Correio Braziliense
O silêncio do mundo é ensurdecedor. Netanyahu
decidiu prosseguir com a matança de palestinos porque conta com a anuência de
Donald Trump
Enquanto você lê esse texto, pais e mães se
debruçam sobre o corpo inerte de seus filhos. Tantos outros são inundados por
uma saudade dolorosa dentro de um quarto — ou uma tenda — tomado por um vazio
cruel. Provavelmente se agarram ao cheiro de suas crias, que ficou impregnado
na roupa. E o mundo se cala. Na madrugada desta terça-feira, recebi fotos de
fontes na Faixa de Gaza. Crianças transformadas em bonecos retalhados e
largados no chão ou sobre uma mesa fria de um necrotério.
No momento em que escrevo, passam de 450 os mortos nos bombardeios israelenses no território palestino. As forças do premiê Benjamin Netanyahu, cuja sobrevida política depende da guerra, se mobilizam para expandir a campanha militar. Prenúncio de mais violações do direito internacional e massacres. E o mundo se cala.
É justo impor uma punição coletiva a uma
população civil e desarmada por conta da existência de grupos terroristas?
Parece-me inconcebível que a comunidade internacional não force Israel a deter
a matança. No fim das contas, é óbvio que a aposta de Netanyahu pelas armas
coloca os reféns do Hamas em risco real de morte. A facção extremista avisou
que o destino dos sequestrados é incerto — uma clara ameaça a Netanyahu. Os
bombardeios massivos a Gaza apenas condenam 2 milhões de palestinos — a imensa
maioria formada por gente inocente e trabalhadora — ao horror. Mas, também,
sentenciam os próprios israelenses a mais insegurança e medo.
O silêncio do mundo é ensurdecedor. Netanyahu
decidiu prosseguir com a matança de palestinos porque conta com a anuência de
Donald Trump. Afinal de contas, valem muito mais os interesses comerciais e
políticos do que vidas humanas. É indiscutível que o massacre de 7 de outubro
de 2023 tenha sido dantesco, horrível e digno de condenação absoluta. É
indiscutível que um país atacado tenha direito de se defender. Mas é
inaceitável que essa defesa seja feita às custas das vidas de milhares de
palestinos. Isso deixa de ser autoproteção. Passa a ser vingança.
Somente a criação de um Estado palestino
independente e soberano pode pôr fim à matança desenfreada no Oriente Médio e
estabilizar a conturbada região, que enfrenta o perigo de um mergulho na
guerra. Os rebeldes huthis, do Iêmen, armados pelo Irã, retomaram ataques a
embarcações no Mar Mediterrâneo. Os EUA têm feito reiteradas ameaças ao regime
iraniano. O cessar-fogo no Líbano segue frágil, e o Hezbollah permanece ativo.
Israelenses e palestinos precisam colocar a
prioridade pela paz à frente do ressentimento, do ódio e do desejo de vingança.
Concessões difíceis devem ser tomadas por ambos lados. Elas incluem o status
quo de Jerusalém como capital e o retorno dos refugiados. Pela segurança das
futuras gerações.
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