*Jürgen Habermas (Düsseldorf, 1929) é um filósofo e sociólogo alemão, ‘Sobre a Constituição da Europa’ (2011), pp. 31-2, Editora Unesp, 2012
Política e cultura, segundo uma opção democrática, constitucionalista, reformista, plural.
quarta-feira, 31 de agosto de 2022
Opinião do dia - Jürgen Habermas*(Direitos Humanos)
Vera Magalhães - Bolsonaro com pouca bala no pente
O Globo
Nunca antes um presidente chegou tão mal
avaliado e com rejeição tão monolítica nos pouco mais de 30 dias anteriores à
eleição
No linguajar armamentista tão caro ao
presidente, Jair Bolsonaro termina o mês de agosto sem muita bala no pente para
reverter uma rejeição que permaneceu inalterada mesmo diante dos programas
sociais turbinados já atropelando a lei eleitoral e que se firma como fator
decisivo da eleição deste ano.
A ajuda inédita dada pelo Congresso às
pretensões eleitorais de Bolsonaro se mostrou relevante para melhorar um pouco
a avaliação do governo e as intenções de voto do candidato do PL. Mas esse
movimento, em escala bem menor que a esperada pelo presidente e por seu
entorno, foi mais intenso em julho que neste mês que se encerra hoje,
justamente quando o dinheiro começou a pingar na conta dos beneficiários do
Auxílio Brasil, do vale-gás majorado e dos outros chamarizes de votos.
Diante dessa situação, e das apostas até
aqui ainda não concretizadas de reposicionamento de imagem de Bolsonaro, resta
à campanha apostar todas as fichas na associação de Lula com a corrupção e com
governos de esquerda a ser demonizados nos países do continente.
O dramático, para ele, é que esses são temas que não dizem absolutamente nada aos eleitores mais pobres, seja do Nordeste ou das grandes cidades do Sudeste, dois focos de atenção da campanha, que deram de ombros para o aumento dos auxílios, continuam sentindo no bolso a inflação de alimentos e não se mostram “gratos” a Bolsonaro, como seus ministros parecem esperar de modo quase infantil nas redes sociais, pelos R$ 600 ou pela redução no preço dos combustíveis.
Elio Gaspari - Bolsonaro quer disputar 2022 com as armas de 2018
O Globo
O capitão comete o erro dos generais
A frase é atribuída a Winston Churchill:
— Os generais estão sempre preparados para
combater a última guerra.
Os sinais dados por Jair
Bolsonaro indicam que ele quer disputar 2022 com as armas de
2018. É uma tarefa impossível, porque, no meio desse caminho, estão os mortos
da pandemia, a carestia e seus três anos e oito meses de governo. Lula continua
tangenciando o tema da corrupção ocorrida em seu governo, mas falta ao
sentimento antipetista o vigor de 2018. A aura de santidade da Operação
Lava-Jato virou fumaça. Personagens eleitos em 2018 na onda que levou Bolsonaro
ao Planalto desapareceram do mapa, como o fulgurante juiz Wilson Witzel,
no Rio, e João Doria,
em São Paulo. Romeu Zema,
eleito em Minas Gerais, disputa a reeleição descolado do capitão.
No debate da Band, Bolsonaro gastou seus dois minutos de considerações finais (livres de qualquer provocação) para relacionar Lula aos presidentes de Chile, Venezuela, Colômbia, Nicarágua e Argentina. Arrumou uma encrenca diplomática inútil, pois a eleição é no Brasil. Ademais, enquanto Bolsonaro teve um chanceler que se orgulhava da condição de pária em que o país foi colocado, Lula teve boas relações com o republicano George W. Bush, e o democrata Barack Obama, ao encontrá-lo, disse que “esse é o cara”.
Bernardo Mello Franco – A conta dos ministérios
O Globo
O ex-presidente Lula fez o anúncio ontem:
se eleito, vai recriar o Ministério da Segurança Pública. Em sua primeira
encarnação, a pasta teve vida breve. Existiu durante dez meses, entre o ocaso
de Michel Temer e a posse de Jair Bolsonaro.
O candidato do PT já havia prometido criar
ou recriar outras sete pastas: da Cultura, da Igualdade Racial, dos Direitos
Humanos, da Pesca, do Planejamento, dos Povos Originários e da Micro e Pequena
Empresa.
No mês passado, ele indicou que a conta
ainda pode aumentar até a eleição. “Nós vamos criar aqueles ministérios que
forem necessários”, disse, em entrevista ao UOL.
No passado recente, os governos petistas foram acusados de inchar a Esplanada para barganhar apoio político, sem se importar com o currículo ou a competência dos indicados. Em muitos casos, a crítica era procedente.
Alvaro Gribel - Bolsonaro e os crimes contra as mulheres
O Globo
Nos últimos três anos, uma mulher foi morte
por motivo fútil no país a cada 6,5 horas. Violência doméstica começa pela
agressão verbal
Nos três primeiros anos do atual governo,
os feminicídios aumentaram 9,1%. Entre 2019 e 2021, 4.026 mulheres foram mortas
por motivos fúteis — como ciúme e sentimento de posse — o que significa uma
mulher assassinada a cada 6,5 horas. Essas mortes, no entanto, são a
consequência mais extrema de uma lista de abusos que transformam as mulheres em
vítimas diariamente no país. A violência contra a mulher não começou no governo
Bolsonaro nem é problema exclusivo do Brasil, mas o comportamento e as falas do
presidente podem ser estímulos para o avanço dos crimes, que já têm números
assustadoramente altos por aqui.
No debate da Band, Bolsonaro se irritou com a colunista Vera Magalhães e distribuiu grosserias à candidata Simone Tebet. Em resposta à jornalista Fabiola Cidral, afirmou que o seu governo “está no caminho certo” e “tem mostrado que o número de mulheres mortas e violentadas tem diminuído”. A realidade, infelizmente, é outra, como mostra o Anuário Brasileiro da Segurança Pública. As mulheres têm sofrido violências de todos os tipos e a toda hora: assédio e importunação sexuais, lesões corporais, ameaças, perseguições, exposição de cenas de sexo, violência psicológica, além de estupros e feminicídios, nos casos mais graves.
Míriam Leitao - Orçamento: sem dinheiro para os mais pobres
O Globo
O texto será enviado hoje para o Congresso
e mostra a natureza do governo Bolsonaro
O texto do
Orçamento que será enviado hoje para o Congresso está sendo
preparado de um jeito a mostrar a natureza do governo Bolsonaro, as promessas
aos pobres não devem ser cumpridas, mas à classe média, sim. Combustível sem
imposto está sendo mantido, uma escandalosa renúncia fiscal, mas até agora não
há previsão de colocar no orçamento o dinheiro para manutenção do Auxílio
Brasil em R$ 600 e a atualização da tabela do imposto de renda. Está mantido
também o dinheiro para a compra política de votos no Congresso, a excrescência
do orçamento secreto, as verbas sem transparência para o Congresso.
O Orçamento não tem espaço para a permanência do Auxílio Emergencial em R$ 600, um descumprimento prévio de promessa já que o presidente tem prometido isso nos palanques. Bolsonaro faz cortina de fumaça quando diz que vai conversar com Paulo Guedes e tudo será resolvido. Há momentos em que afirma que haverá recursos com a reforma tributária. Depois diz que os recursos virão da venda de estatais. No entanto, a venda de estatais não pode cobrir gastos correntes, porque é receita que vem uma vez só, enquanto gasto corrente é despesa permanente.
Luiz Carlos Azedo - Debate não alterou polarização entre Lula e Bolsonaro
Correio Braziliense
A apatia de Lula no debate da Band foi
flagrante, mas não provocou mais do que uma tempestade em copo d’água, em
contradição com a grande repercussão negativa nas redes sociais
A pesquisa Ipec (a turma do antigo Ibope),
divulgada na segunda-feira, mostra um quadro estabilizado há duas semanas na
disputa eleitoral entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o
presidente Jair Bolsonaro. O primeiro com 44% de intenções de voto; o segundo,
com 32%. Ciro Gomes, Simone Tebet e Felipe D’Ávila subiram um ponto cada, estão
com 7%, 3% e 1%, respectivamente, todos na margem de erro. A pesquisa funcionou
como uma espécie de “calma, o Brasil é grande” na cúpula das campanhas de Lula
e Bolsonaro, que foram muito mal avaliados nos trackings do debate de domingo
na Band e no monitoramento das redes sociais. Os demais candidatos se saíram
melhor, principalmente Simone Tebet (MDB).
Vista com lupa, a nova pesquisa mostra que houve pequenas movimentações localizadas. Por exemplo, Lula continua liderando entre os que recebem o Auxílio Brasil, com 52%, mas Bolsonaro subiu um pontinho: passou a 29%. Ciro Gomes, também, chegando a 8%. Entre os que não recebem o auxílio, não houver alteração, mas a distância de Lula para Bolsonaro é menor: o petista tem 40%, e o presidente, 33%. Entretanto, nas capitais, houve uma mudança muito significativa: a vantagem de Lula para Bolsonaro caiu para 2%, ou seja, estão em empate técnico. Há duas semanas, Lula estava com 45%, e Bolsonaro, com 31%. No interior, Lula cresceu um 1%, e Bolsonaro caiu o mesmo percentual: estão como 45% e 32%, respectivamente. O que é isso?
Frei Betto* - Bolsonaro e a religião
Folha de S. Paulo
Como considerar discípulo de Jesus um homem
devoto do torturador Ustra?
O segundo mandamento da lei de Deus,
conhecida como decálogo, é "Não usar o santo nome de Deus em vão". E,
no entanto, nunca se viu um presidente
da República evocar tanto o nome de Deus como o atual ocupante do
Planalto.
Alguém poderia objetar: que mal há em
evocar o santo nome? Nenhum, se a pessoa se esforça por viver os valores
ensinados pela Bíblia,
considerada por nós, cristãos, a palavra de Deus. Não é o caso do Inominável.
Enquanto Jesus propõe "Amai-vos uns aos outros", ele insiste em
estimular a prática de "armai-vos
uns aos outros". Ou "Pátria armada, Brasil".
A manipulação política do nome de Deus é velha como o cachimbo de Adão. Já no século 4 o imperador Constantino, ao perceber que a perseguição aos cristãos, movida pelo Império Romano, tornava seu governo cada vez mais impopular, se declarou convertido à fé cristã, cessou a repressão e deu aos bispos o status de príncipes. Pura cooptação da igreja para impedir que o império desabasse. E a prova de que sua suposta conversão consistia em golpe político é que só se deixou batizar ao se encontrar no leito de morte. Com certeza por via das dúvidas, por temer as penas do inferno...
Mariliz Pereira Jorge - As mulheres que Bolsonaro odeia
Folha de S. Paulo
Ele pode até tentar, mas não vai nos
intimidar
O destempero de Jair
Bolsonaro no debate de domingo (28) não é novidade para quem o
acompanha. Ele apenas levou para o horário nobre o que faz de forma costumeira
no cercadinho do Palácio do Planalto, em entrevistas e nas redes sociais: o
desprezo por mulheres.
A conotação sexual no ataque à jornalista
Vera Magalhães faz parte da retórica usada também por seus eleitores contra
profissionais que ousam criticá-lo. O bolsonarismo não respeita o trabalho
jornalístico e muito menos as mulheres que têm sido protagonistas no debate
político.
Bolsonaro e aliados defendem seu comportamento misógino alegando que as reações não passam de "mimimi", mas jamais vi um colega homem ter seu trabalho questionado com insinuações de cunho afetivo ou acusações criminosas de que teria oferecido sexo em troca de informação.
Bruno Boghossian - A métrica da rejeição
Folha de S. Paulo
Aposta no antipetismo e dificuldade de
melhorar imagem ficam no centro da campanha do presidente
A aposta de Jair Bolsonaro na reativação do
antipetismo deve fazer com que os índices de rejeição se tornem uma métrica
importante das próximas semanas. Com dificuldade para melhorar a avaliação do
governo e ampliar seus números nas intenções de voto, o presidente passou a
dedicar cada vez mais energia à tentativa de vincular fatos negativos à imagem
de Lula.
Bolsonaro fez a investida mais intensa dessa natureza no debate do último domingo (28), quando martelou acusações de corrupção e fez comparações entre Lula e regimes de esquerda na América Latina. As provocações não devem render votos imediatamente e podem até aumentar a antipatia de alguns eleitores, mas também desgastam o rival.
Hélio Schwartsman - Problema paquidérmico
Folha de S. Paulo
Diante das ameaças à democracia tema não será fator eleitoral decisivo
O PT fez coisas boas,
mas também cometeu graves erros ao longo de seus 13 anos de administração
federal. E, se o passado oferece a Lula alguns trunfos para exibir na
propaganda eleitoral, também coloca dois elefantes na sala, que são a recessão
de 2015-16, no governo Dilma, em larga medida autoinfligida, e os escândalos de
corrupção sob a gestão do próprio ex-presidente. Minha sensação
é que Lula ainda hesita em como lidar com o paquidérmico problema.
Na sabatina no Jornal Nacional, o ex-presidente, se não ensaiou uma autocrítica, ao menos admitiu que houve erros; no debate do domingo, optou por desconversar. Penso que ele se saiu melhor na sabatina que no debate. Fugir do assunto diante de perguntas diretas passa uma péssima impressão. Temos, porém, de convir que a matéria é difícil. Se, no caso da recessão, Lula ainda pode empurrar o abacaxi para Dilma, com a corrupção é mais complicado, já que os questionamentos envolvem a pessoa física do ex-presidente.
Marcelo Godoy - O general de passeata virou tuiteiro
O Estado de S. Paulo
Em uma campanha curta, os políticos têm pressa, a mesma urgência de quem passa fome no País
Campanha eleitoral é tempo de candidato
comer buchada de bode e abraçar crianças em comunidades pobres. Em 2022, ela se
tornou também o momento em que general vira tuiteiro. A rede social é o novo
Clube Militar, o local em que oficiais fazem política, como descobrira o
ex-comandante Eduardo Villas Bôas.
Agora foi a vez de Walter Braga Netto. Desde segunda-feira, o lacônico oficial se converteu em um loquaz tuiteiro. O candidato a vice dos sonhos de Jair Bolsonaro, por não dar palpites nem ameaçá-lo, apresenta-se como um mineiro “alinhado aos valores conservadores e ao liberalismo econômico do presidente”. Na rede social, todos têm pressa – a concorrência é enorme para capturar o eleitor. O novo tuiteiro do Planalto já conta com 87 mil seguidores e 13 publicações. “Foi com muita honra e orgulho que recebi a missão de ser candidato a vice-presidente, a mais desafiadora e importante dos meus 65 anos de vida.”
Fábio Alves - A volta do risco fiscal
O Estado de S. Paulo
O teto de gastos foi desmantelado pelo atual governo a ponto de perder sua credibilidade
O bom desempenho das contas públicas ao
longo deste ano, em razão, em parte, da inflação mais alta e de uma atividade
econômica mais forte do que o esperado, contribuiu para deixar os investidores
anestesiados em relação ao risco fiscal do Brasil, mas a pressão dos mercados
para uma sinalização clara sobre a trajetória da dívida pública e das contas do
governo no médio e no longo prazos deve voltar logo após a eleição
presidencial.
O que o mercado já dá como certo é que, diante de uma situação social e econômica bastante adversa do País, agravada pela fome e pela inflação elevada, o gasto público adicional e a redução de impostos aprovada neste ano dificilmente poderão ser revertidos em 2023. Por exemplo, tornar permanente o Auxílio Brasil no valor de R$ 600, manter o corte de impostos federais sobre os combustíveis ou ainda corrigir a tabela do Imposto de Renda.
Maria Cristina Fernandes - Definição precoce do voto marca campanha
Valor Econômico
Migração das preferências está mais difícil
A estabilidade da disputa eleitoral, a
despeito das sabatinas dos candidatos à Presidência da República no “Jornal
Nacional” e do início do horário eleitoral gratuito, decorre de dois
indicadores muito claros da última pesquisa Ipec: o alto grau de definição da
escolha e do voto espontâneo dos eleitores. Ambos os indicadores, na percepção
da diretora do Ipec, Márcia Cavallari, estão em patamares extraordinariamente
altos para esta fase da campanha.
A pesquisa nem mesmo desmontou a
possibilidade de segundo turno. Nos votos válidos, Lula tem 50% e Bolsonaro,
37%, o que deixa o presidente estacionado e o ex-presidente com dois pontos
percentuais a menos, perdidos para Ciro e Simone.
Para a rodada divulgada nesta segunda-feira, o Ipec colocou seus entrevistadores em campo entre a sexta-feira, 26 (estreia do horário eleitoral e último dia das sabatinas no “JN”), e o domingo, 28. No questionário estimulado, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva permanece com os mesmos 44% dos votos e o presidente Jair Bolsonaro, também estacionado nos 32%. O resultado reproduziu aquele de 15 de agosto, data da rodada anterior.
Fernando Exman - Trinta minutos de jogo para a terceira via
Valor Econômico
Soraya representa os bolsonaristas
arrependidos
Foi na quinta-feira de manhã, durante
sabatina realizada por Valor,
“O Globo” e CBN, quando talvez a senadora Simone Tebet (MDB) tenha verbalizado
em público pela primeira vez o seu desapontamento com a demora dos partidos que
um dia sonharam em construir uma única candidatura de terceira via à
Presidência da República. Fez um desabafo importante, mas, muito provavelmente,
tarde demais.
“Não tenho meias palavras. Então, vou ser bem direta”, afirmou ela ao introduzir o assunto. E logo prosseguiu: “Acho que as pessoas jogaram a toalha muito cedo em torno desse nome ‘terceira via’. O desespero de achar o menos pior... No desespero de achar que vai dar no primeiro turno, e eu nunca achei que a eleição daria no primeiro turno e havia essa possibilidade, no final do ano passado já desacreditaram a terceira via. Esse é um ponto pacífico que precisa ser colocado”.
Com razão, a candidata ponderou que não se pode menosprezar a batalha que resultou na escolha de seu nome para encabeçar a coligação formada por MDB, PSDB, Cidadania e Podemos. Ela lembrou que o posto foi disputado por dois ex-ministros, um da Justiça e outro da Saúde, além do presidente do Congresso Nacional. Não citou o ex-governador de São Paulo, João Doria (PSDB), com quem por tempo demasiado rivalizou pela indicação do que hoje é chamado de centro democrático. “Eu era a café com leite”, completou.
Daniel Rittner - Propostas para os candidatos: gás natural
Valor Econômico
Fórum
de entidades empresariais sugere conjunto de medidas
Velha
piada que ainda faz sucesso entre iniciantes na indústria de óleo e gás: o
diretor de exploração da companhia petrolífera entra tenso na sala do chefe.
“Presidente, tenho duas notícias para dar. Uma ruim, outra boa”, avisa, já se
preparando para a bronca, e começa. “A ruim é que, depois de tanto investimento
e tantos poços furados, não achamos nenhuma gota de petróleo”, afirma, com
receio. Desânimo na sala. Então, na tentativa de levantar o astral do chefe, o
diretor complementa com a boa notícia: “Mas também não encontramos gás”. Os
dois respiram aliviados e terminam abraçados, em comemoração.
A anedota serve para ilustrar como o gás natural era visto, historicamente e sobretudo no Brasil, como fardo e mero subproduto do petróleo. Não é mais assim. A descoberta do pré-sal deixou em evidência o potencial do gás como fonte de energia e insumo para garantir competitividade à indústria de transformação. No entanto, apesar do avanço que foi propiciado pela nova Lei do Gás (14.134/21), esse arcabouço ainda tem sido apontado como insuficiente para uma evolução plena e rápida do setor. Basta observar os grandes números.
O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões
Editoriais / Opiniões
Houve exagero contra empresários
bolsonaristas
O Globo
Evidências comprovam necessidade de
investigar, não de congelar contas ou promover busca e apreensão
Fez bem o ministro Alexandre de Moraes, do
Supremo Tribunal Federal (STF), em divulgar enfim explicações sobre a operação
deflagrada pela Polícia Federal (PF) na semana passada contra um grupo de oito
empresários bolsonaristas que, em conversas num aplicativo de mensagens
reveladas pelo portal Metrópoles, prestavam apoio a um golpe que mantivesse o
presidente Jair Bolsonaro no cargo e evitasse a volta ao poder do ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva.
O teor absurdo das conversas precisa ser repudiado com veemência por qualquer um preocupado com o futuro da democracia brasileira, mas, como elas não traziam nenhum indício concreto de que os autores estivessem mesmo tramando ou financiando atos de cunho golpista — apenas manifestavam um desejo sem fundamento nem cabimento —, havia uma dúvida legítima sobre o embasamento da decisão de Moraes, que a divulgação contribui para dirimir.
terça-feira, 30 de agosto de 2022
Paulo Fábio Dantas Neto* - Um belo domingo para atuais terceiras vias
A moderação de Lula no debate - que muita
gente está interpretando como fraqueza – indica, a meu ver, que ele está lendo
corretamente o quadro. Ao contrário (para não variar) de Bolsonaro, que saiu
como um raio do debate, resmungando contra o mundo todo, nem sequer ficando
para as breves entrevistas de praxe do pós-debate. Mas são, sem dúvida, as
terceiras vias o que há de mais positivo e interessante a analisar, no momento.
Entre as duas candidaturas relevantes (politicamente) desse "campo" - Ciro Gomes e Simone Tebet - começa a se desenrolar um jogo muito interessante. Ambos foram bem porque trabalharam em paralelo, com distintas perspectivas, o que permite as distinções entre eles aparecerem, sem os colocarem, porém, em colisão, numa disputa ansiosa e estéril pelo terceiro lugar.
Merval Pereira - As marcas do passado
O Globo
Corrupção é uma pedra no caminho de Lula
para a Presidência da República e a misoginia de Bolsonaro é maior do que
qualquer estratégia política
A nova pesquisa do Ipec, antigo Ibope, deve
ter dado um alento aos dois candidatos que lideram a corrida presidencial. Lula
e Bolsonaro foram bem na bancada do Jornal Nacional e mantiveram suas posições,
mas devem ter perdido pontos no debate do pool da Bandeirantes no domingo. A
audiência não foi comparável à do Jornal Nacional, mas grande o suficiente para
ter deixado marcas negativas nas duas candidaturas.
Ao contrário, as senadoras Simone Tebet e
Soraya Thronicke podem ter ganhado terreno depois do debate, mas terão um
trabalho difícil para se tornar viáveis. Ciro Gomes, que, como Tebet, teve boa
atuação no debate, voltou a subir dentro da margem de erro, e talvez os dois
apareçam nas próximas pesquisas em alta.
Há uma constatação inescapável, no entanto: o tema da corrupção é uma pedra de razoável tamanho no caminho de Lula para a Presidência da República. O ex-presidente chegou a esboçar um bom reinício na bancada do Jornal Nacional, admitindo que houve corrupção, pois “as pessoas confessaram e dinheiro foi devolvido”. Mas fica difícil defender essa nova linha petista e afirmar que ele não sabia de nada. Um candidato que se autodenomina sem pejo “o melhor presidente que o Brasil já teve” não é capaz de explicar ao eleitorado que, sim, houve roubalheira nos governos petistas, mas que não sabia nem do mensalão, nem do petrolão.
Carlos Andreazza - Não temos Batman
O Globo
Ministro de Corte constitucional foi à
pesca com a Polícia Federal. Será difícil lhe cassar a vara depois
Alexandre de Moraes é ministro de Corte
constitucional. Não o Batman. Peço vênia pela franqueza. Nada é pessoal. Sou,
sobretudo, óbvio. Moraes, ou qualquer outro de seus pares, não tem mandato de
pacificador; muito menos de justiceiro. Ainda que diante do pior dos Coringas:
não tem. E deveria mesmo zelar pelo esvaziamento de sua presença monocrática.
Nada contra a vaidade. Tudo pelo foco. Não temos Batman. Mas há o prestígio de
estar no lugar mais alto do Judiciário. Deveria bastar. Um entre os 11. Não um
porque entre os 11.
O Supremo não pode ser plataforma para a
impulsão moderadora de um juiz onipresente; de repente tranquilo para decidir —
para mandar entrar na casa das pessoas e lhes bloquear as contas — com base em
reportagem jornalística. Pense-se no efeito cascata disso. Aqui o magistrado se
move — mal — a partir de bom jornalismo. Imagine-se, porém, o precedente aberto
para canetadas judiciais, Brasil profundo adentro, assentadas em publicações
fraudulentas.
A obviedade: a força de uma Corte constitucional está na voz do colegiado. Não no exercício da musculatura individual ao alcance de seus integrantes; o que deveria ser exceção — não abuso.
Míriam Leitão - O que marcou o primeiro debate
O Globo
Bolsonaro perdeu para si mesmo, ao exibir
sua raiva contra mulheres. Lula errou ao fugir do tema inescapável desta
campanha
Lula perdeu no confronto direto com
Bolsonaro, e Bolsonaro perdeu de si mesmo no debate
da Band. O erro do presidente não foi um deslize. Foi a confirmação da sua
verdadeira natureza. Ele detesta mulheres. O ataque à jornalista Vera Magalhães
é coerente com todos os muitos ataques a todas as outras jornalistas, e a todas
as mulheres ao longo da sua carreira e de seu mandato. O flanco foi aberto por
ele, por decisão própria, e desse ponto em diante o debate foi outro, tanto que
houve ao todo seis perguntas sobre mulher.
A grande dúvida sobre a qual todos os especialistas se debruçam é se debates mudam votos. A pesquisa do Ipec divulgada ontem mostrou, de novo, uma cristalização das intenções de votos tanto em Lula quanto em Bolsonaro: 44% a 32%. A mesma distância de 12 pontos entre os dois. A de quinta-feira, do Datafolha, poderá mostrar mais o efeito do debate. Bolsonaro precisa de pouco para o seu objetivo de curto prazo que é garantir que haja segundo turno. Reviravolta eleitoral é muito mais difícil de conseguir. Quando ele desferiu o ataque a Lula no item corrupção, tendo o vasto telhado de vidro que tem, o candidato do PT errou por fugir do tema inescapável na sua campanha. É absolutamente esperado que esse assunto surja muito ao longo dos debates e entrevistas e a desenvoltura mostrada pelo ex-presidente no Jornal Nacional não apareceu no confronto com os outros candidatos.
Luiz Carlos Azedo - No debate dos presidenciáveis, todos os homens são mortais
Correio Braziliense
O debate de domingo serviu para mostrar que há
mais opções além da polarização entre os candidatos que a promovem. O
ex-presidente Lula (PT) e o presidente Bolsonaro (PL) podem não ser “imortais”
As feministas da geração de Simone Tebet
(MDB) e Soraya Thronicke (União Brasil) têm como uma das referências a
escritora francesa Simone de Beauvoir, que foi casada com o filósofo
existencialista francês Jean Paul Sartre. O livro Todos os homens são mortais
(Nova Fronteira), de sua autoria, que empresta o título à coluna, conta a
história de Régine, uma atriz ambiciosa e invejosa, e o Conde Raymond Fosca,
rei de Carmona, personagem nascido no ano de 1279 (séc. XIII), que havia tomado
o remédio da imortalidade.
Régine é uma anti-heroína que reconhece
seus defeitos e se arrepende deles, mesmo sabendo que não conseguirá mudá-los.
Fosca surge no romance pelos olhos da atriz: “Esse homem! — disse ela. — Por
que se levanta tão cedo?”. Dele se aproxima. O antigo rei lhe conta seu
segredo, o de ser imortal, e a partir daí, Régine torna-se obcecada pela ideia.
Para demovê-la, Fosca narra a história de sua vida, desde 1279 até o seu
encontro com Régine, num passeio da Idade Média à Modernidade.
O livro foi lançado em 1946. Fosca apresenta vantagens e desvantagens de ser imortal. Com o passar dos anos — das guerras, das pestes, das mortes de amigos e inimigos e de entes queridos, como esposas e filho —, Fosca desanima da vida e passa a buscar respostas para suas perguntas nos outros, assim como é através deles que tenta viver. Não se percebe mais capaz de ser um ser humano como os demais. Quando termina sua história, Fosca deixa Régine sozinha. Cabe a ele seguir por milênios, amaldiçoado. O livro de Simone de Beauvoir nos revela que cada um tem “a dor e a delícia de ser o que é”.
Andrea Jubé - Político não guarda mágoa na geladeira
Valor Econômico
Bolsonaro errou ao não deixar o “fígado” em
Brasília
Em algumas situações, tratados científicos
e ditados populares equiparam-se como fonte de sabedoria. O notório “quem
avisa, amigo é” não precisa partir de um Einstein para atingir o alvo. Se o
destinatário do alerta confia no conselheiro - um amigo, ou um aliado - deveria
ouvi-lo para tomar a melhor decisão no momento.
O mau desempenho do primeiro e do segundo colocados nas pesquisas sobre a sucessão presidencial no debate promovido pela TV Bandeirantes (em “pool” com a TV Cultura, portal UOL e “Folha de S.Paulo”), pode ser atribuído, parcialmente, à resistência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do presidente Jair Bolsonaro em ouvir os aliados e acatar, ao menos parcialmente, os respectivos conselhos.
Hélio Schwartsman - Quem venceu o debate?
Folha de S. Paulo
Eleitor viu Bolsonaro como ele realmente é
e Lula evitando corrupção
Quem venceu o debate?
Essa é fácil. Triunfou o candidato pelo qual você, leitor, tem mais simpatia.
Via de regra, nossos cérebros operam buscando sinais que confirmem aquilo que
já pensamos. Isso é péssimo se o seu objetivo é fazer ciência (refutações são
logicamente mais informativas que corroborações), mas é ótimo se a meta é
azeitar a sua vida social.
Quando vemos nosso presidenciável favorito falando diante das câmeras, tendemos a superestimar os momentos em que ele se sai bem e a minimizar aqueles em que tropeça. Isso significa que debates são inúteis? Eu não iria tão longe, mas acho que podemos afirmar com segurança que eles são sobrevalorizados por marqueteiros, candidatos e jornalistas.
Cristina Serra - Debate, ringue ou picadeiro?
Folha de S. Paulo
Há regras demais
e concorrentes em excesso
A temporada de
debates com os candidatos a presidente mal começou e já produziu um dos
momentos mais infames da história das campanhas eleitorais no Brasil.
Inadmissível a brutalidade com que Bolsonaro reagiu a uma pergunta da jornalista
Vera Magalhães sobre vacinas.
Como esse é um
dos flancos de maior vulnerabilidade do candidato, ele se descontrolou e
mostrou quem verdadeiramente é: um depredador da imprensa, da democracia e dos
direitos das mulheres, além de mentiroso serial.
Diante da violência verbal do presidente (também contra a senadora Simone Tebet, do MDB), foi perturbadora a falta de reação do pool de empresas jornalísticas, anfitriãs do encontro televisivo. Bolsonaro deveria ter sido repreendido imediatamente. Mas o roteiro seguiu inalterado, a não ser pela solidariedade à jornalista por parte de alguns candidatos.
Alvaro Costa e Silva – O gatilho e a urna
Folha de S. Paulo
Organizados para eleger sua bancada no
Congresso, CACs preocupam
"Fica ligado, defensor de
bandido." Antes fosse uma postagem nas redes. Era um recado ao vivo que
Rodrigo Mondego, candidato a deputado estadual pelo PT do Rio, teve de ouvir
com uma pistola apontada para sua cabeça. O agressor é um policial
aposentado. Registrado um boletim de ocorrência por ameaça com arma
de fogo, o caso veio a público.
Mas há muitos outros, ocorrendo em todo o país na reta final das eleições, e de maneira escancarada, como o assassinato do petista em Foz do Iguaçu, que acendeu o alerta, e a tentativa de homicídio de um churrasqueiro em Brasília. Fora a simbologia grotesca de usar uma réplica da cabeça de Bolsonaro como uma bola de futebol de dois quilos e meio, chutada de um lado a outro no Minhocão, até se rasgar.
Eliane Cantanhêde - Bagunçando o coreto
O Estado de S. Paulo
Tebet e Thronicke não ameaçam liderança de Lula e Bolsonaro, mas deixam ambos nervosos
A eleição presidencial ganhou ritmo e novos
protagonistas, com Simone Tebet (MDB) e Soraya Thronicke (União Brasil) subindo
ao palco com Ciro Gomes (PDT) para disputar holofotes e a atenção e os votos de
moderados, indecisos e arrependidos. O show não é mais exclusividade de Lula
(PT) e Jair Bolsonaro (PL).
Debates e entrevistas tiram os candidatos
favoritos da zona de conforto e desbotam as imagens coloridas e favoráveis de
suas propagandas eleitorais, dando uma chance preciosa ao “segundo pelotão” das
pesquisas: a de se tornarem conhecidos. A partir daí, depende deles.
Morna no Jornal Nacional da TV Globo, Simone Tebet esquentou no debate do pool liderado pelas TVS Bandeirantes e Cultura. Firme, contundente e corajosa, avisou para Bolsonaro que “não tem medo” dele e não caiu na lábia de Lula, chamado de “encantador de serpentes” por Ciro. Atacou a misoginia de um e a corrupção atribuída ao outro.
Pedro Fernando Nery - A pobreza de Bolsonaro
O Estado de S. Paulo
A realidade é mais complicada do que nos zaps que Bolsonaro recebe dos seus aspones
O presidente repetiu no debate o argumento
da alienada fala sobre a fome do País: “Já viu alguém pedindo um pão?”. Para
Bolsonaro, o Auxílio Brasil, de R$ 600, supera confortavelmente a linha da
extrema pobreza. Esta, de US$ 1,90 por dia, giraria ao redor de R$ 10 diários,
enquanto o Auxílio seria de R$ 20 por dia. Há quatro erros aí:
1. A linha de extrema pobreza é, na
verdade, menor do que Bolsonaro pensa. Ela não é de US$ 1,90 por dia, mas de
US$ 1,90 “PPC”: uma medida ajustada por poder de compra com base em pesquisas
que comparam o custo de vida entre países.
Do Banco Mundial, é usada no Brasil pelo
IBGE. É quase uma outra moeda, e no seu câmbio o valor está mais próximo de R$
6 por dia. Quem está abaixo desta linha, portanto, vive com mais privações do
que na linha imaginada por Bolsonaro;
2. O valor do Auxílio nem sempre supera a
linha da extrema pobreza. A linha é de um consumo por pessoa, e o Auxílio é
pago por família.
Em uma família com pais e três crianças, a
média é de R$ 120 (R$ 600 por cinco). É, então, possível que uma família no
Auxílio esteja na extrema pobreza. Enquanto o Bolsa Família e o auxílio
emergencial pagavam valores maiores para famílias maiores, o Auxílio seguiu um
valor único – para facilitar o marketing. É um dos seus pontos fracos. A
desproporcionalidade faz com que o valor seja baixo em famílias vulneráveis, e
alto, em outros casos;
3. Bolsonaro complementa que basta, para quem está fora do Auxílio, pedir para entrar, porque não haveria fila. É falso. Câmara e Senado aprovaram o fim das filas. O presidente vetou o avanço, e assim o governo nega o benefício mesmo a quem satisfaz seus critérios;
Francisco Leali - O que é o sigilo de 100 anos que Bolsonaro defende
O Estado de S. Paulo
Presidente da República tem manifestado
apreço pelo segredo de documentos oficiais e, alguns deles, podem ficar
protegidos por um século
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
tenta colar no seu principal adversário na eleição deste ano, o
presidente Jair
Bolsonaro (PL), a pecha de o candidato dos “100 anos de
sigilo”. Repetiu isso no primeiro confronto direto entre os dois no debate
promovido na noite de domingo, 28, pela TV Bandeirantes num pool e veículos de imprensa.
Ainda não se sabe se o tema tem apelo eleitoral suficiente para tirar votos de
Bolsonaro, mas ajuda a expor uma marca da atual gestão do Palácio do Planalto:
o apego ao segredo de documentos oficiais.
Bolsonaro não inventou o sigilo de 100 anos. Ele é previsto na Lei de Acesso à Informação (LAI). Está expresso ali que informações pessoais estão protegidas e devem permanecer guardadas por um século. É o prazo mais longo de sigilo estabelecido pela legislação. A regra surgiu como uma salvaguarda para que cada cidadão tenha seus dados pessoais preservados da bisbilhotagem alheia. Também obrigou o Estado, que detém a informação, a guardá-la, sem direito à exposição pública. Ou seja, se você já foi operado no Sistema Único de Saúde (SUS), sua ficha médica não pode vir a público. Se declara ao imposto de renda que tem salário X, esse dado é somente seu e da Receita.
Marcelo Godoy - Apoio policial à democracia enterra risco de golpe de Bolsonaro
O Estado de S. Paulo
O Brasil de 2022 não é o de 2018; há quatro anos, o general Villas Bôas tuitava para manter Lula na cadeia e, agora, manifesta-se para defender a honra do Exército
O presidente
Jair Bolsonaro tem cada vez menos espaço para tentar permanecer
na Presidência a despeito do resultado das urnas eletrônicas. A viabilidade de
uma aventura golpista começou a esvanescer em 2020, quando a demissão de Sérgio
Moro retirou do presidente a bandeira da moralização da política.
Afinal, o ex-juiz deixara o cargo em razão da interferência política na Polícia
Federal, que, então, investigava o senador Flávio Bolsonaro, o filho
do presidente que comprara uma mansão por R$ 6 milhões em Brasília.
Bolsonaro viu, desde então, minguar o apoio que recebia na caserna. O que restou virou expressão da defesa de salários milionários pagos a generais do governo, do reajuste muito acima do recebido pelo funcionalismo e do pagamento de auxílios revigorados. O bolsonarismo militar tem uma origem ideológica, uma visão de mundo comum, que liga parte da caserna ao presidente, mas até seus críticos nos quartéis lembram que sua manutenção é auxiliada pelas sinecuras distribuídas a oficiais e a seus parentes e amigos, fazendo da participação verde-oliva no governo uma espécie de projeto pessoal de parte dessa burocracia.
Aylê-Salassié Filgueiras Quintão* - Necrolatria: O que um coração necrosado poderia fazer?
É de se lamentar que alguém o tenha convencido de que corações embalsamados podiam amenizar esse clima de ódio que está sendo vivido no Brasil, alimentado por dois sujeitos, duas facções, por meio de uma campanha eleitoral revanchista, descomprometida com a Nação, e que se espalha pelo Brasil, contaminando a população.
Incapazes de produzir um referencial retórico mais apurado esses políticos cunham, inconsequentemente, frases provocativamente lapidares, como: "Nós e eles". Se é um chamamento revolucionário, não sei. Está mais para algo meio boquirroto, que emerge involuntariamente no meio de um discurso de improviso. Mas que, por aqui inspira enfrentamentos entre bufões opostos, centrados no tema da corrupção - Mensalão, Petrolâo, Orçamento Reservado – dos quais são os principais protagonistas.
O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões
Editoriais / Opiniões
Debate evidencia limite de Bolsonaro no
público feminino
O Globo
Agressão gratuita a jornalista tirou dele a
vantagem obtida quando Lula derrapou falando de corrupção
O primeiro debate entre os presidenciáveis
na noite de domingo deixou claros os limites dos dois líderes nas pesquisas de
intenção de voto, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente
Jair Bolsonaro (PL). Lula teve dificuldades para dar explicações convincentes
sobre os escândalos de corrupção nos governos petistas. Quanto a Bolsonaro,
desferiu um ataque gratuito e abjeto à jornalista Vera Magalhães, colunista do
GLOBO e âncora do programa “Roda Viva”, da TV Cultura, que na certa lhe cobrará
um preço num público decisivo nesta eleição: o eleitorado feminino.
Desde o início do debate, promovido por um pool de veículos de imprensa liderado pela Band, Lula tentou desviar do tema mais incômodo para sua campanha, os escândalos na Petrobras. Em resposta à primeira pergunta, feita por Bolsonaro, reivindicou para o próprio governo leis de combate à corrupção e à lavagem de dinheiro aprovadas antes ou depois de sua gestão, para logo em seguida mudar de assunto e elencar conquistas sociais que atribuiu às gestões petistas. Como sempre faz quando o tema vem à baila, driblou a questão. A hesitação permitiu a Bolsonaro reivindicar a paternidade do Auxílio Brasil — de valor, segundo ele, maior que programas sociais do PT — e deixou-o em vantagem. Não durou muito.