O Estado de S. Paulo
Se as projeções de inflação continuarem nos níveis atuais, trazer a inflação para a meta ficará mais caro
Até onde o Banco Central pretende subir a
taxa Selic é o grande foco de atenção ao fim da reunião do Copom hoje, uma vez
que uma alta de 1 ponto porcentual, para 14,25%, já está sacramentada. Resta
saber, no comunicado que acompanhará a decisão, qual será a sinalização para os
próximos passos do atual ciclo de aperto monetário.
De um lado, exacerbou-se a incerteza do ambiente externo, particularmente o que vai acontecer, de fato, com a guerra comercial do presidente Donald Trump, diante do seu vaivém na adoção das tarifas de importação. Ninguém sabe ao certo qual o impacto dessa política econômica dos EUA, se será apenas inflacionária ou se jogará o mundo numa recessão. Os principais bancos centrais ainda estão debatendo a estratégia adequada para reagir aos efeitos das medidas de Trump.
De outro, do ponto de vista doméstico, as
expectativas de inflação seguem bem acima da meta ao longo do horizonte
relevante para o Copom. É verdade que, após um período de piora acelerada,
essas expectativas começaram a se estabilizar, porém num patamar desconfortavelmente
elevado. E se as projeções de inflação permanecerem nesse nível, o custo para
trazê-las de volta à meta será mais salgado, incluindo uma desaceleração mais
profunda da economia. Sem falar que, na inflação corrente, os preços
subjacentes, como os de serviços, ainda apontam pressão adiante.
Na visão dos analistas, o fator doméstico –
expectativas de inflação desancoradas – é o mais urgente para ser combatido
pelo Copom neste momento. E mesmo levando em conta a estimativa dos analistas
de uma Selic subindo para 15% ao fim deste ano, conforme a pesquisa Focus, até
as projeções de inflação do Copom seguiriam muito acima da meta. Ou seja, não
dá para encerrar o ciclo a 14,25%. Assim, o que importa é saber o quanto acima
desse patamar a Selic pode subir.
A aposta é de o comunicado dizer que o ciclo
de aperto seguirá, mas que, dado o nível já bastante restritivo dos juros, o
ritmo de alta será mais moderado na reunião de maio. Isso seria interpretado
como uma indicação de que a alta seguinte seria de 0,50 ponto. Espera-se,
também, que o Copom deixe em aberto a possibilidade de outra alta dos juros em
junho. Se isso não acontecer, a leitura será de que a sinalização terá sido
mais suave.
Há quem defenda que o BC precise já levar em
conta um esfriamento maior da economia brasileira. Até agora os dados têm sido
mistos, ou seja, a evidência não corroboraria uma preocupação preponderante com
a atividade. O foco ainda precisa ser a inflação.
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