Folha de S. Paulo
Às esquerdas toca avançar no caminho da
equidade num país longe de assegurar igualdade de oportunidades
Entrevistado por Mônica
Bergamo, no domingo (16), o líder do PT na Câmara,
Lindbergh Farias, não poderia ter sido mais claro quanto ao caminho a seguir:
"É mudar de assunto, é entrar na pauta popular. A minha linha agora é que
este ano de 2025 é o ano do Lula. É Lula sendo
Lula. É Lula falando da vida do povo, é o Lula do Pé-de-Meia,
é o Lula do crédito ao trabalhador, que vai beneficiar 40 milhões. É o Lula do
Vale-Gás, é o Lula da isenção do Imposto de
Renda".
A esta altura é impossível avaliar o impacto eleitoral desse conjunto de medidas. O que se pode dizer é que o presidente e seu partido apostam que tais iniciativas —somadas ao crescimento continuado da economia e do emprego— os ajudarão a permanecer no governo federal a partir de janeiro de 2027.
As medidas miram todas o bolso dos pobres
—Vale-Gás e Pé-de-Meia— e remediados —Programa Acredita, de crédito subsidiado
ao trabalhador CLT e mudança no limite de isenção do Imposto de Renda associado
à cobrança sobre altos rendimentos.
Embora não estejam claros os limites que o
compromisso com o bom senso fiscal venha a impor sobre a dimensão de cada
programa, em conjunto apontam no sentido esperado de um partido de esquerda
comprometido com a redução das desigualdades.
Entretanto, mesmo em sintonia com valores
básicos da esquerda democrática, a pauta popular defendida pelo parlamentar —e
que tem alimentado a comunicação do presidente em eventos e nas redes— parece
modesta e convencional perto dos desafios ao campo político das esquerdas. A
elas —e só a elas— toca avançar no caminho da equidade, em um país ainda muito
longe de assegurar oportunidades similares de usufruto de bens e serviços
fundamentais: saúde, educação, segurança e proteção contra desastres ambientais.
O PT e seus governos, nos diversos níveis da
Federação, foram cruciais para promover a agenda da inclusão social, gestada na
transição para a democracia e levada adiante também por partidos democráticos
de centro e centro-direita, como PMDB e PSDB.
A pauta incluiu a tardia universalização da
educação básica e a ampliação do acesso às universidades; a criação do Sistema
Único de Saúde; a reforma da assistência social e os programas de transferência
de renda, como o Bolsa Família;
a criação das regras e instrumentos de proteção ambiental; o reconhecimento da
diversidade étnica, cultural e de gênero da população e o estabelecimento de
políticas para protegê-la e assegurá-la.
Vai sem dizer que as forças que construíram a
democracia e o sistema de proteção social falharam miseravelmente em garantir
segurança à população, dando essa agenda de mão beijada à direita mais rústica.
Hoje o desafio não é mais incluir, porém
reduzir as inequidades e ineficiências existentes em cada área da política
social. As filas do SUS; as escolas
públicas que ensinam mal; as polícias que são ineficientes contra o crime; as
instituições de proteção ambiental que não dão conta do desmatamento ilegal nem
preparam as cidades para as catástrofes naturais —tudo isso é parte da vida do
povo que a agenda do governo mirando a reeleição e apregoada pelo deputado
Lindbergh parece desconhecer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário