quarta-feira, 19 de março de 2025

E o mundo se cala... – Rodrigo Craveiro

Correio Braziliense

O silêncio do mundo é ensurdecedor. Netanyahu decidiu prosseguir com a matança de palestinos porque conta com a anuência de Donald Trump

Enquanto você lê esse texto, pais e mães se debruçam sobre o corpo inerte de seus filhos. Tantos outros são inundados por uma saudade dolorosa dentro de um quarto — ou uma tenda — tomado por um vazio cruel. Provavelmente se agarram ao cheiro de suas crias, que ficou impregnado na roupa. E o mundo se cala. Na madrugada desta terça-feira, recebi fotos de fontes na Faixa de Gaza. Crianças transformadas em bonecos retalhados e largados no chão ou sobre uma mesa fria de um necrotério.

No momento em que escrevo, passam de 450 os mortos nos bombardeios israelenses no território palestino. As forças do premiê Benjamin Netanyahu, cuja sobrevida política depende da guerra, se mobilizam para expandir a campanha militar. Prenúncio de mais violações do direito internacional e massacres. E o mundo se cala.

É justo impor uma punição coletiva a uma população civil e desarmada por conta da existência de grupos terroristas? Parece-me inconcebível que a comunidade internacional não force Israel a deter a matança. No fim das contas, é óbvio que a aposta de Netanyahu pelas armas coloca os reféns do Hamas em risco real de morte. A facção extremista avisou que o destino dos sequestrados é incerto — uma clara ameaça a Netanyahu. Os bombardeios massivos a Gaza apenas condenam 2 milhões de palestinos — a imensa maioria formada por gente inocente e trabalhadora — ao horror. Mas, também, sentenciam os próprios israelenses a mais insegurança e medo.

O silêncio do mundo é ensurdecedor. Netanyahu decidiu prosseguir com a matança de palestinos porque conta com a anuência de Donald Trump. Afinal de contas, valem muito mais os interesses comerciais e políticos do que vidas humanas. É indiscutível que o massacre de 7 de outubro de 2023 tenha sido dantesco, horrível e digno de condenação absoluta. É indiscutível que um país atacado tenha direito de se defender. Mas é inaceitável que essa defesa seja feita às custas das vidas de milhares de palestinos. Isso deixa de ser autoproteção. Passa a ser vingança.

Somente a criação de um Estado palestino independente e soberano pode pôr fim à matança desenfreada no Oriente Médio e estabilizar a conturbada região, que enfrenta o perigo de um mergulho na guerra. Os rebeldes huthis, do Iêmen, armados pelo Irã, retomaram ataques a embarcações no Mar Mediterrâneo. Os EUA têm feito reiteradas ameaças ao regime iraniano. O cessar-fogo no Líbano segue frágil, e o Hezbollah permanece ativo.

Israelenses e palestinos precisam colocar a prioridade pela paz à frente do ressentimento, do ódio e do desejo de vingança. Concessões difíceis devem ser tomadas por ambos lados. Elas incluem o status quo de Jerusalém como capital e o retorno dos refugiados. Pela segurança das futuras gerações.

 

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