bolsonaro não será
reeleito, tomo a liberdade de dar uma sugestão ao próximo presidente. No dia da
posse, em 1º de janeiro de 2023, como primeiro ato de governo, publique um
"revogaço" no Diário Oficial, anulando todas as medidas de
facilitação do acesso às armas.
O "revogaço" não resolverá tudo,
pois já há um imenso arsenal em mãos erradas. Mas emitirá um sinal poderoso de
mudança e de que é possível e urgente dar adeus às armas.
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