quarta-feira, 5 de abril de 2023

J. B. Pontes* - Por que Lula está muito mal avaliado?

O governo Lula se aproxima dos cem primeiros dias, com uma aprovação nada animadora. Segundo nova pesquisa Datafolha, apenas 38% o avalia como ótimo ou bom e 29% o consideram ruim ou péssimo. Além disso, 61% pensam que ele agiu mal ao negociar cargos e verbas por apoio no Congresso.

O que levou o governo a essa avaliação pouco satisfatória? A seguir teceremos alguns comentários que poderão explicar essa percepção, que esperamos seja passageira.

Lula terá que governar com um dos piores parlamentos de nossa história, especialmente na Câmara dos Deputados. O ex-presidente Bolsonaro conseguiu piorar em muito a composição do Congresso, ao disponibilizar uma enorme quantidade de recursos públicos nas mãos dos políticos do Centrão e direcionar toda a estrutura do Estado para angariar apoios políticos visando a sua reeleição e a eleição de uma maioria de parlamentares apoiadores do seu governo.

Infelizmente, o povo ainda não entendeu a dinâmica da democracia. Ao votar, não tem a percepção que o mandatário não governa isoladamente, mas em conjunto com o parlamento. E que, portanto, é ilógico votar ao mesmo tempo num presidente e em parlamentar que lhe fará oposição. E continuará sendo assim, se nada for feito para elevar a consciência social e política do povo, de forma a incluí-lo na democracia.

Lula não tinha, nessas circunstâncias, alternativa senão negociar com o Centrão fisiológico, na busca de construir uma base de sustentação de seu governo, necessária à aprovação de seus projetos. E a negociação com partidos fisiológicos só pode ser feita com base do toma-lá-dá-cá. Aos que estão insatisfeitos com isso, preciso se faz esclarecer que Lula não fez isso por livre vontade, mas sim por necessidade. Pior ainda: apesar de ter distribuído ministérios e verba para partidos do Centrão, a percepção é de que seu governo ainda não tem uma base sólida no parlamento suficiente para aprovar projetos de seu interesse. Eles são insaciáveis...

E não nos iludamos, a cisão do Centrão recentemente ocorrida, com a formação de um novo bloco de 142 parlamentares, poderá até enfraquecer o poder de Arthur Lira, mas significa apenas que teremos doravante dois Centrões.

Não resta dúvida de que Lula tem enfrentado e enfrentará grandes dificuldades para exercer o seu terceiro mandato como Presidente. É utópico esperar que ocorram grandes avanços; que ele seja capaz de reverter, por exemplo, a entrega do patrimônio do País ao capital internacional feita pelos governos anteriores, notadamente por Bolsonaro. Continuaremos a exportar “in natura” os nossos ricos minérios e a soja aqui produzida, que vão gerar empregos e renda em outros países, especialmente China e EUA, em detrimento de um projeto nacional de industrialização. Para nós restarão a degradação ambiental do solo e dos rios, poucos ricos e muitos pobres.

Quando muito o “deus mercado” vai permitir que Lula cuide dos programas sociais, voltados à mitigação da pobreza. Desde que isso seja feito com moderação, sem grandes ônus para os cofres públicos, de forma a não comprometer a capacidade de pagar os juros e encargos da dívida pública que, com a manutenção da atual taxa de juros, alcançará mais de R$ 800 bilhões em 2023. E o resto deixe que ele (deus mercado) comande como sempre foi e continuará sendo. E os militares continuam falando em soberania...

Outros obstáculos, alguns de difícil superação, também atrapalham os planos do novo governo: o Banco Central sob controle do mercado, defendendo os interesses dos rentistas, com a manutenção da taxa de juros em patamar elevado (13,75% / ano, uma das maiores do mundo); a mídia corporativa que continua batendo forte; a extrema direita organizada nas redes sociais, prosseguindo na divulgação de fakes news, e no Congresso Nacional.

Bastou algumas falas infelizes e desnecessárias proferidas pelo Presidente Lula, sempre em relação ao ex-juiz desmoralizado e atual Senador Sérgio Moro, para que a oposição se entusiasmasse. No jargão popular, Lula bateu palmas para doido dançar.

Até o ex-presidente de triste memória resolveu voltar ao Brasil. E desembarcou elogiando o parlamento, afirmando que este melhorou muito e que tem esperança que criará grandes dificuldades para o governo de seu opositor.

É preciso ressaltar, no entanto, que o Governo Lula 2023, apesar dos percalços, tem promovido boas ações, com destaque para: beneficiar os excluídos, como a retomada dos programas Bolsa Família e Minha Casa, Minha vida, dentre outros; coibir o garimpo ilegal; proteger a Amazônia; salvar o povo indígena Yanomamis; retomar o diálogo com a sociedade; restabelecer o diálogo com todos os governadores, com os quais firmou um pacto pela defesa da democracia, pelo desenvolvimento socioeconômico e pela retomada de obras paralisadas. Cite-se ainda, a retirada da Petrobrás, dos Correios e mais 6 empresas públicas da lista de privatização.

Neste contexto, aos verdadeiros democratas cabe uma missão quase sagrada: lutar para conter a onda nazifascista que envolveu parcela significativa da sociedade. Não nos resta alternativa: temos que apoiar e defender o governo Lula.

As hienas bolsonaristas vão continuar atentas, aguardando uma oportunidade para atacar.

*Geólogo, advogado e escritor

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