quinta-feira, 7 de novembro de 2024

Melhor é ser ignorado pelo futuro governo Trump - Assis Moreira

Valor Econômico

Pelo cenário atual em Washington, Brasil é um dos países mais vulneráveis a enfrentar tensões comerciais com o futuro governo

No seu primeiro mandato como presidente, Donald Trump utilizou sem hesitação a alta de tarifas de importação para punir tanto rivais como aliados e forçar as empresas a fabricar seu produtos nos EUA.

Confirmado para voltar à Casa Branca, Trump vem agora com plano ainda mais agressivo, de imposição de “tarifa universal” de 10% a 20% sobre a maioria das importações e de 60% sobre a China, o inimigo número um.

Economistas citados pelo “New York Times” comparam a provável imposição por Trump de barreiras comerciais em níveis não vistos em gerações a uma granada lançada no coração do sistema internacional de comércio baseado em regras comuns.

Pelo cenário atual em Washington, o Brasil é um dos países mais vulneráveis a enfrentar tensões comerciais com o futuro governo Trump, segundo um estudo do Global Trade Alert (GTA), que monitora o desenvolvimento de políticas comerciais.

Entre 173 economias, o Brasil aparece entre as 14 com maior risco de mais investigações dos EUA sobre supostas práticas comerciais desleais nos próximos anos.

O GTA identifica cinco queixas comuns de Washington e coleta informações sobre sua relevância para cada parceiro comercial. Atribui então bandeiras vermelhas aos parceiros comerciais com desempenho “ruim” em critérios predefinidos.

Resultado: 14 economias receberam de três a cinco bandeiras vermelhas. O país com o máximo de “pecados” seria a Coreia do Sul, com cinco, e não a China, com quatro. O Brasil tem três bandeiras vermelhas, por causa de taxa de câmbio, medidas que ajudariam empresas brasileiras e colocariam em risco exportações americanas e preocupações com práticas brasileiras mencionadas no relatório anual de Estimativa de Comércio Nacional sobre Barreiras ao Comércio Exterior (NTE).

Portanto, se a relação do Brasil com um governo Trump foi difícil com os presidentes Michel Temer e Jair Bolsonaro, ideologicamente próximos, pode-se imaginar com o governo Lula, considerando o apetite trampista de criar ringue ideológico.

A verdade é que governo Trump não negocia, governo Trump impõe, relatam diferentes fontes. As regras habituais da diplomacia e da política comercial não funcionam da mesma forma com a equipe do futuro presidente americano. É preciso ver se ele virá com time novo e métodos novos.

Para o governo Lula, a melhor coisa que pode acontecer a partir de agora é ser ignorado pelo futuro governo Trump. A Casa Branca dá de toda maneira pouca atenção a Brasília. Quando olha para o Brasil, é para pressionar por algo.

Há temas que o primeiro governo Trump pressionou muito o Brasil, passaram pelo governo Joe Biden e devem voltar à agenda bilateral do Trump 2.0 mais agressivo.

Um deles é a cobrança para o Brasil eliminar alíquota de 20% na importação do etanol americano. O governo Trump queria que seus produtores pudessem exportar livremente para o mercado brasileiro, o que seria um problema para o Brasil.

O governo Trump também pressionou forte sobre os equipamentos da chinesa Huawei na rede de telecomunicações 5G no Brasil. A empresa está na lista negra dos EUA e considerada uma ameaça à segurança nacional dos americanos. O governo brasileiro resistiu, em meio a divisões internas.

Também no governo Trump, os americanos queriam que o Brasil não concedesse proteção de indicação geográfica pedida pela União Europeia (UE) que entraria em conflito com produtos americanos. Este é um tema que continua na mesa de negociação UE-Mercosul.

Ao mesmo tempo, o governo dito amigo de Trump continuou aplicando a seção 232 de sua legislação contra aço e alumínio, apesar de todas as demandas do governo Bolsonaro por revisão da medida. Não fez a menor concessão no uso da 232, que dá ao presidente americano amplos poderes para limitar a entrada do produto estrangeiro se concluir que a importação ameaça a segurança nacional.

Uma área em que houve avanço entre os governos amigos Trump e Bolsonaro foi na de negociar capítulos de acordo comercial, com base em demandas do setor privado.

O “America First” de Trump afetará outras agendas do governo Lula. A proposta que o presidente brasileiro lançou de revisão da carta das Nações Unidas, para evitar que siga “esvaziada e paralisada”, não tem mesmo como prosperar. A agenda internacional do clima também sofre um baque e pode-se imaginar o que não ocorrerá na 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30), a ser realizada em Belém em novembro de 2025.

Por outro lado, o Brasil presidirá o Brics no ano que vem, tendo na agenda também aproximação comercial e o uso de moeda local nas trocas entre os grandes emergentes.

3 comentários:

Anônimo disse...

Trump e a primeira "granada lançada no coração do sistema internacional de comércio"... E muitas outras virão, e ainda mais potentes! O canalha é completamente irresponsável e desequilibrado!!

Anônimo disse...

Perdeu mané, não amola....

Anônimo disse...

É isso aí parceiro, Não amola!!! Kkkkk