Folha de S. Paulo
Petista deve tentar expandir base com fatia
do eleitorado que aguarda resultados concretos do governo
Lula começou
o terceiro governo com o apoio de um núcleo duro formado por 19% do eleitorado.
São brasileiros que, na última semana, disseram ao
Datafolha que votaram no petista, consideram sua gestão ótima
ou boa e acreditam que ele vai cumprir a maioria das promessas de campanha.
Os dados indicam que o presidente larga com
a sustentação de um lulismo consistente –na proporção de um em cada cinco
eleitores. Por outro lado, aponta também para a existência de grupos numerosos
cujo apoio dependerá de
resultados concretos do governo.
A classificação foi elaborada pelo Datafolha a partir de uma análise de três respostas de cada entrevistado: o voto declarado no segundo turno, a avaliação do governo e a expectativa sobre o cumprimento das promessas de campanha.
O núcleo duro corresponde a uma faixa de
lulistas intensos ("heavy", na nomenclatura da pesquisa). Refletindo
o quadro da última eleição, o grupo tem renda abaixo da média nacional (67%
recebem até dois salários mínimos) e menos evangélicos (17%) do que a população
em geral (27%). Há mais mulheres (57%) do que homens (43%).
Só 6% desses eleitores disseram que Lula
fez menos do que o esperado até aqui. Eles dão mais valor a políticas de
combate à miséria (21% afirmaram que esse foi o destaque do
governo), e 22% responderam que o presidente não foi mal em nenhuma área. Quase
todos (98%) acreditam que a gestão continuará bem.
O núcleo duro de Lula (19%) supera o percentual
de bolsonaristas "heavy" (12%) medido em setembro de 2019.
A comparação é possível ainda que uma das variáveis usadas pelo Datafolha no
governo passado fosse diferente (a confiança nas declarações do presidente no
lugar das expectativas sobre as promessas).
Lula tem em seu extremo oposto 16% dos
eleitores ouvidos pelo Datafolha. São os não lulistas intensos: não votaram no
petista, consideram o governo ruim ou péssimo e afirmam que nenhuma promessa
será cumprida. É uma faixa com renda média mais alta e maior representação no
Sudeste do que os lulistas fiéis.
A pesquisa atual mapeou também dois
segmentos que somam quase metade do eleitorado e que poderão ser cruciais para
determinar a força de Lula daqui por diante.
O primeiro (21% do eleitorado) é formado
por lulistas moderados: votaram no petista, mas não aprovam o governo
(consideram regular, ruim ou péssimo) ou aprovam o governo, mas acham que ele
não vai cumprir a maioria das promessas. Aqui, 38% dizem que o presidente fez
menos do que esperavam. Há mais eleitores do Sudeste (40%) do que no núcleo
duro (32%).
Há também o grupo dos não lulistas leves
(27% do eleitorado). Eles não apoiaram o petista (votaram em Jair Bolsonaro, em
branco, nulo ou não compareceram às urnas), consideram o governo ótimo, bom,
regular ou não souberam responder e acreditam que Lula cumprirá ao menos parte
de suas promessas.
Quase metade dos não lulistas
"light" acha, no entanto, que a gestão do petista será ótima ou boa
–o que deve tornar o segmento alvo de cobiça do governo. Nesse grupo, há uma
concentração considerável de eleitores de baixa renda (57%), evangélicos (34%)
e moradores do Sudeste (50%).
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