O Globo
Copom eleva Selic e indica outra alta em
maio. Qualquer que seja o percentual, os juros ficarão acima de quando inflação atingiu dois dígitos
Os juros continuarão subindo, mas em ritmo
menor. Esse foi o principal recado do Banco
Central ontem, embora não tenha indicado de quanto seria essa nova
alta. O
Copom preferiu se deixar livre para decidir, em 7 de maio, por dois
motivos: no Brasil, os dados são imprecisos; e no exterior, a incerteza é
enorme em função da política comercial do governo Donald Trump. Apesar do
verdadeiro choque de juros que o BC já aplicou no país, nas últimas três
reuniões, a economia continua crescendo. “Ainda que sinais sugiram uma
incipiente moderação no crescimento”, diz o comunicado.
A inflação ficará acima do teto da meta no final do ano. Mas quanto? Ontem, o Ministério da Fazenda divulgou relatório falando em 4,9%. O BC usou os dados do mercado, que coleta através do Boletim Focus, e aponta que as projeções subiram muito: 5,7% para o final de 2025 e 4,5% em 2026.
Tem mais risco de a inflação permanecer alta,
do que chance de ela cair além do previsto. É o que chamam de “assimetria do
balanço de riscos”. Segundo o Copom, os riscos vêm de a inflação de serviços
estar persistente, as expectativas estarem “desancoradas”, e a mistura de
políticas econômicas internas e externas terem impacto inflacionário. A
possibilidade de queda maior da inflação viria, segundo o comunicado, de uma
redução da atividade econômica mais acentuada, ou de um cenário de menos
inflação nas economias emergentes por causa da diminuição do comércio
internacional.
Que a taxa iria para 14,25% era certo e
sabido. Já estava pré-avisado no “forward guidance”, que é como definem essa
informação de tendência dada pelo Banco Central. A grande curiosidade é o que
acontecerá daqui para a frente. O que o Banco Central disse é que “diante do
cenário adverso”, o Comitê de Política Monetária “antevê, em se confirmando o
cenário esperado, um ajuste de menor magnitude na próxima reunião”. O BC deu
essa indicação futura, mas não se comprometeu com taxa alguma.
Qualquer que seja a decisão da próxima
reunião, os juros ficarão acima do nível de quando a inflação atingiu o patamar
de dois dígitos, há dez anos. Os juros básicos da economia subiram de 13,75%
para 14,25% em julho de 2015 e permaneceram nesse patamar até outubro de 2016,
quando começaram a ser lentamente reduzidos. O Copom informa também que a
elevação dos juros ainda não tem data para acabar. “O comitê reforça que a
magnitude total do ciclo de aperto monetário será ditada pelo firme compromisso
de convergência da inflação à meta”.
Nos Estados Unidos, o Fed manteve a taxa de
juros, revisou para cima a projeção da inflação e reduziu de 2,1% para 1,7% a
previsão de crescimento para este ano. O PIB do próximo ano também foi revisto
para baixo. O presidente do banco central norte-americano, Jerome Powell,
explicou que a previsão de inflação subiu por causa das tarifas de importação.
Em outras palavras, a política de Donald Trump já está causando estrago. Mas o
Fed está achando que o impacto é provisório tanto que indicou dois cortes de juros
ainda este ano. Powell atribuiu à incerteza a decisão de manter a taxa de
juros.
No mercado financeiro brasileiro, a dúvida
sobre a dimensão da próxima alta é total. As apostas variam entre alta 0,25,
0,50 ou 0,75 ponto percentual. O fato é que a inflação está sim persistente, e
a economia tem conseguido manter o ritmo de crescimento apesar do aperto
monetário. A inflação altíssima de fevereiro, de 1,3%, foi apenas um episódio.
Não é tendência e vai cair no dado de março, mas ainda assim está
persistentemente acima do teto da meta. O país está desacelerando em alguns
indicadores, e nem poderia ser diferente. Todo mundo prevê menor crescimento
este ano. Só que o PIB do primeiro trimestre deve ser alto, em parte pela
atividade agrícola, revertendo a tendência de desaceleração captada no último
trimestre do ano passado, em que o país cresceu 0,2%. No primeiro trimestre de
2025 pode crescer acima de 1%.
A queda da taxa de câmbio, que tem
acontecido, vai ajudar bastante a redução da inflação que foi muito impactada
pela disparada do dólar do final do ano. Mas ainda não será suficiente para
levá-la de volta aos seus limites. Agora o Banco Central é presidido por Gabriel
Galípolo, indicado pelo presidente Lula.
Não se pode mais culpar “esse cidadão”, como Lula definia Roberto
Campos Neto. Taxa de juros alta nunca será popular, mas muito mais
impopular é a inflação alta.
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