Primeiro trimestre não autoriza relaxamento fiscal
O Globo
Resultado primário, mesmo positivo, ficou
aquém do registrado em 2023, e as perspectivas são desafiadoras
Há menos de um ano, o governo aprovou no
Congresso um novo arcabouço fiscal, prometendo zerar o déficit público em 2024,
obter superávits de 0,5% do PIB em 2025 e 1% em 2026. Neste mês os objetivos
foram afrouxados. Mesmo assim, o ajuste continua desafiador. O resultado do
Tesouro Nacional divulgado ontem não traz motivo para otimismo. As contas
fecharam o primeiro trimestre com superávit de 0,7% do PIB, abaixo do resultado
de 1,2% do ano passado. E a situação é passageira. A trajetória projetada para
a dívida é de alta, e não há sinais de estabilização.
O endividamento brasileiro tem múltiplas causas. É comum considerar que o principal responsável é o Legislativo. As regras eleitorais incentivam cálculos individualistas dos parlamentares. É preciso vencer candidatos dentro do próprio partido e derrotar outras legendas. Isso explica a ânsia com que parlamentares lutam por benefícios para suas bases ou para favorecer financiadores de campanha. O ímpeto é gastar mais e mais, sem se preocupar com as consequências. “Este Parlamento com viés pró-déficit ganhou crescente poder em relação ao Executivo ao longo das últimas décadas”, afirmam os economistas Marcos Mendes e Rogério Nagamine em artigo recente. Só no ano passado, 26% dos vetos presidenciais apreciados pelo Congresso foram derrubados. Não é à toa que a atual crise em Brasília se dê em torno de vetos presidenciais e pautas-bombas.