quarta-feira, 19 de março de 2025

Bananinha no exílio - Bernardo Mello Franco

O Globo

Eduardo Bolsonaro trocou o trabalho em Brasília por uma temporada de férias nos Estados Unidos. O Zero Três informou que pediu licença da Câmara. Partiu sem marcar data para voltar ao batente.

O anúncio causou surpresa até no PL. O deputado estava em campanha para presidir a Comissão de Relações Exteriores. Queria usá-la como tribuna para defender o pai, prestes a virar réu por tentativa de golpe.

Há três semanas, deputados do PT pediram a apreensão do passaporte de Eduardo. Alegaram que ele tentava usar seus contatos nos EUA para obstruir investigações e interferir em instituições brasileiras.

No vídeo divulgado ontem, o Zero Três indicou que os adversários tinham razão. Ele voltou a atacar a Polícia Federal, chamou integrantes do Supremo de “psicopatas” e avisou que sua nova “meta de vida” é retaliar o ministro Alexandre de Moraes. Mais tarde, escancarou suas intenções ao dizer que “a solução vai vir aqui dos EUA para resgatar nossas liberdades no Brasil”.

O filho de Jair Bolsonaro sempre tentou ser notado pela extrema direita americana. Quando o pai estava no poder, fez lobby para virar embaixador em Washington. A nomeação não saiu, mas ele conseguiu se aproximar de figuras como o ideólogo Steve Bannon.

Desde o início do ano, Eduardo viajou quatro vezes para os EUA. Descolou um convite para a posse de Trump e um comunicado do Departamento de Estado com críticas a decisões do Supremo que impuseram multas e bloqueios à rede X, de Elon Musk.

O comício do último domingo mostrou que a família Bolsonaro perdeu capacidade de mobilização. O ex-presidente havia prometido reunir um milhão de seguidores em Copacabana. Só juntou 18 mil, segundo medição de pesquisadores da USP. O fiasco complicou o plano de emparedar o Congresso para aprovar uma anistia aos golpistas. Isso ajuda a entender o factoide do exílio voluntário nos EUA.

Quando o clã estava por cima, o Bananinha ameaçava chamar um soldado e um cabo para fechar o Supremo. Agora que o pai se vê em apuros, ele tenta posar de perseguido político.

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