Globo
Livro sobre campanha das Diretas mostra país
alegre que se foi
O Senado relançou ontem o livro “Explode um
novo Brasil: diário da campanha das Diretas”, do repórter Ricardo Kotscho, que
cobriu para a Folha de S.Paulo a maior campanha popular da História do Brasil.
Ela começou em fevereiro de 1983, quando o deputado Dante de Oliveira (PMDB-MT)
apresentou um projeto de Emenda Constitucional restabelecendo as eleições
diretas para a Presidência da República, e terminou em abril de 1984, quando a
proposta foi ao arquivo porque lhe faltaram 22 votos.
Ler o “Diário” de Kotscho permite revisitar a explosão de manifestações políticas de um Brasil alegre, atirado em doces paradoxos. No primeiro, a campanha das Diretas foi derrotada, mas Tancredo Neves foi eleito indiretamente, marcando o fim da ditadura. No segundo, eleito, Tancredo morreu sem assumir. José Sarney, seu vice, saído do partido do governo, conduziu a transição para a democracia e, em 1989, presidiu a primeira eleição direta desde 1960.
O “Diário” de Kotscho vai de novembro de 1983
a abril de 1984 e é uma viagem a um tempo que se foi. Passados mais de 40 anos,
foram-se grandes nomes dessa campanha: Ulysses Guimarães, Franco Montoro,
Leonel Brizola e Mário Covas. Restam Lula, Fernando
Henrique Cardoso e Paulo Maluf. Candidato do governo, Maluf anunciou
no dia 1º de novembro:
— O jogo está encerrado.
Nas suas contas, estava eleito.
Kotscho conta como a campanha começou, mal,
numa festa-comício do PT apoiado por 70 entidades da sociedade civil. Depois
disso, Franco Montoro, governador de São Paulo, e Ulysses Guimarães, presidente
nacional do PMDB, jogaram o partido na campanha.
A emoção do repórter Kotscho contando essas
manifestações é a alma de seu livro.
No dia 25 de janeiro, realizou-se em São
Paulo o grande comício da Praça da Sé, com todos os notáveis da campanha, 200
mil pessoas, Fernanda
Montenegro, Gilberto
Gil, Fafá de Belém e Regina
Duarte.
Em fevereiro, 25 mil brasileiros reuniram-se
em Teresina. Isso equivalia a 30% da população. Mais 25 mil em São Luís e 50
mil em Curitiba.
Ao fim de fevereiro, cerca de 1 milhão de
pessoas foram às ruas em quase todas as grandes cidades do país.
Cantavam-se os hinos da Independência, o
Nacional e “Apesar de você”, de Chico
Buarque, ou “Pra não dizer que não falei das flores”, de Geraldo Vandré.
Vestiam-se camisetas amarelas, e os dias de comício eram de festa. Nenhuma
mobilização política da História teve a grandiosidade e a alegria da campanha
das Diretas. Kotscho mostra isso com o olhar num humor que, por enquanto, se
foi.
Kotscho conta as grandes noites dos comícios
da Candelária, no Rio, e do Anhangabaú, em São Paulo. Depois disso, sofre
narrando a derrota da Emenda Dante de Oliveira. É raro o aparecimento de um
livro tão valioso, tantos anos depois.
O “Diário” de Kotscho, fartamente ilustrado,
está à venda no site da Livraria do Senado. Lá, na Biblioteca Digital, sua
versão eletrônica (e completa) pode ser baixada, de graça.
Vale avisar que a Biblioteca Digital do
Senado oferece, sempre de graça, centenas de livros de grandes autores sobre a
História do Brasil, desde a coleção “História dos fundadores do Império do
Brasil”, de Otávio Tarquínio de Sousa, à “História do Brasil”, de João
Armitage. Um tesouro.
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