Correio Braziliense
Em vídeo, o filho do ex-presidente alegou que
está sendo perseguido pelo ministro Alexandre de Moraes e anunciou que pedirá
asilo ao governo dos EUA
Estava praticamente tudo certo: o presidente
da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara seria o deputado
Eduardo Bolsonaro (PL-SP), indicado pelo líder de seu partido, Sóstenes
Cavalcante (RJ). Pelo critério da proporcionalidade entre as bancadas, cabe à
legenda com maior número de deputados, no caso o PL, escolher primeiro as
comissões que pretende dirigir. Entretanto, de última hora, Eduardo Bolsonaro
se licenciou do mandato, anunciou que pretende pedir asilo aos Estados Unidos,
onde está, e indicou o líder da oposição na Câmara, deputado Zucco (PL-RS),
para o seu lugar na comissão.
Tudo isso ocorreu depois da manifestação de domingo, em Copacabana, em protesto contra a condenação dos envolvidos na tentativa de golpe de 8 de janeiro, convocada pelo pastor Silas Malafaia e o ex-presidente Bolsonaro, que reuniu ainda os governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas (PR); Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), Mato Grosso, Mauro Mendes (União); e Santa Catarina, Jorginho Mello (PL). Tarcísio defendeu anistia aos vândalos da Praça dos Três Poderes e criticou a inelegibilidade de Bolsonaro.
Nos bastidores de Brasília, comenta-se que a
decisão de substituir Eduardo Bolsonaro por Zucco foi tomada pelo presidente do
PL, Valdemar Costa Neto, para não aumentar o estresse com o Supremo Tribunal
Federal (STF), o que ele nega. Eduardo já fez várias viagens aos EUA para fazer
pressão contra o Judiciário brasileiro junto às autoridades norte-americanas, o
que levou o líder do PT, Lindbergh Farias (PT-RJ), e seu colega de bancada
Rogério Correia (PT-MG) a pedirem ao STF que apreendesse o seu passaporte.
Nesta terça-feira, o pedido foi negado pela
Procuradoria-Geral da República (PGR). Entretanto, em vídeo publicado nas
redes, Eduardo alegou que está sendo perseguido pelo ministro Alexandre de
Moraes, responsável pelo inquérito que investiga a tentativa de golpe de Estado
de 8 de janeiro. “Tornei-me deputado para representar o povo paulista no melhor
interesse da minha nação. O que o ministro do Supremo Tribunal Federal e seus
cúmplices estão tentando fazer é usar justamente o meu mandato como cabresto,
como ferramenta de chantagem e coação do regime de exceção. Como instrumento
para me prender e impedir que eu represente os melhores interesses para o meu
país”, disse.
“Da mesma forma que assumi o mandato
parlamentar para representar a minha nação, eu abdico temporariamente dele para
seguir bem representando esses milhões de irmãos de pátria que me incumbiram
dessa nobre missão”, completou. O parlamentar refere-se às articulações que já
vinha fazendo junto aos republicanos nos Estados Unidos, principalmente na
Comissão de Relações Exteriores da Câmara de Deputados. Eduardo articulou,
inclusive, medidas de retaliação a Moraes.
Inelegibilidade
O gesto de Eduardo pegou de surpresa os seus
colegas de bancada, pois é um nome cotado para ser candidato ao Senado por São
Paulo, em 2026, ou mesmo substituir o pai na disputa pela Presidência. Jair
Bolsonaro (PL) se emocionou ao falar sobre a permanência do filho nos Estados
Unidos, na solenidade que inaugurou uma exposição sobre o Holocausto no Senado,
em Brasília. Com voz embargada, disse: “Hoje está sendo um dia marcante para
mim. O afastamento de um filho. Mais um filho que se afasta mais do que por um
momento de patriotismo. Um filho que se afasta para combater algo como o
nazifascismo que se coloca no nosso país”.
O ex-presidente se queixou de que teve seu
passaporte apreendido por ordem da Justiça, o que o teria impedido, segundo
ele, de ir a Israel e aos Estados Unidos, inclusive para participar da posse de
Donald Trump (Republicanos). “Tenho convicção de que ele (Trump) continuará
abraçando meu filho”, disse o ex-presidente, ao citar a menção feita pelo
presidente norte-americano a Eduardo, durante evento conservador no mês
passado. A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e o filho mais velho do
ex-presidente, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), participaram da solenidade,
que contou com a presença do embaixador de Israel, Daniel Zonshine.
Bolsonaro apostava na mobilização popular
para levar o Congresso a derrubar sua inelegibilidade e anistiar todos os
condenados por envolvimento no 8 de Janeiro. A estratégia fracassou por dois
motivos: primeiro, porque há um certo cansaço com a radicalização política até
entre os eleitores de direita; segundo, porque os aliados do Centrão preferem
vê-lo fora disputa de 2026, principalmente os que desejam que o governador
Tarcísio de Freitas seja candidato ou já apoiam os governadores de Minas, Romeu
Zema (Novo); de Goiás, Ronaldo Caiado (União); e do Paraná, Ratinho Junior
(PSD).
Entretanto, Bolsonaro não se dá por vencido.
Mantém-se ativo como pré-candidato a presidente da República, mesmo estando
inelegível. Como a legislação eleitoral prevê que a inelegibilidade somente
seja levada em conta no momento de registro de candidatura, esse interregno
permite que faça campanha pela anistia e se mantenha nas ruas, para somente ser
substituído como candidato já em pleno processo eleitoral.
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