terça-feira, 17 de maio de 2022

Maria Cristina Fernandes: Embate entre Aécio e Garcia é pelo controle do partido

Valor Econômico

Deputado mineiro pode até lançar ex-deputado Marcus Pestana a presidente

Na disputa de quem faz mais barulho por nada, Aécio Neves levou o troféu do fim de semana ao sair em defesa do governador de São Paulo, João Doria. Em entrevista à “Folha de S. Paulo”, o deputado federal pelo PSDB de Minas Gerais criticou o presidente de seu partido, Bruno Araújo, por desrespeitar as prévias do partido que sagraram a candidatura do ex-governador de São Paulo. Por trás dessa crítica, porém, há uma disputa latente pelo controle do partido.

O respeito ao resultado das prévias, procedimento previsto no estatuto do PSDB, é capitaneado pelo presidente de honra da legenda, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Aécio não se inclui nesta fileira. Sempre foi desafeto de Doria, que chegou a defender sua expulsão do partido depois que, numa gravação de 30 minutos, em ação filmada pela Polícia Federal, um primo do deputado recebe R$ 2 milhões do empresário Joesley Batista.

Se Aécio sai em defesa de Doria agora é porque teme perder o controle do PSDB para Rodrigo Garcia. Aliados do governador de São Paulo acreditam que se o PSDB tiver uma chapa à Presidência da República encabeçada por um nome como o da senadora Simone Tebet (MDB-MS), a candidatura de Garcia circularia sem grandes obstáculos tanto no eleitorado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva quanto naquele do presidente Jair Bolsonaro no Estado.

O mesmo não aconteceria se o candidato do PSDB for Doria, que colhe índices de rejeição que só perdem para os de Bolsonaro. Por outro lado, o ex-governador paulista tem em sua gestão o único cartão de visitas de sua pré-candidatura, o que acaba por vinculá-lo, irremediavelmente, a Garcia.

Este é o cenário tem levado Bruno Araújo e o presidente do MDB, o deputado Baleia Rossi (SP) a trabalhar conjuntamente pela candidatura de Simone Tebet, sem qualquer garantia, porém, de que ambos os partidos, PSDB e MDB, referendem a candidatura conjunta nas convenções partidárias de julho. A avaliação interna é de que a posição majoritária em ambos os partidos é pela liberação do apoio.

Entre tucanos paulistas, a percepção é de que, ao verbalizar a defesa de Doria, Aécio estaria interessado em minar o jogo traçado por Garcia para evitar que ele, na condição de governador de São Paulo e mentor daquela que deve ser a maior bancada estadual do partido, venha a dominar o PSDB.

Aécio não descarta nem mesmo lançar um nome da bancada de Minas, como o deputado Marcos Pestana. Uma postulação presidencial concentra, nas mãos do candidato, recursos do fundo partidário que, de outra maneira, seriam redistribuídos pelas candidaturas proporcionais, ao Senado e aos governos estaduais.

Em meio às disputas paroquiais de seu partido, o ex-governador João Doria tampouco tem agido para agregar apoiadores a uma posição que, ao fim e ao cabo, tem o respaldo do estatuto tucano. A acusação de “golpe” e o timbre do escritório de advocacia que o atende na carta dirigida à direção do partido, por exemplo, soaram como uma ameaça desnecessária, e sem retorno, de judicialização.

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