Folha de S. Paulo
Autoridade monetária não dá sinais de que
está mais preocupada com PIB do que com inflação
A praça financeira fazia pressão para que
o Banco
Central não amolecesse. Isto é, não
desse sinal de que a campanha de elevação da Selic teria fim no horizonte
visível. Os "falcões" (a favor da dureza nos juros) ameaçavam
morder o BC "pombo" (mole com a inflação).
Nesta
quarta, o BC foi duro sem perder a ternura, para recorrer de modo irônico
ao clichê. Não houve indício de que está mais preocupado com o ritmo da
economia do que com o controle da inflação. Mas disse que agora vai mais
devagar com o andor.
Segundo o BC, a Selic aumenta mais uma vez na próxima reunião do Copom, em maio. Para junho, não há indicação. No entanto, depreende-se, pela descrição que o BC faz de riscos e outras avaliações de conjuntura, que esta campanha contra a inflação não tem data para acabar.
A ligeiríssima novidade do comunicado em que
o BC divulga a decisão sobre a Selic é a menção a sinais
"incipientes" de desaceleração (o ritmo da economia talvez comece a
seguir o caminho projetado). Logo, é possível ir com mais calma, depois das
três pauladas, três aumentos de 1 ponto percentual. Qual a "ternura"?
O BC parece acreditar que é possível conduzir a política monetária em ritmo
mais normal.
O que é "normal"? Sem modificações
maiores no cenário, alta de 0,75 ponto percentual seria agressiva. Afora
milagre na inflação, 0,25 ponto percentual seria encarado como moleza. Logo,
0,5 ponto parece chute razoável.
Em maio, a Selic iria a 14,75%. Em junho, um
chorinho de 0,25 ponto percentual levaria a taxa básica de juros para os 15%
previstos para o final deste ano pelos povos do mercado.
A inflação vai para a meta ou não vai?
Segundo o BC, nesse cenário, chega a 3,9% ao ano no terceiro trimestre de 2026.
A meta é 3%. O BC endureceu, mas não perdeu a ternura, por assim dizer.
O preço do dólar voltou
a R$ 5,65. Dado o pico do pânico de dezembro, R$ 6,27, parece pouco. Dadas as
expectativas médias da praça financeira, na casa dos R$ 5,90, é um refresco
para a inflação, embora não resolva o problema, até porque marés cambiais viram
rapidinho. No início de 2024, o dólar custava R$ 4,92.
Recentemente, vem se dizendo na praça que os
"robôs", que induzem aplicações em tendências, de alta ou baixa,
mudaram de direção. Hum.
Poderia bem ser que estivesse pingando
dinheiro aqui (inclusive na Bolsa), saído dos EUA ou até de países que disputam
recursos com o Brasil, como o México. Os hermanos mexicanos correm o risco de
tomar um tombaço no PIB, por causa de Donald Trump. Mas o pingo de dinheiro não
aparece em números de fluxo.
Há chutes informados baseados em causa
imediata e mais nebulosa —perspectiva de crescimento menor nos Estados Unidos,
com inflação ainda relativamente comportada, apesar de Trump. Motivos mais
"fundamentais" (termos de troca, diferença entre taxas de juros
brasileiras e americanas) ou a redução de risco relativo do Brasil não mudaram
lá grande coisa.
Em tese, haveria motivos
"domésticos" da valorização do real neste ano, que foi bem maior do
que a de moedas de países comparáveis. Mas onde estão esses motivos, fora o
exagero do pânico de dezembro? Exagero, pois o problema fiscal permanece grave
e assim pensam os donos do dinheiro.
Apesar de dólar mais em conta, as taxas de
juros no atacadão do mercado de dinheiro continuam nos maiores níveis do
século, nível de arrocho.
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